Folha de S. Paulo


Disputa ao governo de MS é a mais cara do país

Mato Grosso do Sul tem a campanha a governador mais cara do país –até agora, os candidatos gastaram em média R$ 17 para cada eleitor.

Nas ruas, porém, são pouco visíveis os R$ 31 milhões investidos pelos candidatos, montante acima de Rio e Minas, Estados que têm até oito vezes mais eleitores.

Cavaletes, só em uma ou duas avenidas centrais, como presenciou a Folha nesta semana em Campo Grande e no interior. Também são raros os cabos eleitorais distribuindo santinhos, e quase não se ouve a "trilha sonora" dos jingles nas ruas.

Alan Marques/Folhapress
O governador de MS, André Puccinelli, dá entrevista no Palácio do Planalto
O governador de MS, André Puccinelli, dá entrevista no Palácio do Planalto

Para encarar uma disputa acirrada, a principal estratégia das campanhas tem sido contratar um time de aliados pelo Estado afora, despejando, por exemplo, dinheiro nos candidatos a deputado.

São esses candidatos que organizam comícios pelo interior, fazem panfletagem, conversam com prefeitos e, claro, pedem votos.

Os poucos cavaletes nas ruas quase sempre são deles. Junto com o folheto do deputado vai o do governador.

Esse investimento na máquina eleitoral já consumiu um terço dos recursos dos candidatos ao governo –ou cerca de R$ 11 milhões. É o maior tipo de gasto até aqui, superando inclusive as despesas com programas de TV, que somam R$ 4,6 milhões.

Um dos candidatos fez doações a 171 aliados. Houve um deputado que recebeu R$ 400 mil de uma só vez.

É uma máquina feita para enfrentar outra. "Aqui se faz política fazendo conta. Comprando apoio. É assim", diz um ex-deputado local que pediu anonimato à Folha.

CULTURA DO REPASSE

A disputa, uma das mais acirradas no Estado dos últimos anos, tem como protagonistas o senador Delcídio Amaral (PT), o fazendeiro Reinaldo Azambuja (PSDB) e o ex-prefeito da capital Nelsinho Trad (PMDB), do mesmo partido do atual governador, André Puccinelli.

O petista aparece em primeiro lugar nas pesquisas e faz uma campanha ao estilo "paz e amor". Os outros dois, hoje, disputam vaga no segundo turno.

As receitas variam de acordo com o perfil do candidato.

Delcídio concentra o dinheiro do setor industrial e de construtoras. Azambuja, dos produtores rurais. Já Trad tem a base das doações de empresas locais ou que tenham relações com o Estado, como o frigorífico JBS.

Em Mato Grosso do Sul, chama a atenção o volume dessas doações para candidatos aliados e o fato de isso ser feito diretamente, de político para político –e não por meio de partidos.

Para professores, políticos e financiadores ouvidos pela Folha, o estilo Puccinelli ajuda a explicar o fenômeno.

Há oito anos como governador, hoje a principal força política do Estado, o italiano naturalizado brasileiro é conhecido como "o chefe".

Foi ele quem inaugurou a prática de grandes doações a aliados, nas eleições de 2006, quando gastou metade dos seus R$ 7 milhões nisso. Na campanha à reeleição, doou outros R$ 10 milhões.

RÉDEA CURTA

Em Mato Grosso do Sul, a rédea é curta. Os candidatos fiscalizam com lupa as propagandas dos aliados. "Vem fiscal toda semana", conta o assessor de um deputado petista. "É do jogo."

Notícias de traições –candidatos que omitem os aliados ou que apoiam adversários– são tratadas como alerta máximo nas campanhas, que imediatamente mandam gente para checar os casos.

No interior, os candidatos fazem dobradinha com prefeitos, que mobilizam a população e, principalmente, seus funcionários.

Num evento de Azambuja em Ribas do Rio Pardo, cidade de 20 mil habitantes, um servidor municipal confidenciou à Folha: "Estou aqui pra puxar o saco do patrão".

Ele tinha um adesivo do tucano colado à camisa polo, mas não declarava o voto.

Mesmo com toda a estrutura, mobilizar a população é difícil. Quase não se vê carros adesivados. "O panfleto é bem recebido, o adesivo não. Ninguém quer manifestar apoio", avalia o coordenador da campanha de Nelsinho, Rodrigo Aquino. "Mas isso é nacional. Não é daqui."


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