A contadora Meire Poza, que trabalhou para o doleiro Alberto Youssef, disse em depoimento à Justiça nesta sexta-feira (19) que os contratos que as empreiteiras assinaram com a GFD Investimentos eram falsos, já que essa empresa não tinha funcionários para prestar as consultorias pelas quais era contratada.
A GFD era uma das empresas controladas pelo doleiro.
Num dos casos extremos, segundo a contadora, a própria empreiteira, a Engevix, mandou o contrato pronto para GFD –o que indica que a empresa sabia que a consultoria era apenas um fachada legal para o repasse de recursos.
A Justiça federal já aceitou denúncia do Ministério Público Federal, segundo a qual os valores pagos a empresas de fachada do doleiro são recursos para pagamento de suborno. Todas as empresas que fizeram pagamentos a Youssef são fornecedoras da Petrobras.
Youssef foi preso em 17 de março pela Operação Lava Jato, sob acusação de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou R$ 10 bilhões.
ATÉ PLATAFORMAS
A contadora disse ter ficado impressionada com um contrato assinado com a Mendes Junior por causa do objeto de consultoria –plataformas de petróleo–, assunto sobre o qual o doleiro não entende.
A contadora diz que soube desses episódios porque cuidava da contabilidade e redigia os contratos da GFD.
No primeiro contrato, com a Mendes Junior, houve um certo cuidado na formulação do texto, segundo ela. Depois isso foi abandonado.
"A partir do momento que eu entendi qual era o real objetivo do contrato, a gente só copiava e colava e não prestava mais atenção na emissão do contrato".
Ela citou outras duas empresas que contrataram a GFD: a Sanko Sider e a Paranasa. A Sanko é a maior fornecedora de tubos da Petrobras e assinou contratos de mais de R$ 25 milhões com empresas de Youssef.
A Sanko nega a suspeita. Diz que pagou o doleiro porque ele intermediou a venda de tubos para empreiteiras.
A Mendes Junior afirma em nota que todos os seus contratos seguem as normas legais. Procurada pela Folha, a Engevix não quis comentar a acusação da contadora. A reportagem não conseguiu localizar a assessoria da Paranasa.
O advogado de Youssef, Antonio Augusto Figueiredo Basto, acusou a contadora de ter vendido uma casa de câmbio do doleiro após a prisão dele. Ela disse que fez isso porque Youssef lhe devia mais de R$ 300 mil quando foi preso.