Folha de S. Paulo


Com mudança de metodologia, números da fome melhoram no Brasil

O Brasil tem 1,7% da sua população com um consumo diário abaixo de 2,2 mil calorias, o que corresponde a um total de 3,4 milhões de brasileiros.

O percentual coloca o país entre as nações que superaram o problema da fome, segundo análise feita pela FAO (agência da ONU para agricultura e alimentação) nesta terça-feira (16). Os dados estão no mais recente relatório de insegurança alimentar no mundo, elaborado anualmente.

Os números divulgados hoje são baseados em nova metodologia da FAO, que passou a considerar a alimentação fora de casa na radiografia da segurança alimentar do país. Com isso, a distribuição de refeições em restaurantes populares e, principalmente, a de merenda escolar (para um universo de 43 milhões de crianças e jovens) foi incorporada à análise da agência.

Assim, se no relatório do ano passado o Brasil tinha 7% da população passando fome, com a revisão de metodologia o percentual passa a 1,8%, próximo do estudo deste ano. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, entre 2005 e 2006 o Brasil já passou a figurar entre os países que superaram o problema da fome - isso acontece quando menos de 5% da população passa fome.

FOME ZERO

Estatísticas do estudo mostram que o Brasil reduziu em 75% o número de pessoas em situação de extrema pobreza entre 2001 e 2012 (de 14% para 3,5% da população). No mesmo período, a população considerada pobre caiu de 24,3% para 8,4% do total.

Em coletiva de imprensa, a ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social) comemorou o resultado. "É uma vitória o Brasil sair do mapa da fome e é um orgulho muito grande poder ser referenciado no relatório pelas estratégias para superar a fome"

"Não tem mágica: tem que ter decisão política e a questão da pobreza e da fome têm que estar no centro da meta do orçamento. (...) Temos agora que partir para estratégias muito mais focalizadas. A nossa lupa agora tem que ser maior, o nosso trabalho tem que ser mais específico", completou.

O braço das Nações Unidas elogia o efeito de diversas políticas adotadas pelo Brasil no combate à fome - desde a construção de cisternas ao programa Bolsa Família - e citam o Fome Zero como "o primeiro passo" em transformar o combate à fome numa ação do governo.

"O Fome Zero (...) introduziu uma nova abordagem que colocou a segurança alimentar e nutricional e a inclusão social no centro da agenda do governo", afirma trecho do relatório.

O programa, no entanto, foi substituído ao longo dos anos pela principal política social do governo petista, o Bolsa Família. Lançado com a ideia de distribuição de cupons aos pobres para troca por alimentos, o Fome Zero se transformou numa marca ampla para a estratégia de segurança alimentar.

O mentor do Fome Zero, José Graziano, é o atual diretor-geral da FAO, eleito para o cargo em 2011.


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