Folha de S. Paulo


'Eleição demanda sangue frio, e eu tenho', diz Padilha

Principal aposta do ex-presidente Lula para as disputas estaduais, o candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, atribui seu mau desempenho nas pesquisas a "maior aversão [do eleitor] à política". Outra causa do desgaste é, em sua opinião, a "violência com que se tentou enquadrar o PT como partido da corrupção" durante o julgamento do mensalão.

Padilha, que completa 43 anos neste domingo (14), promete uma "grande reviravolta" nessa reta final de campanha. Até lá, o terceiro colocado nas pesquisas tentará atrair o tradicional eleitorado petista com a exaltação dos 12 anos do partido à frente do Palácio do Planalto.

Estreante em eleições, ele deixa claro que, se não for vitoriosa, sua candidatura servirá ao menos para a defesa do legado de Lula e Dilma, que enfrenta alta rejeição no Estado.

"Temos grande responsabilidade de mostrar o que o PT fez e como instituiu a forma de apuração de irregularidades [...] É o PSDB que não evita a corrupção", ataca o candidato.

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Folha - Em São Paulo, o PT tradicionalmente reúne um piso superior a 20% das intenções de voto. O senhor tem 9%. Qual é o problema?
Alexandre Padilha - É o desconhecimento da nossa candidatura. Tem uma diferença dessa eleição em relação a outras. Há vários motivos para isso. Um deles é que existe uma aversão maior da população à política. Quem faz política como eu, para buscar melhorar a vida das pessoas, tem que estar atento a isso: temos que ter muita energia, vitalidade e muita presença junto à população para conversar com esse eleitor que está avesso à política.

Existe uma aversão maior à política. Além disso, essa eleição vai ser decidida na reta final. Teve a Copa, teve o momento de comoção que foi o óbito de um grande amigo, o ex-governador Eduardo Campos.

A que atribui essa aversão?
Temos que assumir a responsabilidade de fazer uma reforma política para a população se sentir mais próxima da decisão política. É preciso reforçar mecanismos de transparência e participação para que se reconquiste segmentos da população. Mecanismos ágeis de participação da juventude. Sou usuário permanente da internet. Tem um tempo que a gente se acostumou a ter pela internet que não é o tempo de resposta dos governos.

Quem assume responsabilidade na gestão pública tem que saber que é preciso impor ao ritmo da máquina pública um tempo de resposta muito menor, maior do que é o dia a dia hoje do Estado de são Paulo. Quem não tiver consciência, quem ficou surdo a tantas manifestações no ano passado e a esse sentimento hoje da população vai ser ultrapassado na política. Sou político da nova geração e estou com os ouvidos e olhos bastante abertos à essa manifestação da população e tendo clareza que a gente precisa priorizar uma reforma política.

O processo do mensalão é um dos ingredientes que respingaram na sua candidatura?
Não digo o processo, mas a violência com que se tentou enquadrar o PT como partido da corrupção, logicamente, é um dos fatores disso. Fizeram uma violência contra o PT. Estamos aproveitando o momento da eleição para fazer esse embate com a sociedade, para mostrar que o PT estabeleceu uma era onde as coisas são apuradas e não se coloca a corrupção para debaixo do tapete. Onde alguém que foi nominado numa investigação não ganha um prêmio como ser conselheiro do tribunal de contas do Estado como é o caso do Robson Marinho [acusado de ajudar a Alstom a obter contrato com a gestão do tucano Mário Covas no Estado].

Vamos lembrar que o governador Geraldo Alckmin [PSDB] indicou para presidente do metrô alguém que foi nominado no escândalo de corrupção do metrô e nove dias depois teve que retirar essa pessoa. Temos grande responsabilidade de mostrar o que o PT fez, o legado do PT e como o PT instituiu a forma de apuração de irregularidades que o PSDB não acompanhou.

O PT não reagiu de forma violenta ao julgamento?
Não foi só o PT que fez manifestação de apoio. Houve artistas, juristas, representantes mais variados da sociedade que saíram em apoio às pessoas. Nunca questiono ou vou questionar a decisão de outro poder. O que falo é de uma violência que se fez com o PT, mas não é a decisão institucional. Falo da forma como se tratou o PT, de falar que todo petista tem alguma relação com corrupção, que existe no país há anos e que só o PT teve coragem de tirar debaixo do tapete. É O PSDB que não evita a corrupção.

O sr. disse que Alckmin é a expressão do conservadorismo. O eleitor é conservador?
O eleitor está tendo oportunidade de conhecer o mundo real e não o do Alckmin ilusionista. Do outro lado, é alguém que só representou os mais ricos tentando algo falso, buscar uma aproximação com os mais pobres. Nas últimas três semanas, as pessoas estão mais atentas, começam a conhecer mais a [minha] associação com Dilma.

Dilma tem alta rejeição. Essa associação é benéfica?
Eu me associo à presidente Dilma e deixo claramente, publicamente, minha posição de que voto na presidente. Diferente dos outros candidatos: você tem um candidato [Alckmin] que diz que tem dois candidatos a presidente e um que diz que não tem candidatos a presidente [Paulo Skaf, PMDB]. Eu assumo as minhas posições, de votar na Dilma, defender o legado dos governos Lula e Dilma. Nessas três ultimas semanas, eu sei da minha responsabilidade de defender o legado do que o PT mudou na vida das pessoas inclusive no Estado de são Paulo. É isso que nos dá autoridade para pedir ao povo paulista a oportunidade de governar o Estado.

Por que a rejeição ao PT é tão alta em São Paulo?
Quando chega na eleição é que a gente tem a oportunidade de debater as questões reais e mostrar o que o PT fez pelo Estado não só pelo governo, mas suas prefeituras. Temos uma grande oportunidade para uma postura ativa, de defender nossas posições, conversar com a população, discutir problemas, mostrar a corrupção. O PSDB não tem autoridade para falar o que fala do PT sobre corrupção na máquina pública. O escândalo do metrô e a indicação do Robson Marinho são exemplo disso.

Mas o senhor não tratou das denúncias na TV.
No primeiro programa do PT, mostrávamos isso. Mas quero priorizar o debate dos problemas. No debate sobre ética, eu que coloquei o dedo na ferida e toda vez que o PSDB vier vamos colocar as cartas na mesa. Quem indiciou o Robson Marinho para o tribunal foi o PSDB não fui eu, foi o PSDB. Quem desrespeitou a decisão da comunidade universitária da USP e indicou outro nome, colocando a USP na maior crise financeira, foi o PSDB.

A suspeita de envolvimento do deputado estadual Luiz Moura, que acabou expulso do PT, com o PCC atrapalhou seu discurso?
É um tema superado. E a postura que eu defendi dentro do PT foi uma ação rápida de suspensão. É a maior demonstração de que o PT será implacável com qualquer pessoa que se aproxime de qualquer facção criminosa. Eu exijo isso do PT e vou estabelecer isso no meu governo.

SKAF

Dizem que a candidatura de Paulo Skaf (PMDB) foi patrocinada pelo governo federal.
Quem diz isso quer gerar boatos, fofoca. Nunca estivemos tão unidos. E essa união vai se revelar nessa reta final com a forte presença do PT nas ruas. O espaço do PT já ocupamos e, na reta final, vamos avançar no eleitorado do Alckmin. A direção do PT, militantes, prefeitos, perceberam a importância de defender seu legado, para que o Brasil possa dar um passo à frente e não retroceda. Não tenho nada contra a pessoa da Marina Silva [presidenciável do PSB]. Mas, como governador, não quero o programa que ela quer aplicar para o país. É totalmente nociva a proposta de esvaziar a participação dos bancos públicos.

Mas o senhor perdeu eleitores do PT para Skaf.
O nosso espaço do PT é ocupado totalmente por mim. Até a eleição você vai ver que vamos estar na frente.

Após a bronca de Lula cobrando reação do PT, acabou a fase do Padilha "paz e amor"?
Tem um calor na campanha agora. Na medida em que começaram os programas eleitorais, fiquei indignado. De um lado o atual governador mostrando o mundo da fantasia. No mundo da propaganda dele não aparece o metrô lotado, o trem da CPTM parando, os líderes de facções tomando conta das penitenciárias, nem as promessas de implantar o ponto a ponto dos pedágios do interior, não completado até agora.

Quando a gente cutuca a ferida mostrando a proposta do Bilhete Único Metropolitano que vai dar 25% de desconto, ele sai correndo para inventar uma promoção eleitoral do Cartão Bom. Do outro lado, alguém que só representou os mais ricos tentando fazer um rolê pela periferia, tentando algo falso de buscar uma aproximação com os mais pobres. Tão falso como essa proposta de Secretaria do Povo. Alguém que precisa ter um intermediário entre o povo e ele não gosta do povo.

Ele disse que se inspirou no Fleury [ex-governador Luiz Antônio Fleury], e a gente sabe como funcionou o governo Fleury em relação ao povo: reprimiu professores, passou para história pelo Carandiru e foi inspiração na Fiesp –porque até chegar ao gabinete passa por uma série de intermediários.

Esta é a primeira vez, em anos, que o PT corre o risco de ficar em terceiro em São Paulo.
Estou muito tranquilo. Em eleição tem que ter sangue frio, e eu tenho. Já demonstrei quando era ministro da coordenação política do governo do presidente Lula e nos três anos na Saúde de Dilma.

Essa reta final está angustiante?
Para mim, não.

Faria algo diferente?
Não. Fizemos tudo no tempo correto. Campanha, ela é de uma velocidade que você tem que ir avaliando e, de acordo com o calor, você afirma seu posicionamento.

HADDAD

A baixa popularidade do prefeito Fernando Haddad prejudica sua campanha?
Você não pode escolher as situações. Me perguntaram muitas vezes qual posição ele teria em minha campanha. Falei: a posição de quem acabou aprovação automática no município de São Paulo e que quero acabar no Estado. Posição de quem montou a Corregedoria para enfrentar a máfia do ISS que estava instalada na prefeitura. A posição de quem teve coragem em relação à cracolândia.

A lógica das circunstâncias também vale para a presidente Dilma?
Tenho orgulho de ter sido ministro da presidente Dilma. Sou candidato por tudo que acumulei de experiência em sete anos no ministério da coordenação do presidente Lula e três anos na Saúde do governo Dilma. Tenho muito orgulho de participar do governo dela, e a Dilma vai ganhar pelos acertos do governo dela e da pessoa dela.

A campanha pode escrever uma carta ao paulista, reforçando seus compromissos?
Temos um programa que sustenta isso. O nosso trabalho é ocupar o espaço de quem sofre com o descaso do PSDB, do não investimento dos 50% em moradia, do metrô mais lotado do mundo, da desvalorização do salário dos professores, da queda dos indicadores de educação. O último bastião de defesa do governador sobre o índice de educação era a meta do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], mas até o Ideb não só não atingiu a meta, como caiu.

O senhor é contra bônus para professores de acordo com o rendimento dos estudantes?
Sou favorável a ter políticas de estímulo. Várias prefeituras do PT adotam [incentivos] em relação a educação, ao conjunto da escola. Recursos diretos para escola. O que precisa ser revisto não é uma política de remuneração para escola, o que precisa ser melhor revisto é como isso tem sido aplicado porque não mostrou resultado. Você tem 85% da rede recebendo bônus e o Ideb piorou. Algo está errado na política educacional do PSDB. Vamos acabar com a aprovação automática.

Em seu eventual governo, espera trégua do sindicato dos professores e dos movimentos sociais governo?
Eu vou ter muito diálogo e comando sobre isso. Falavam a mesma coisa sobre Lula que, quando ele assumisse ia ser uma profusão de greves. O PT já dissipou qualquer tipo de preconceito com relação a isso.

O PT é um dos principais críticos da ação da polícia. Teme alguma resistência?
O PT já superou isso [resistência da Polícia]. E minha proposta para segurança compreende um salto de qualidade na organização das polícias. Vamos criar um a força paulista de segurança que, na prática, integra o trabalho conjunto das polícias. Hoje você tem várias polícias, cada uma atirando para um lado. A nossa proposta significa integrar o comando, ações de forma integrada, parcerias com os municípios.

Como vai custear a promessa de desconto de 25% para a integração no transporte entre as regiões metropolitanas?
Acabando com a corrupção no trem e no metrô. O convívio do PSDB com a corrupção fez com que o metrô tenha resultados pífios de menos de dois quilômetros por ano nas gestões do PSDB. O metrô completa 40 anos e o PSDB foi incapaz de levar o metrô além dos limites da capital porque conviveu com o esquema de corrupção. A maior prova desse convívio foi ter indicado para o Tribunal de Contas do Estado gente envolvida no escândalo. Os recursos saem para estruturar o governo do Estado para se impedir esquemas de corrupção e das parcerias com o governo federal.

O senhor crítica o uso político da crise da água pelo governador.
O que eu critico é que o governador desde dezembro cortou a água de Campinas, em fevereiro cortou água de Guarulhos. A cada mês as declarações do governador sobre a crise são desmontadas e desmentidas sobre os próprios fatos. A última foi nessa semana quando a ONU declarou São Pedro inocente e deixou claro que o problema é de gestão. Se pegarem as declarações, é uma contradição atrás da outra. Em dezembro, disse que não ia cortar água de Campinas, duas semanas depois cortou, depois, em fevereiro, em Guarulhos disse que não tem corte de água, depois mandaram e-mail cortando. Depois falou que não falta água em São Paulo e está explicito na opinião da própria população que registrou vento noturno encanado. A cada vez ele vai falando em volume morto e a gente está o vendo matar o Cantareira.


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