Folha de S. Paulo


Candidata ao governo do RS trabalhou em gabinete do marido no Senado

A senadora e candidata ao governo do Rio Grande do Sul, Ana Amélia Lemos (PP), atuou como assessora do marido, o senador Octávio Omar Cardoso, em 1986, enquanto exercia o cargo de chefia numa empresa de comunicação.

O Cargo em Comissão, conhecido como CC, foi assumido no Congresso enquanto ela também exercia o cargo de diretora da sucursal do grupo RBS, em Brasília, onde atuou como jornalista até ser eleita senadora, em 2010.

Cardoso era um "senador biônico", como são chamados os parlamentares que não foram eleitos, mas nomeados durante a ditadura militar.

A portaria nº 256, de 9 de junho de 1986, designava Ana Amélia como comissionada e foi assinada pelo então primeiro-secretário do Senado, senador Enéas Faria.

Segundo a portaria revelada pelo site "Sul21", de Porto Alegre, Ana Amélia foi nomeada "para exercer a função de secretária parlamentar, do gabinete do vice-líder do Partido Democrático Social, senador Octávio Cardoso, a partir de 1º de abril do corrente ano".

Edu Andrade -26.mai.2014/Folhapress
Candidata ao governo do RS, Ana Amelia Lemos (PP) admitiu
Candidata ao governo do RS, Ana Amelia Lemos (PP) admitiu "erro de quase 30 anos passado"

De acordo com o site, o cargo previa apoio administrativo ao gabinete, "preparar e expedir sua correspondência, atender as partes que solicitam audiência, executar trabalhos datilográficos, realizar pesquisas, acompanhar junto às repartições públicas assuntos de interesse do parlamentar e desempenhar outras atividades peculiares à função".

O salário para a função era de cerca de R$ 9.000, em valores atualizados.

No período em que foi comissionada do marido, uma das atribuições de Ana Amélia no seu outro emprego, no Grupo RBS, era assinar uma coluna no jornal "Zero Hora". Ela também trabalhou como repórter no jornal e na RBS TV, Canal Rural e Rádio Gaúcha, veículos do mesmo grupo.

Ana Amélia se mudou para Brasília em 1976 para trabalhar como jornalista na sucursal da RBS e foi promovida à diretora em 1982.

OUTRO LADO

Procurada pela Folha, a senadora não atendeu as ligações. Segundo a assessoria da campanha, ela estava em campanha nas cidades de Rosário e Alegrete.

Por meio de nota enviada ao jornal, Ana Amélia afirmou que "alguns partidos se especializaram em tentar destruir reputações". "Vasculham minha vida e o que encontram? Trabalho!", disse em nota.

A senadora alega que seu trabalho consistia em "pautas e clipagens" que não eram incompatíveis com o trabalho de jornalista na RBS.

No texto, Ana Amélia afirma que a Lei de Nepotismo é de 1988, o que não a impedia de trabalhar como comissionada em 1986. "O fato de ter ocupado esse cargo não me proíbe, hoje, de criticar os abusos nessas contratações!", afirmou.

O presidente do Partido Progressista (PP) no Rio Grande do Sul e um dos coordenadores da campanha de Ana Amélia, Celso Bernardi, disse que, à época da nomeação, "não tinha nepotismo".

Bernardi disse também que Ana Amélia apenas se casou com o senador em 1990 e, portanto, era solteira na época.

"É muito natural. Na época era muito comum se um jornalista fosse a Brasília prestar serviço como assessor", disse Bernardi.


Endereço da página:

Links no texto: