Folha de S. Paulo


Cerveró diz à CPI que não teme delação de ex-diretor sobre Petrobras

O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró disse nesta quarta-feira (10), em depoimento à CPI Mista que investiga a estatal, que não teme a delação premiada do ex-diretor Paulo Roberto Costa porque não tem envolvimento em eventuais irregularidades denunciadas pelo ex-servidor. Cerveró disse que não há nenhuma relação da compra da refinaria de Pasadena, na qual foi apontado como responsável pelos prejuízos na negociação, com as denúncias do ex-diretor.

"Eu não tenho porque ficar preocupado com delação do Paulo porque em Pasadena não há essa questão [denúncias]. Parte-se de uma premissa equivocada, que Pasadena causou prejuízos à Petrobras que não causou. Está dando lucro", afirmou.

No depoimento, o ex-diretor disse que "desconhece" desvios de recursos na compra de Pasadena e no esquema de corrupção denunciado por Paulo Roberto. "Não conheço nenhuma organização criminosa na Petrobras. (...) Eu desconheço qualquer tipo [de desvio de recursos]", afirmou.

Cerveró disse que Paulo Roberto é um profissional de "muitos anos de casa", na Petrobras, e não tem conhecimento se ele seria um dos operadores de desvios e lavagem de dinheiro.

A CPI convocou o ex-diretor para explicar a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), pela estatal. O TCU (Tribunal de Contas da União) apontou prejuízos na negociação, mas Cerveró contesta os dados do tribunal. O ex-diretor foi apontado pela presidente Dilma Rousseff, que na época da compra presidia o Conselho Administrativo da Petrobras, como responsável pelo "parecer falho" que serviu de base para a aquisição da refinaria.

No depoimento à CPI, Cerveró admitiu que recebeu media training pago pela estatal antes de falar à comissão de inquérito. Mesmo afastado da Petrobras desde março deste ano, o ex-diretor disse que a empresa paga um treinamento inclusive para os ex-servidores que falam às comissões do Congresso.

"Fui convidado pela Petrobras para fazer um media training de comportamento de argumentação sobre pressão. É uma equipe de profissionais que simula as condições de apreensão. Eu fiz media training, nunca neguei isso", afirmou.

O ex-diretor negou, porém, que tenha recebido antecipadamente as perguntas do relator da CPI mista, deputado Marco Maia (PT-RS), ou do relator da CPI da Petrobras do Senado, José Pimentel (PT-CE), onde falou em maio deste ano.

Cerveró disse estar previsto no estatuto da empresa o pagamento do "treinamento" aos ex-diretores. "Esse media training se limita a isso, um treinamento. Eu não tenho a experiência que os senhores tem de ficar aqui durante horas. Ninguém me chamou de volta [à empresa], isso foi um convite. Isso foi feito pelo pessoal do treinamento. A Petrobras tem um contrato desse tipo. Eu sou ex-diretor. O ex-diretor tem direito a pagamento de defesa, de seguro."

Questionado pela oposição, Cerveró disse não ter conhecimento se Paulo Roberto tem sua defesa paga pela estatal, já que também é ex-diretor da Petrobras.

Em agosto, reportagem da "Veja" desta semana mostrou que representantes da Petrobras que foram à CPI receberam previamente as perguntas que seriam feitas e as respostas que deveriam ser dadas. Entre eles, de acordo com a revista, estariam a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, seu antecessor, José Sérgio Gabrielli, além de Cerveró, ex-diretor internacional.

APARTAMENTO

À CPI, Cerveró também negou irregularidades no apartamento que morava no Rio de Janeiro, no bairro de Ipanema, até três meses atrás. Segundo a revista Veja, o imóvel está avaliado em R$ 7,5 milhões e pertence a uma empresa offshore com sede no Uruguai.

"Meu relacionamento era de locação. O que a empresa fazia, eu não sei", afirmou.

Cerveró disse que pagava cerca de R$ 8 mil por mês de aluguel, valor contestado pela oposição. O deputado Fernando Francischini (SDD-PR) disse que o valor de mercado do aluguel do imóvel é de R$ 20 mil.

"Sua cabeça vai ser entregue numa bandeja. O senhor deveria fazer delação premiada. A proximidade do senhor com o senhor Marcelo Melo [da offshore] o bota no cenário de imóvel de milhões de Reais", atacou o deputado.

A oposição também protestou contra o fato de Cerveró consultar seu advogado durante o depoimento, sentado ao seu lado na sala da comissão de inquérito. Apesar de negar estar sendo orientado pelo advogado, Cerveró acatou a determinação do presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), que proibiu conversas entre os dois durante a sessão da comissão.


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