Folha de S. Paulo


Dilma diz que Marina quer governar com banqueiros

A presidente Dilma Rousseff ampliou nesta terça-feira (9) os ataques à sua principal rival na corrida presidencial, a ex-senadora Marina Silva (PSB), acusando-a de querer "entregar aos banqueiros" a condução da política econômica se for eleita.

Num comercial de 30 segundos veiculado na televisão (assista abaixo), a campanha petista atacou a proposta de Marina de garantir em lei a autonomia do Banco Central para combater a inflação, dando mandatos fixos a seus dirigentes.

"Ou seja, os bancos assumem um poder que é do presidente e do Congresso, eleitos pelo povo. Você quer dar a eles esse poder?", pergunta o locutor do comercial, que a seguir mostra uma família que fica sem ter o que comer.

Editoria de arte/Folhapress

Criado pelo marqueteiro João Santana, o comercial faz parte da estratégia adotada pela campanha de Dilma para desconstruir a imagem de sua adversária, lançando dúvidas sobre seu programa e sua capacidade de governar.

Embora o comercial contradiga a prática dos petistas –o BC foi presidido por um ex-banqueiro, Henrique Meirelles, durante os oito anos do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva–, a peça publicitária foi considerada eficaz após ser testada por pesquisas.

Marina reagiu em Betim (MG), falando para cerca de 200 pessoas numa praça. "Nunca os banqueiros ganharam tanto como no seu governo", disse. "Agora, eles que fizeram o bolsa empresário, o bolsa banqueiro, a bolsa juros altos estão querendo nos acusar de forma injusta em seus programas eleitorais."

Em São Paulo, a presidente contra-atacou poucas horas depois. "Não adianta querer falar que eu fiz bolsa banqueiro", afirmou. "Eu não tenho banqueiro me apoiando. Eu não tenho banqueiro, você entende, me sustentando."

Com esse comentário, a presidente fez uma referência indireta à educadora Maria Alice Setubal, a Neca, que é herdeira do banco Itaú, coordena o programa de governo de Marina e é uma de suas principais interlocutoras com o meio empresarial.

Como a Folha informou no domingo (7), Neca doou em 2013 cerca de R$ 1 milhão ao instituto que Marina criou para desenvolver projetos na área de sustentabilidade.

A presidente Dilma tem usado seus programas eleitorais na TV e entrevistas para atacar outros pontos da plataforma de Marina. No sábado, ela acusou a adversária de "abandonar" a riqueza do petróleo do pré-sal ao dar pouca ênfase à sua exploração em seu programa de governo.

A campanha de Dilma também comparou Marina com dois ex-presidentes que fracassaram ao chegar ao poder por não conseguir apoio no Congresso Nacional –Jânio Quadros, que renunciou em 1961, e Fernando Collor, que sofreu impeachment em 1992.

O comercial que fez a comparação na semana passada teve efeito positivo para Dilma, segundo avaliação interna da campanha petista, pois começou a reduzir a distância entre ela e Marina em simulações de segundo turno.

O anúncio desta terça-feira teve como objetivo principal atingir eleitores de média ou baixa renda que teriam grande antipatia pelos bancos.

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DESCONFORTO

Apesar de ser útil eleitoralmente, a propaganda produziu desconforto na equipe econômica do governo. Assessores disseram à Folha que a peça publicitária reforça a imagem de que, com Dilma, o Banco Central ficou totalmente subordinado aos desejos do Palácio do Planalto.

Um auxiliar lembrou que, enquanto o discurso oficial é que o BC tem liberdade para tomar as medidas necessárias para conter a inflação, todos os sinais do governo vão no sentido contrário, o que é praticamente confirmado pela propaganda da campanha.

Na avaliação desses auxiliares, a mensagem da propaganda petista dificulta o trabalho do Banco Central de recuperar sua credibilidade no mercado financeiro, sempre questionada pelas investidas do Palácio do Planalto e do Ministério da Fazenda na área.

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ARRECADAÇÃO

A campanha à reeleição de Dilma Rousseff recebeu R$ 9,5 milhões em doações de bancos e empresas ligadas a eles, até o final de agosto, de acordo com a segunda declaração parcial apresentada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O valor representa 7,7% de tudo o que foi captado (R$ 123,6 milhões). Sexto maior banco do país em ativos, o BTG Pactual doou R$ 3,25 milhões. Duas empresas do grupo doaram mais R$ 3,25 milhões.

Dos R$ 22,2 milhões declarados pela campanha de Marina Silva (PSB) até agora, R$ 4,5 milhões (20,3%) foram doados por bancos e financeiras.

A maior parcela veio do Itaú Unibanco: R$ 2 milhões, em 5 de agosto. Neca Setubal, herdeira do banco, coordena o programa de governo do PSB.


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