Folha de S. Paulo


Marina não leu programa de governo ou não aprendeu com o PT, diz Lula

Em meio a uma bronca pública para cobrar uma reação do PT em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu na noite desta sexta-feira (5) o embate com a presidenciável Marina Silva (PSB), sua ex-ministra do Meio Ambiente que virou a principal adversária da presidente Dilma Rousseff na briga pelo Planalto.

Após uma série de alfinetadas públicas, Lula citou nominalmente Marina e disse que ainda está destrinchando o programa de governo da "companheira". Agora, a nova estratégia petista é ligar Marina com as privatizações, que sempre marcaram embate do partido com o PSDB em disputas eleitorais, e a um projeto "antipopular".

Para uma plateia de militantes, o ex-presidente atacou as propostas econômicas da candidata do PSB, em especial a autonomia do Banco Central, que ele classificou de "papagaiada".

Marlene Bergamo/Folhapress
O senador Eduardo Suplicy (à esq.), Lula e Padilha durante encontro com petistas em SP
O senador Eduardo Suplicy (à esq.), Lula e Padilha durante encontro com petistas em SP

Ele afirmou ainda que a ideia da adversária de deixar o pré-sal em segundo plano foi um recuo da parte para fazer um aceno ao agronegócio, que sempre demonstrou resistência a seu nome.

"Estou destrinchando o programa da Marina porque eu não vou ter divergência pessoal com a Marina. Agora, governar esse país, não é um clube de amigos. É saber com que a pessoa está, para quem a pessoa vai governar", afirmou o petista.

"Sinceramente, não sei se a companheira Marina leu o programa que fizeram para ela. Se ela leu, não aprendeu nada nas discussões que fizemos quando ela estava no governo", completou.

O comando do partido se reuniu antes do evento de Lula para avaliar o novo cenário eleitoral que mostra o empate técnico entre Dilma e Marina. A cúpula do PT fez um documento reforçando os ataques à Marina, classificando suas propostas de ortodoxas.

O presidente da legenda, Rui Falcão, disse que o projeto dela tem propostas radicais e é "antipopular, antinacional, ortodoxo do ponto de vista econômico, conservador do ponto de vista dos diretos humanos, regressivo na reforma política e que prejudica o trabalhador". "Não dou cheque em branco para o banco Itaú", afirmou o petista em referência ao apoio da instituição à adversária.

O prefeito Fernando Haddad também lançou provocações apontando que no PT nenhum banqueiro ajuda a produzir o programa de governo.

Mesmo com as falas, os petistas disseram que não tentarão atacar Marina pessoalmente, mas desconstruir suas propostas. Líderes dos partidos se esforçaram para negar que a estratégia reedite a tática do medo. Setores da sigla criticaram a decisão de exibir uma propaganda a comparando com Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello, presidentes que não concluíram o mandato.

No discurso para os militantes, Lula ironizou o presidenciável Aécio Neves (PSDB). Ele disse que numa entrevista recente o tucano só repetia a palavra previsibilidade e que não foi eficiente para prever que sua campanha iria se desidratar.

Para empolgar a militância, petistas tentaram lançar a reeleição de Dilma como a consolidação da volta do Lula ao Palácio do Planalto em 2018. "É o caminho mais fácil para a volta de Lula", disparou o presidente do PT paulista, Emidio de Souza".

REAÇÃO

Numa fala de mais de uma hora, Lula distribuiu cobranças aos petistas de São Paulo pelo desempenho da campanha de Dilma e do candidato ao governo do Estado Alexandre Padilha.

Lula disse que é inacreditável que Dilma esteja perdendo para Marina e que Padilha tenha menos votos do que o partido tradicionalmente alcança no Estado. Ele disse estranhar que o PT demorou a reagir à rejeição local.

"Não é possível que a Dilma tenha 23% em São Paulo. Cadê o PT? Cadê as mulheres do PT? Os homens do PT? Os deputados do PT?", questionou. "Não vamos aceitar ser tratado como segunda classe aqui", emendou.

Em conversas com aliados, Lula chegou a dizer que o candidato do PMDB, Paulo Skaf, estava fazendo a campanha que deveria ser feita pelo PT, protagonizando a polarização com o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Lula cobrou ataques de Padilha aos adversários.

"De vez em quando, a gente tem que dar umas cutucadas nas pessoas. A gente tem demarcar nosso campo de classe", afirmou.

Indiretamente, Lula comparou Skaf a Celso Russomano que disputou a prefeitura de São Paulo em 2012 e liderou a corrida por um bom tempo. Ao defender o afilhado, o ex-presidente apontou que Padilha "não é candidato de si mesmo".

Antes do encontro com Lula, líderes do PT paulista se reuniram num hotel para tentar traçar uma saída para a reta final da campanha.


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