Folha de S. Paulo


Economista ligado a Marina defende 'agenda neoliberal' e autonomia do BC

O economista Alexandre Rands, um dos responsáveis pelo programa de governo da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, afirmou nesta quinta-feira (4) que defende propostas rotuladas por representantes da esquerda brasileira como "neoliberais", entre elas, a prioridade ao combate à inflação e a responsabilidade fiscal.

Disse ainda que a autonomia do Banco Central, proposta da candidata, é "essencial" para que o governo possa combater a alta dos preços e evitar situações como a de hoje, em que a presidente Dilma Rousseff "grita" e o presidente da autoridade monetária "tem de se ajustar".

"Tenho visto cada vez mais todos os economistas convergindo para uma agenda neoliberal", afirmou Rands, que disse ter adotado essa agenda há mais de 20 anos.

Ele afirmou ter sido criticado, por exemplo, quando defendeu a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, em 2000, mesmo sendo um representante da "esquerda pernambucana".

Para o economista, a estabilidade econômica é precondição para que os demais problemas do país sejam resolvidos, mas que a política atual do governo de incentivo à demanda só faz deteriorar as contas públicas e estimular a inflação, ao invés de gerar crescimento e emprego.

"A primeira coisa que você tem de fazer para que haja uma intermediação política dos conflitos sociais é uma inflação estritamente controlada. E não resta dúvida que a autonomia do BC é essencial", afirmou.

"Todos os países em que há autonomia do BC tem menos inflação."

Rands afirmou ter estudado com o atual presidente do BC, Alexandre Tombini, e conhecê-lo muito bem. Por isso, afirmou, sabe que ele não age de acordo com suas convicções.

"É um cara muito competente, mas ele não faz aquilo que eu sei que ele defenderia, porque tem intervenção do governo federal, da presidente Dilma. Ela grita lá uma coisa, o Tombini tem de responder aqui, tem de se ajustar."

Sobre os detalhes da proposta de autonomia do PSB, Rands disse que não há um modelo fechado e que a ideia é estudar os projetos já existentes para se chegar a um consenso.

As afirmações foram feitas durante evento da ANABB (Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil).

BANCOS PÚBLICOS

Sobre a atuação dos bancos públicos, Rands afirmou que o BB tem de ser menos penalizado pelo governo federal. Ele citou como exemplo o atraso nos repasses de dinheiro do Tesouro Nacional para que a instituição toque os programas do governo, na área de agricultura, por exemplo.

"O BB tem de ser mantido e permitido que ele possa dar mais resultado, que não seja penalizado por essa falta de transparência na sua relação com o governo federal."

AÉCIO

Rands também admitiu que há semelhanças entre as propostas econômicas de Marina e do tucano Aécio Neves, mas com uma diferença de prioridades.

"Eu me preocupo quando as pessoas dizem que Marina é uma cópia de Aécio Neves. Em vários aspectos, as políticas podem coincidir, mas coincidem com uma ordem de prioridade diferente."

Na última terça-feira (2), Aécio acusou Marina de plagiar trechos do plano de governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), de 2002, o que Marina negou.

O economista ainda citou a questão do investimento em educação para aumentar a produtividade do trabalhador e a qualidade do capital humano no Brasil. Para ele, esse é o problema que responde por quase 100% do baixo crescimento da renda per capita do país historicamente.

"No caso de Marina, você tem antes de tudo como prioridade o investimento na educação. No caso de Aécio, é apenas a terceira prioridade, porque os interesses, prioridades e articulações sociais por trás das candidaturas não são os mesmos."

Ao falar das diferenças em relação à política econômica atual, afirmou que Dilma tenta agir como ministra da Fazenda, do Planejamento e de outros ministérios.

"Comanda o país com mão de fero. Aliás, bem típico da ideologia autoritária que a gente tinha nas décadas de 60 e 70."


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