Folha de S. Paulo


Garotinho e Pezão trocam acusações sobre ligação com milícias em debate

O deputado Anthony Garotinho (PR) e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), trocaram acusações sobre suposto vínculo com milícias durante debate entre os candidatos ao governo realizado nesta terça-feira (2) pela Rede TV! e o portal iG.

Em segundo lugar nas pesquisas, o peemedebista foi o principal alvo dos adversários, seja de forma direta ou através de "dobradinhas" entre os candidatos, tendo o senador Marcelo Crivella (PRB) como principal "pivô". Pezão contra-atacou e fez ataques a Garotinho e ao senador Lindbergh Farias (PT).

O mais intenso ocorreu durante pergunta feito pelo jornalista Tales Faria, do portal iG, sobre a ligação entre milícias e vans. Garotinho foi questionado se sua proposta de liberar as vans não favoreceria a esses grupos criminosos, que exploram a atividade.

"Pezão se referiu aos motoristas de vans como se todos fossem milicianos. Existe gente boa e gente ruim em todas as atividades. Precisamos parar com esse lobby dos empresários de ônibus. Tem miliciano que dirige van? Pode ter. Mas quem é mais nocivo à sociedade? Um miliciano que dirige van ou um deputado que tem conta na Suíça e até pouco tempo era secretário da Prefeitura do Rio, do PMDB", disse o candidato do PR, em referência ao deputado Rodrigo Bethlem (PMDB).

Pezão contra-atacou, afirmando que o vínculo entre Garotinho e as quadrilhas é "notório". "A ligação da milícia com o ex-governador foi notória, o que fez com que milicianos fossem presos. Legalizamos 640 vans intermunicipais que participam com o Bilhete Único."

Garotinho retrucou, negando envolvimento com bandidos e vinculando o atual governador à gestão de sua mulher, Rosinha Matheus (2003-2006). "Ele era secretário de Governo da Rosinha. Só se o pessoal da milícia se reunia na Secretaria de Governo com ele e eu não sabia. Pode ser."

A milícia já havia sido tema de "dobradinha" entre Crivella e Garotinho para atacar Pezão. O candidato do PRB citou reportagem da Folha desta segunda-feira (31) que mostrou o aumento de áreas dominadas por esses grupos criminosos e questionou o adversário sobre o tema.

"Nós éramos acusados de apoiar milícia e agora estão vendo que o governo que apoiou e fez com que elas crescessem no Estado é o atual governo. Combater milícia é muito simples. Vamos intensificar a Corregedoria externa", disse Garotinho. Crivella prometeu tíquete refeição e um Minha Casa, Minha Vida voltado para policiais militares.

ATAQUES

Pezão, contudo, foi alvo também de críticas em relação aos transportes, à saúde e aos apoios políticos. Buscando marcar sua candidatura como a "nova política" e citando as manifestações do ano passado –motes de Marina Silva (PSB) na eleição presidencial–, Lindbergh buscou classificar o governador, o antecessor e aliado Sérgio Cabral (PMDB) e Garotinho como representantes de uma "mesma turma".

O petista acusou Pezão de ocultar em sua biografia a participação como secretário de Governo na gestão Rosinha.

"Roda, roda e são sempre os mesmos nomes. Garotinho, Pezão, Sérgio Cabral, e César Maia [candidato ao Senado na coligação do governador]. É a mesma turma que está no governo há mais de 16 anos. Quem estava por trás do governo Garotinho? Era Sérgio Cabral, deputado Eduardo Cunha, deputado Jorge Picciani. Quem está por trás do candidato Pezão hoje? São os mesmos. É possível construir um novo caminho. O Rio foi epicentro das manifestações no ano passado. As pessoas querem mudança. Não podemos ficar com esses nomes aí. É possível construir uma nova política no Rio", disse o petista.

O peemedebista respondeu acusando o petista de ter se beneficiado de aliança com esses políticos em sua eleição ao Senado em 2010. Lindbergh fez parte naquele ano da coligação de Cabral, mas Picciani também era candidato ao cargo e foi derrotado.

"O sr. teve apoio de todas essas pessoas quando foi eleito senador. O senhor que esperava crescer nas pessoas e a gente vê o quanto está fazendo falta todo esse apoio de prefeitos. O senhor fez até uma caravana para conhecer o Estado. Se elegeu senador sem conhecer o Estado do Rio. Infelizmente nem conheceu a sua cidade."

Em determinado momento, Lindbergh radicalizou em sua defesa da "nova política". "Peço ao eleitor que analise outras alternativas. Se não o quiser votar em mim, olhe para o Tarcisio [Motta, do PSOL] ou senador Crivella".

Pezão e Lindbergh tiveram novo confronto sobre saúde. O peemedebista acusou o petista de ter deixado Nova Iguaçu, cidade que administrou por cinco anos, "ingovernável" na área. O ex-prefeito da cidade disse que reduziu a mortalidade infantil de 22 para 15 por mil nascidos vivos e a mortalidade materna pela metade. O governador ironizou as informações.

"Se a taxa de mortalidade caiu em Nova Iguaçu é porque ninguém nascia em Nova Iguaçu. A maternidade foi fechada. O Hospital Iguaçu foi fechado. O hospital Jardim Pernambuco que o senhor prometeu está lá o esqueleto até hoje. É lamentável que em cinco anos de governo os senhor tenha tido cinco secretários de Saúde", disse o peemedebista.

Crivella também usou sua pergunta para o petista tendo como objetivo atacar Pezão. O senador do PRB questionou Lindbergh sobre uma propaganda do governador no rádio em que um locutor simula um sotaque nordestino para atacar as propostas do candidato do PT. "Gostaria que o senhor expressasse seu sentimento sobre isso", instigou Crivella.

"O programa do governador desqualificava o nordestino, zombava do sotaque. É um desrespeito com milhões de nordestinos que constroem e trabalham no Rio", respondeu Lindbergh. Os dois também comentaram o uso de uma central de telemarketing que, segundo o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Rio, difamava ambos a eleitores no Estado.

Garotinho e Crivella fizeram também dobradinha para atacar a política de transporte do Rio. Ambos acusaram o governo de privilegiar o transporte rodoviário em contraposição ao sobre trilhos. O peemedebista negou e disse ter comprado 120 trens com ar condicionado.

Num debate marcado por ataques, sobrou até para Tarcísio Motta (PSOL), que mais uma vez foi o franco atirador do encontro. Após acusar o ex-governador de ser um "mentiroso profissional" por praticar o que chamou de "coronelismo disfarçado de assistencialismo" no Complexo do Maré –onde remédios foram encontrados ao lado de material de campanha do candidato do PR–, o professor do Pedro 2 também virou alvo.

"O pior politico é o que esquece de olhar os próprios defeitos. Esquece que uma deputada do PSOL, Janira Rocha, está na comissão de ética por de desvio de dinheiro dos funcionários de seu gabinete. Tarcisio fala como se fosse um santo. Falar é diferente de governar. Um dia você vai ter essa oportunidade."


Endereço da página:

Links no texto: