Folha de S. Paulo


'Contradições' de Marina causam insegurança, diz tesoureiro petista

Uma das figuras centrais do QG de Dilma Rousseff, o tesoureiro da campanha presidencial do PT, Edinho Silva, criticou em entrevista à Folha o discurso de terceira via usado por Marina Silva (PSB) na disputa eleitoral.

"Toda vez que você faz discurso contra partidos e dá projeção de indivíduos isso é muito perigoso", disse.

Ex-ministra do governo Lula, Marina é hoje a principal adversária de Dilma na corrida presidencial.

Para o tesoureiro, as ''contradições'' de Marina geram insegurança nos investidores.

"O discurso fácil que cheira a postura demagógica leva a instabilidade, pode levar a insegurança e incerteza".

Sérgio Lima - 27.ago.2014/Folhapress
Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma em sua sala no comitê central da campanha, em Brasília
Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma em sua sala no comitê central da campanha, em Brasília

Folha - O senhor tem feito périplos diários pelo empresariado em busca de dinheiro para a campanha. Como está o retorno?
Edinho Silva- Melhor que o planejado para o período. Os empresários sabem que estamos diante da pior crise econômica internacional da história, pior que a de 1929, no meu entendimento. Portanto, é uma longa crise econômica e Dilma tem tomado todas as medidas corretas para que seja superada. A melhor forma de superar essa crise é com uma gestão que dê estabilidade econômica. Os empresários sabem o que está em jogo no Brasil. Sabem que o discurso fácil, que a crise pode ser superada com facilidade, é demagógico e que o caminho curto pode levar a uma imensa instabilidade. Em economia você precisa de previsibilidade e isso só a Dilma pode oferecer.

Mas os empresários não reclamam da condução da economia pelo governo Dilma?
Claro que cada cadeia produtiva tem a sua especificidade. Claro que sempre tem uma ponderação ou outra. Mas o mais importante é que eles sabem que o Brasil pode não estar crescendo no ritmo que gostariam, mas que o governo Dilma estabelece um ambiente de tranquilidade para o investidor. Eles sabem o que vai acontecer com o Brasil amanhã e conseguem prospectar futuro. Esse aspecto é ressaltado pelo empresariado.

O caminho curto é a candidata Marina Silva (PSB)?
Quando você vende facilidade, você não tem como sustentar isso na prática. A superação de uma crise econômica, como essa, vai se dar primeiro com a retomada da economia internacional. Nenhum país vai superar a crise individualmente. Portanto, o discurso fácil que cheira a uma postura demagógica leva a instabilidade, a insegurança e incerteza. Eu gostaria que o debate econômico nessas eleições fosse feito de uma forma muito mais responsável. Que não estivéssemos criando ilusões junto ao eleitorado.

Os empresários são simpáticos à candidatura de Marina?
Eu não debato a candidatura da Marina nem de Aécio Neves (PSDB) com os empresários. Eu debato a candidatura Dilma. Mas os empresários sabem que são três projetos totalmente distintos.

Diferentes como?
O projeto representado por Dilma colocou o Brasil de pé perante o mundo, fortaleceu o Brasil perante os organismos internacionais, projeto que mostrou ao mundo que é possível enfrentar crise econômica sem recessão e sem desemprego. O projeto de Aécio todos conhecem, foi desenvolvido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante oito anos. E penso que a Marina tenta ser a interlocutora desse sentimento de junho de 2013, mas efetivamente ela não consegue apresentar ao Brasil o que ela pensa do Brasil e qual seu projeto de país. Por isso, passa esse sentimento de insegurança e instabilidade para investidores e setores importantes da sociedade.

Ela vem alavancada por esse sentimento de junho de 2013, mas não mostra capacidade de dar coesão para uma base social, nem tampouco de conduzir com estabilidade política e econômica esse momento que o Brasil vive. Essa certa insegurança do empresariado é porque ela vem marcada por grandes contradições.

Que contradições são essas?
Ela tenta representar um sentimento de mudança, mas defende a autonomia do Banco Central. É contraditório com sentimento de novas práticas econômicas. A autonomia do Banco Central faz parte de um projeto. Eu gostaria de saber qual projeto de Estado a Marina defende. Nós defendemos um projeto de reforma política com financiamento público de campanha, que tenha fidelidade partidária. Nós defendemos modelo de Estado plural, que conviva com a diversidade cultural e religiosa do povo brasileiro. Falar em reforma política sem explicitar o que você pensa fica parecendo um mantra para agradar ao eleitorado e não um projeto de país.

O PT está há 12 anos no governo e não conseguiu fazer a reforma política.
A questão é a seguinte: ou você consegue construir o ambiente para as reformas e mudanças de tal forma que você respeite as regras e cultura brasileira ou você cria ambiente de instabilidade no país. Não tenho dúvida que avançamos na necessidade de fazer uma reforma política urgente após os protestos. Mas o PT já defendia isso antes das manifestações. No segundo mandato do governo Dilma, não tenho a menor dúvida de que teremos condições muito mais favoráveis que no primeiro mandato.

Você concorda com Aécio que não há espaço para amadores na política?
Marina tinha que passar por um processo de depuração político para que ela conseguisse consolidar um projeto que conseguisse dar coesão para uma base social. É bom para a democracia. A Marina, com projeto político claro, a sociedade sabendo o projeto que ela defende, superando as contradições que ela carrega, o debate fica mais claro. O que eu penso que é ruim é a sociedade não ter clareza daquilo que as lideranças representam.

Marina tem se apresentado como a candidata da terceira via, rejeitando PT e PSDB.
É o discurso fácil de se caracterizar como terceira via. Vira quase um mantra. Ela está negando os partidos. A democracia não se consolida por pessoas, mas por instituições. Toda vez que você faz um discurso contra os partidos e dá projeção de indivíduos, isso é muito perigoso. E a História tem vários registros. Ninguém pode ser maior que os partidos e as instituições. A Marina tem história de vida belíssima para se prestar a esse discurso antipartido de fragilização das instituições.

Mas o ex-presidente Lula não é maior que o PT?
Lula é maior que o PT, mas se tem alguém que tem a vocação de construir coletivamente é o Lula. Eu nunca vi nada semelhante. Mesmo sendo a liderança maior, Lula dialoga o tempo todo com as instituições e fazendo construções coletivas. O indivíduo não pode ser a saída para disputa de projetos partidários. Isso é muito perigoso.

O "Volta, Lula" está efetivamente descartado?
Totalmente. Nós vamos ganhar a eleição com a presidente Dilma representando esse projeto.

Você tem sido muito criticado por setores do PT por ter burocratizado as despesas de campanha. Acusam você de ter "travado a distribuição de material de divulgação". Procede?
Eu fui convidado para ser tesoureiro, nunca briguei para ser. Ao contrário, aceitei por lealdade política. Na função estou fazendo o que é correto, organizei as despesas, formulei orçamento, projetei sua execução, projetei as receitas, estou trabalhado com metas. Fiz registro de preços, derrubei o custeio, em alguns produtos em até 40%. Organizei uma controladoria para fiscalizar a execução de contratos. Adotei tudo que tem de mais moderno e transparente na gestão. O Brasil está abastecido de materiais e os pagamentos estão em dia. A arrecadação vai bem, vou gastar menos que o projetado. O que querem mais de um tesoureiro? Tem muita disputa infundada, picuinhas. Talvez quisessem um contador, isso eu não sou e não serei. Sou dirigente político, tenho posição política na campanha e luto por elas. Para mim o mais importante é reeleger a Dilma.

Com essas mudanças, o senhor diria que o dinheiro antes era mal gasto?
Não estou dizendo isso. Só quero organizar a campanha, tanto nas receitas, quanto nas despesas. A desorganização favorece o desperdício e mal uso do dinheiro.

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RAIO X

EDSON ANTÔNIO EDINHO DA SILVA

ORIGEM
Nasceu em 20 de junho de 1965, em Pontes Gestal, interior de São Paulo

CARGOS E CARREIRA POLÍTICA
Foi vereador em Araraquara (SP) de 1993 a 2000, prefeito de Araraquara de 2001 a 2008 e presidente do PT paulista de 2008 a 2013. É deputado estadual e coordenador financeiro da campanha Dilma Rousseff de 2014

FORMAÇÃO
É professor universitário nas áreas de gestão do esporte e gestão da saúde. Graduado em Ciências Sociais e pós graduado em Engenharia de Produção


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