Folha de S. Paulo


Em dia de ofensivas contra Marina, líder do PT diz que ela 'se une a raposas'

Numa ação orquestrada pela campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), subiu nesta terça-feira à tribuna do Senado para atacar a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva. Costa acusou Marina de fazer a "velha política", se unir a "raposas", adotar o "obscurantismo" em suas propostas e ser o "FHC de saias" –em referência ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

"Essa é Marina. Uma candidata que ora diz uma coisa, ora diz outra. Que não se compromete com nenhuma posição, que promete governar por meio de plebiscito. Que não dá resposta concreta a nenhuma pergunta. Uma candidata que não tem lado. Um presidente precisa assumir posições, ter pulso para enfrentar desafios. Não pode ficar em cima do muro", atacou Costa.

O petista disse que Marina, se for eleita, vai "baixar a cabeça" ao mercado financeiro e retomar a política neoliberal do governo FHC. "Será uma FHC de saias. A proposta de Marina é deixar que a mão do mercado regule tudo. É dar autonomia total ao Banco Central, coisa que nem o Fernando Henrique deu."

Costa disse que a dupla Marina-Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência, vão trazer de volta políticas que "Lula e Dilma acabaram". "O desafio é ver esse novo que se apresenta, essa velha política que se propõe progressista, mas que esconde por baixo do xale o que mais conservador existe."

O PT deflagrou uma ofensiva contra Marina depois que as pesquisas de intenções de votos apontaram o empate da candidata do PSB com Dilma. A ordem no comando da campanha de Dilma é mobilizar seus aliados no Congresso e nos Estados para direcionar os ataques à candidata do PSB –sem que a própria presidente tenha que atacá-la.

Mais cedo, no horário eleitoral gratuito na TV, a campanha petista chegou a comparar Marina a Jânio Quadros e Fernando Collor.

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Os aliados de Dilma começaram a campanha mirando os ataques em Aécio, mas agora avaliam que Marina é adversária a ser combatida por ter chances reais de chegar ao segundo turno. O último levantamento do Datafolha revelou que Dilma e Marina estão empatadas, com 34% das intenções de votos, cada uma. Aécio aparece em terceiro com 15% dos votos.

No discurso, que durou meia hora, Costa desconstruiu diversos pontos do programa de governo apresentado por Marina. O petista disse que a candidata fez "alianças de conveniência" e se uniu a nomes que representam a "velha política", como Paulo Bornhausen (PSD-SC), candidato ao Senado, filho do ex-senador Jorge Bornhausen, "aquele que queria acabar com a raça do PT".

O líder também acusou Marina de não ter "controle" sobre o PSB, além de estar disposta a deixar a sigla para criar a Rede de Sustentabilidade, partido idealizado pela candidata. "Que controle teria ela sobre um eventual governo? Até vereador de Goiás construiu partido nacional, e a senhora Marina Silva não conseguiu criar o seu. Ela já tem até data para saída desse partido, assim que conseguir montar legenda para chamar de sua."

Líder do PSB, partido de Marina, o senador Rodrigo Rollemberg (DF) rebateu Costa horas depois no plenário ao afirmar que o mesmo discurso do "medo" foi adotado contra o PT antes do ex-presidente Lula ser eleito. "O presidente Lula foi vítima desse tipo de ameaça. A esperança vai vencer o medo. O que a ex-ministra representa para a população é um desejo de mudança, de transformação. Querer tratar candidaturas como ameaça, não cola", afirmou.

PRÉ-SAL

Costa disse que Marina não terá apoio no Congresso para governar, caso eleita, e vai adotar medidas para prejudicar a economia do país, como não priorizar o pré-sal. O petista disse que, como Marina não incluiu o tema em seu programa de governo, seu objetivo é "deixar de lado" a riqueza natural —insinuando que seu real objetivo seria repassar a exploração a empresas internacionais.

Segundo o líder, Marina não vai viabilizar sua proposta de direcionar 10% das receitas brutas do país para a saúde sem os recursos do pré-sal. O petista afirmou que, nos próximos 30 anos, o pré-sal vai representar mais de R$ 1,3 trilhão para serem investidos em saúde e educação.

A coluna Painel revelou nesta terça que o PT quer usar o pré-sal como arma para minar o crescimento de Marina Silva, vendendo a ideia de que a candidata do PSB põe riquezas do país em risco ao deixar a exploração do petróleo em segundo plano.

"Quantos empregos serão jogados na lata do lixo por esse obscurantismo ambiental que se propõe a ser progressista? Não há outra razão que leve alguém que ser presidente da República a ignorar o pré-sal. Ou é cegueira política, ou é interesse escuso."

Costa ainda mencionou o fato de Marina ter retirado de seu programa de governo propostas direcionadas à comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e transexuais). "Eu sou defensor desses direitos, mas respeito quem pensa diferentemente. Aqui, há muitos senadores que pensam diferentemente. O que não podemos aceitar é que alguém não tenha posição sobre o assunto."

Na mesma linha, Costa disse que Marina vai propor plebiscito popular para temas como o aborto e a legalização de drogas leves, o que demonstra que a candidata do PSB tem "volatilidade" em suas posições. "É um discurso para cada plateia. Uma tentativa de equilibrar aquilo que não se pode equilibrar em todas as áreas. A candidata assinou seu programa de governo sem ler, o que demonstra um comportamento extremamente perigoso. Muda de ideia todo tempo de acordo com as conveniências do momento."

Editoria de Arte/Folhapress

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