Folha de S. Paulo


Coordenador da campanha de Aécio fala em apoio a Marina e irrita PSDB

Uma declaração do coordenador-geral da campanha do tucano Aécio Neves irritou a cúpula do PSDB e o próprio candidato. Na tarde desta segunda-feira (1º), Agripino Maia (DEM-RN) disse esperar que Aécio apoie Marina Silva (PSB) em um eventual segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff (PT).

Em sua avaliação, considerada "desastrada" e "infeliz" por pessoas próximas a Aécio, Agripino disse que o objetivo maior da coligação do tucano é "derrotar o PT".

"O PSB tem afinidades muito antigas conosco, desde o tempo do Eduardo Campos. O inimigo maior a ser batido é o PT. Tanto pode dar Aécio apoiando a Marina quanto o contrário", afirmou.

Diante da repercussão negativa de sua fala, o coordenador da campanha divulgou uma nota em que afirma que "todo o esforço que os partidos que apoiam a candidatura de Aécio se volta para levá-lo ao segundo turno e temos a convicção de que nele estaremos". "Alianças para o segundo turno serão discutidas quando o segundo turno vier", afirmou.

A fala de Agripino trouxe desconforto a Aécio, que já vem lidando com uma agenda negativa nos últimos dias, desde que apareceu em terceiro lugar nas pesquisas, quase 20 pontos percentuais atrás de Dilma e Marina, que estão empatadas.

A Folha apurou que Agripino telefonou para Aécio tentando se justificar e dizer que foi mal interpretado. Aécio, em contrapartida, não escondeu sua contrariedade.

Após o debate promovido nesta segunda pela Folha, Uol, SBT e Joven Pan, questionado por jornalistas sobre o assunto, o candidato afirmou: "Isso não é verdade". "Eu pretendo estar no segundo turno e ganhar a eleição."

No entorno do tucano, as críticas variaram de tom, mas não houve quem aprovasse a fala. A avaliação é que Agripino, ainda que bem intencionado, acabou agravando a sensação de que há uma crise na campanha e que Aécio já não tem mais chances de vencer a eleição.

Pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira (29) mostrou Marina empatada numericamente com Dilma na disputa pelo Palácio do Planalto. As duas candidatas têm 34% das intenções de votos, seguidas por Aécio, com 15%.

O resultado cristalizou na campanha tucana a sensação de que é preciso subir o tom contra Marina e "politizar o debate", estratégia que começou a ser executava nos programas eleitorais exibidos no último sábado (30).

MAIORIDADE PENAL

Antes de ir ao debate, Aécio anunciou que irá apresentar seu programa de governo na semana que vem.

Ele adiantou que, além da criação de um Ministério da Segurança, o programa irá apoiar um projeto de seu vice, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que abre a possibilidade de a Justiça aplicar o Código Penal a adolescentes de 16 e 17 anos.

Segundo Aécio, trata-se de uma proposta "intermediária" entre o que há hoje e a mera redução da idade penal para 16 anos. Pelo projeto de Aloysio, o adolescente infrator de 16 ou 17 anos só responderia pelo Código Penal em casos de crimes considerados hediondos, após uma autorização específica de um juiz.

"Chega a ser obsceno o número de assassinatos que vem ocorrendo anualmente no Brasil: 56 mil apenas no ano passado", disse Aécio.

Questionado sobre o total de crimes cometidos apenas por menores de 18 anos, Aécio respondeu: "Cerca de 30 mil [assassinatos] são de jovens de até 39 anos de idade".

"Essa proposta incidiria sobre um número entre 1% e 1,5% dos jovens que cometem algum tipo de crime", disse.

Alan Marques - 2.out.07/Folhapress
Senador José Agripino Maia (DEM-RN), coordenador-geral da campanha de Aécio Neves
Senador José Agripino Maia (DEM-RN), coordenador-geral da campanha de Aécio Neves

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