Folha de S. Paulo


Candidatos anônimos recorrem a personagens para chamar atenção

"Pode anotar aí: o Bin Laden vai ser o Tiririca desta eleição. Vou ter mais de 1 milhão de votos!"

Direto e absolutamente sem modéstia, Manoel dos Santos Silva, 49, prevê seu futuro político na eleição deste ano, na qual concorre a deputado federal pelo PEN (Partido Ecológico Nacional). Na TV, aparece de turbante e barba comprida, na esperança de ficar mais parecido com o terrorista morto pelos EUA.

O Bin Laden do PEN era tão anônimo que nem o presidente do partido que o acolheu sabe direito de onde é e o que faz. "É um cara inteligente, que tem muita chance de ganhar. Um gari honesto, varre as ruas em Osasco", diz Adilson Barroso.

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O sósia do terrorista usa uniforme de gari, mas não é varredor, e quer 'acabar com os políticos
O sósia do terrorista usa uniforme de gari, mas não é varredor, e quer 'acabar com os políticos'

O candidato, porém, não é gari. Só usa o uniforme (leia a entrevista abaixo), e vive na Brasilândia, em São Paulo.

Trata-se de um dos personagens que apareceram na primeira semana do horário eleitoral gratuito, que também apresentou Dengue, Presidente THC, Jesus, Barack Obama, covers de Gretchen, Pelé e Neymar e o candidato que lança um "raio privatizador" sobre os comunistas.

Todos estão dispostos a explorar a veia cômica e a assumir a falta de propostas para tentar repetir o sucesso que Tiririca teve na urnas em 2010. Na última eleição, o palhaço foi à TV no horário eleitoral para dizer que não sabia o que fazia um deputado federal. Obteve mais de 1,3 milhão de votos, alcançando o posto de candidato mais votado para a Câmara.

Para o cientista político Fernando Abrucio, da Fundação Getúlio Vargas, esses candidatos chamam a atenção pelo inusitado, mas não provocam impacto no sistema político. "Não acho que consigam se eleger. O próprio Tiririca eu acho que terá menos votos", afirma.

O PR, partido de Tiririca, tem uma visão diferente e aposta novamente no humorista como puxador de votos no Estado de São Paulo.

O humorista optou por parodiar o cantor Roberto Carlos em sua propaganda deste ano, que ocupa todo o tempo da sigla nos blocos da noite. "Pela votação que ele teve, é o mínimo [que podemos fazer] deixá-lo com todo o horário", diz o secretário-geral do PR, senador Antonio Carlos Rodrigues.

A superexposição de Tiririca é invejada por seus oponentes. O comediante Batoré (PRB-SP), vereador cassado em São Paulo por infidelidade partidária, conta que tem quatro segundos na TV, contra um minuto do adversário.

Por causa disso, ele, que se candidatou a deputado em 2010 e aparecia de terno na propaganda, agora foca na fama de seu personagem do programa "A Praça É Nossa", do SBT. "Como não consigo dizer minhas propostas, melhor falar como Batoré."

CARAS CONHECIDAS

As celebridades também se agarram a seus personagens para tentar uma vaga na Câmara dos Deputados.

É o caso do ator Ricardo Macchi, 45, que passou os últimos anos reclamando de ser lembrado o tempo todo como o cigano Igor de "Explode Coração" (1995), e que agora se candidatou com o nome de seu personagem célebre.

"Vocês passaram 20 anos falando que sou o eterno cigano Igor. Estou apenas fazendo o que me pediram", afirma Macchi.

Outro famoso que estreia na disputa eleitoral é o cirurgião Dr. Rey (PSC-SP), do programa "Dr. Hollywood", que frisa ter diploma de Harvard. "O Rey fala, sim, de Harvard porque a classe política é analfabeta", afirma.

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O comediante Batoré apareceu de gravata em 2010 e não se elegeu; agora, explora o personagem
O comediante Batoré apareceu de gravata em 2010 e não se elegeu; agora, explora o personagem

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