Folha de S. Paulo


Deputado propõe criação de Museu Cristão em São Paulo

"Jesus Cristo é o mesmo - hontem, hoje e eternamente."

A grafia de "ontem" com a letra "h" mudou faz tempos. Os evangélicos brasileiros também passaram por várias transformações após a Cruzada Nacional de Evangelização, que juntou centenas de fiéis sob uma lona na avenida Francisco Matarazzo, zona oeste paulistana, em 1953.

Levantado por dois missionários americanos, o "circo gospel" ajudou a renovar o pentecostalismo no país, com louvores à base de guitarra e conceitos como "cura divina", aquela que promete fazer andar um cadeirante.

A foto que captura esse "hontem" compõe o acervo do Museu Cristão Brasileiro.

Divulgação
Primeira tenda da Cruzada Nacional de Evangelização, no Cambuci, nos anos 1950
Primeira tenda da Cruzada Nacional de Evangelização, no Cambuci, nos anos 1950

O projeto deu seu primeiro passo para sair do papel, com o lançamento do "primeiro tijolo simbólico" nesta quarta (20), na Assembleia Legislativa de São Paulo. O primeiro piloto da obra tem 10 mil m² (equivalente ao Masp) e capacidade para 1.500 pessoas.

Quatro pilastras gregas sustentam a entrada. No topo, uma cruz. Na fachada, duas Menorás -candelabro judaico comumente visto em igrejas evangélicas como a Universal do Reino de Deus e a Renascer em Cristo. Sobre a porta, a inscrição: "A Deus toda honra e toda glória".

O deputado estadual Fernando Capez (PSDB-SP), "padrinho" da proposta, diz que correrá atrás de patrocinadores e de recursos da Secretaria da Cultura paulista.

Segundo Capez, o foco do museu seria "histórico e cultural", e não religioso. "O Estado é laico, não posso mandar dinheiro para a igreja, mas posso me associar a entidades religiosas", diz.

"Não vai ter culto no museu", afirma Luciana Mazza, idealizadora do projeto ao lado do também jornalista Marcelo Rebello, seu marido.

O casal pretende recorrer a leis de incentivo fiscal como a Rouanet, do governo federal, para financiar o projeto (ainda não orçado). Eles também estão à frente do Salão Internacional Gospel, uma feira de negócios marcada para setembro, em São Paulo.

Ainda sem endereço, o museu seria particular e sem finalidade lucrativa, diz Capez, que se define como "um cristão que apoia o movimento evangélico" e frequenta igrejas como a Bola de Neve e "aquela que a MC Anitta vai".

Já Luciana afirma que haverá cobrança "social" para entrar, "com preços bem acessíveis a todos".

POLÊMICAS

Está nos planos uma seção dedicada a declarações polêmicas de líderes. Entre as pérolas, o dia em que o cantor gospel Thalles Roberto (ex-Jota Quest) mandou a mulherada "segurar a periquita". Em outra ocasião, um reverendo causou um tsunami no meio evangélico ao chamar um pastor de "bundão".

Outra mostra reunirá notícias insólitas do universo religioso. A curadoria já selecionou algumas, como a do pastor que simulou "cheirar" a Bíblia no convite para o culto "Quarta Louca por Jesus" e a da pastora e cantora Ana Paula Valadão, que imitou uma leoa no palco e foi criticada pelo "excesso" por fãs.

Para outra ala, uma exposição com os nomes mais curiosos de igrejas. Alguns: Assembleia de Deus Pavio que Fumega, Pentecostal Cristã Ore com Moderação, A Serpente de Moisés Aquela que Engoliu as Outras e Associação Fiel Até Debaixo D'Água.


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