Folha de S. Paulo


Tour pelo novo templo da Universal exige silêncio

Uma vez dentro do Templo de Salomão, ninguém dá um pio. "Passou da porta, zip", um pastor instruía seu grupo de fiéis, simulando um zíper na boca. "Não preciso nem falar que celular é proibido. Mentaliza um SMS pra Deus que Ele responde na hora."

Quase não há vazios entre as dez mil cadeiras da nova sede da Igreja Universal, na zona leste paulistana. Uma voz preenche o ambiente: você está na morada de Deus e deve ficar em silêncio.

Dois telões alternam imagens de florestas e riachos, com trilha sonora típica de meditação –sons de água e passarinho. Vem o versículo bíblico: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?".

Até há quem tente, afirma o bispo Renato Cardoso ao começar o culto do dia. Ele usa o mesmo visual judaico adotado pelo seu sogro, o bispo Edir Macedo: quipá e talit (xale de oração) sobre o terno.

Cardoso cita um boato que se espalhou pela internet na véspera da inauguração, com a presidente Dilma, no dia 31 de julho. Uma montagem mostrou a fachada pichada com uma passagem da Bíblia: "O Deus que fez o mundo [...] não habita em templos feitos por mãos de homens".

O picho nunca existiu. A Universal, ele diz, é dirigida por Deus, não por homens. "A Universal cresce e cresceu sem precisar se defender."

O que precisam, diz Cardoso, é de ajuda. Ele propõe uma "oração ao dizimista" no começo da pregação. "Você tem contas, a Casa de Deus também tem." Só a fatura da luz é R$ 120 mil, afirma.

Chamados de levitas, os auxiliares do bispo usam longas túnicas brancas, com faixa dourada na cintura. Nas mãos, sacolas de veludo vinho para recolher o dízimo –que seria pedido de novo ao fim do culto de duas horas.

CREDENCIAL

Fiéis ainda não podem entrar lá a pé, sem hora marcada. É preciso credencial. Em julho, a repórter passou o cartão de débito para comprar a sua por R$ 45, numa igreja em Santa Cecília, região central em São Paulo –segundo o departamento de comunicação da Universal, é o preço do ônibus executivo, com seguro, que leva a caravana.

Só havia lugar para 14 de agosto, uma quinta-feira. No dia marcado, as credenciais são distribuídas numa bandeja de prata. Às 15h23, um ônibus com três homens e 21 mulheres (muitas com vestido de gala e brinco de brilhantes) sai rumo ao Brás.

O pastor passa instruções do tipo "agasalho de time não vai entrar". Alerta: todos passarão por dois detectores de metais e terão bolsas revistadas na entrada. "Você não vai ter o direito de se importar."

Mais vetos: celular, bala e caneta, inclusive a usada para marcar páginas da Bíblia.

"Ex-católica macumbeira", Nice, 63, já foi ao templo uma vez. Achou chiclete embaixo de uma das dez mil cadeiras –que, num culto em 2013, Edir Macedo estimou valerem R$ 2.200 cada. "O povo não tem temor a Deus."

No pátio, 103 bandeiras representam os países onde a Universal atua. Em destaque, uma do Brasil, uma de Israel e uma da igreja (a pomba branca dentro do coração).

Nas paredes, 12 menorás, o candelabro judaico cujo fogo "era mantido continuamente aceso pelos levitas do templo original". Na réplica do Brás, a brasa vem de lâmpadas.

Para Nice, "é como entrar num pedaço do céu".


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