Folha de S. Paulo


Candidato no Paraná, Requião destitui Executiva do seu partido

Candidato ao governo do Paraná e segundo colocado na mais recente pesquisa Datafolha, o senador Roberto Requião (PMDB) destituiu, nesta sexta-feira (15) à tarde, a Executiva do seu próprio partido por entender que havia pessoas "sabotando" sua campanha.

Acompanhado por membros do PMDB favoráveis à sua candidatura, Requião realizou uma votação em frente à sede, que determinou a dissolução da comissão executiva por "infidelidade partidária", e nomeou novos membros, todos seus aliados.

Em seguida, chamou um chaveiro e invadiu o local, que estava fechado em sinal de luto pela morte de Eduardo Campos (PSB-PE).

"Eles estão atrapalhando nosso caminho. Eles passarão e nós, passarinho", disse o candidato, citando um verso do poeta Mario Quintana (1906-1994).

O PMDB do Paraná estava dividido entre lançar Requião ou apoiar seu rival, o atual governador Beto Richa (PSDB). Os membros da Comissão Executiva, entre eles o então presidente estadual, Osmar Serraglio, estavam entre os principais defensores da aliança com os tucanos.

Requião ganhou o direito de ser candidato na convenção de junho, após uma votação.

Richa está à frente de Requião na pesquisa mais recente do Datafolha: tem 39% das intenções de voto, contra 33% do peemedebista. Considerando a margem de erro, porém, de três pontos percentuais para mais ou para menos, os dois estão tecnicamente empatados.

Membros depostos da Executiva, como Serraglio e o ex-governador Orlando Pessuti, antigo aliado de Requião, registraram um boletim de ocorrência pela invasão do partido e pretendem entrar na Justiça para anular a decisão desta sexta-feira.

A votação foi feita por membros do diretório estadual, numa reunião convocada previamente, como estabelece o estatuto do partido. Foram 42 votos contra 1 pela dissolução da Executiva.

Segundo os opositores de Requião, porém, não é prerrogativa do diretório destituir a diretoria, tal como ocorreu. Além disso, a medida cabível no caso de infidelidade partidária, argumentam, seria realizar um julgamento no comitê de ética.

"É uma agressão ao partido. Nem no tempo da ditadura militar se tem registrado invasão de partidos políticos. Foi um ato truculento", afirma Pessuti.

Segundo ele, ninguém estava fazendo campanha para outros candidatos ao governo, como sustenta Requião. "Podem só não estar fazendo campanha para ele", diz. "Ele hostiliza as pessoas."

PROCESSO LEGAL

A nova Executiva diz que tem o respaldo da diretoria nacional do PMDB e que seguiu todos os processos legais e estatutários. "Houve um processo eleitoral, com convocação, com urna, com voto secreto", afirma o novo presidente estadual do PMDB, Rodrigo Rocha Loures.

Para ele, o diretório estadual tem, sim, o poder de destituir a Executiva, assim como a nomeia. Rocha Loures argumenta que o mandato, inclusive dos membros da Executiva, é do partido. Por isso, em caso de infidelidade partidária, é possível destituir os peemedebistas de seus cargos.

"O princípio da democracia é simples: a maioria vence, a minoria segue", diz Rocha Loures. "Não se estava respeitando a decisão da convenção partidária."

O presidente ressalta ainda que todo o processo foi feito às claras, "à luz do dia e com a cobertura da imprensa", e que os membros da antiga Executiva foram avisados e chamados a conversar a respeito antes da votação de sexta-feira.


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