Folha de S. Paulo


Dono de academia interditada em Santos viu 'de tudo' após desastre

Na academia atingida na queda do avião do ex-governador Eduardo Campos (PSB-PE) na quarta-feira (13), somente os relógios continuam funcionando. O imóvel é um dos cinco interditados pela Defesa Civil.

Logo após o acidente, o proprietário Benedito Juarez Câmara saiu de casa em direção ao estabelecimento, a uma quadra de lá. "Ouvimos o som da turbina e depois o estouro. Sentimos a vibração da queda", conta Câmara.

Ao chegar à academia, viu a parte de trás da academia em chamas. "O fundo estava queimando. E a parte elétrica do avião estava na piscina. Vi de tudo, vi restos mortais, equipamentos dos passageiros. Vi inclusive uma perna", relata.

A academia é cercada por vidros na área onde ficam três piscinas, uma maior, uma média e uma especial para bebês com profundidade e materiais apropriados para crianças. Nesta piscina estava a bebê Gabriela, que teve cortes superficiais e recebeu alta do hospital na quinta-feira (14).

Junto com um professor, Câmara ajudou a evacuar o local e se certificou de que não havia ninguém nos vestiários ou em outras áreas da academia. Apenas os bombeiros continuaram no local.

O prejuízo causado pela colisão da aeronave no imóvel foi parcial. O fogo e o impacto derrubaram algumas estruturas, quebraram os vidros e espelhos e causaram muita sujeira.

O principal dano foi aos equipamentos, com perda total. Além dos aparelhos comuns de qualquer academia, Câmara tinha uma estrutura montada para mais de 200 alunos em condições especiais. Os aparelhos foram desenvolvidos por um centro de pesquisas na USP para ajudar na recuperação dos movimentos.

"Minha principal perda é essa. Esse pessoal não pode frequentar outra academia, precisam desses equipamentos. Tenho um aluno que, se não fizer a sequência de movimentos, pode ter que fazer novamente uma cirurgia. Ele tem uma prótese que substitui o fêmur", explica o educador físico.

Câmara tem especialização em fisiologia do movimento, saúde, doença e envelhecimento. Muitos dos seus mil alunos são idosos. "Minha missão é ajudar na qualidade de vida das pessoas. Ver um aluno que usa bengala ou andador deixando esses recursos por conta dos exercícios é o melhor do meu trabalho", diz Câmara.

Outra preocupação do professor é com seus funcionários. "Tenho 16 famílias que precisam de mim", conta.

Ele pretende alugar um imóvel na região para retomar aos poucos as aulas com as condições possíveis, já que os aparelhos especiais e piscinas aquecidas não poderão ser usados. "No próximo dia 5 já tenho os salários, água e luz para pagar."

Mahatma, o nome da academia aberta há quase 40 anos, significa "grande alma alcançada através da atividade física e mental para integrar o cosmos", em hindu, segundo Câmara. A procura por qualidade de vida faz parte da trajetória de Câmara, que é campeão brasileiro de karatê (1968) e de taekwondo (1974).

"Tudo bem que a vida é um eterno recomeçar, mas recomeçar aos 68 anos é mais difícil", diz. Entretanto, ele não perde o otimismo. "Viver de passado não dá. É preciso curtir o presente e pensar no futuro", conclui.

Editoria de Arte/Folhapress

ACIDENTE

O candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Henrique Accioly Campos, 49, morreu na quarta (13) em acidente aéreo em Santos, litoral paulista, onde cumpriria agenda de campanha. O jato Cessna 560 XL, prefixo PR-AFA, partira do Rio e caiu em área residencial.

Dois pilotos e quatro assessores também morreram, e sete pessoas em solo ficaram feridas. Os restos mortais removidos do local do acidente chegaram na noite de quarta na unidade do IML (Instituto Médico Legal) na rua Teodoro Sampaio, no bairro Pinheiros, em São Paulo. A Aeronáutica investiga a queda.

Governador de Pernambuco por dois mandatos, ministro na gestão Lula, presidente do PSB e ex-deputado federal, Campos estava em terceiro lugar na corrida ao Planalto, com 8% no Datafolha. Conciliador, era considerado um expoente da nova geração da política.

O PSB tem dez dias para anunciar eventual substituição do candidato. Adversários na disputa, PT e PSDB já se preparam para enfrentar Marina Silva, a vice de Campos. Candidata à reeleição, a presidente Dilma Rousseff (PT) decretou luto oficial de três dias e afirmou que o acidente "tirou a vida de um jovem político promissor". Também presidenciável, Aécio Neves (PSDB) disse ter perdido um amigo.

Marina declarou que guardará dele a imagem de "alegria" e "sonhos". Campos morreu num 13 de agosto, mesmo dia da morte do avô, o também ex-governador Miguel Arraes (1916-2005). Campos deixa mulher, Renata Campos, e cinco filhos, o mais novo nascido em janeiro. "Não estava no script", disse Renata.


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