Folha de S. Paulo


Deputado do PSB diz que resultado sobre caixa-preta é 'muito suspeito'

Diante da notícia de que a caixa-preta do avião que caiu em Santos (SP) e matou o presidenciável Eduardo Campos nesta quarta-feira (13) não gravou a conversa entre os dois pilotos, lideranças do PSB decidiram pedir acesso aos dados da Aeronáutica para uma "apuração isenta" sobre o acidente.

Reunidos em São Paulo para discutir o futuro da chapa do partido na disputa pelo Palácio do Planalto, os deputados Beto Albuquerque (RS), Márcio França (SP) e Júlio Delgado (MG) ficaram "estarrecidos" com a informação da Aeronáutica, que investiga as causas da queda da aeronave. Apesar do trabalho de desmontagem da caixa-preta ter sido realizado com sucesso e a memória, recuperada na íntegra, a conversa gravada é de outra data, ainda não definida.

Editoria de Arte/Folhapress

"Esse resultado é muito suspeito", disse Delgado à Folha. "A caixa-preta foi encontrada muito rapidamente pela perícia e é estranho não ter gravado o áudio do dia do acidente. Não vamos ficar tranquilos com isso. Vamos pedir uma apuração mais isenta. Não estamos gostando dessa conversa e queremos acesso aos dados", completou.

No entanto, o deputado ainda não soube explicar quais métodos legais o partido era utilizar para solicitar as informações. "Estamos estudando o que fazer", afirmou.

Os líderes do PSB reconhecem que as tratativas que vão definir se a vice de Campos, a ex-senadora Marina Silva, será ou não a cabeça de chapa precisam continuar –a definição precisa ocorrer até o dia 24– mas afirmam que as notícias sobre a caixa-preta suspenderam por ora as negociações.

Em almoço com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) nesta quinta-feira (14), aliados de Campos pediram "atenção especial" da Polícia Militar e da Polícia Civil de São Paulo sobre o caso. O tucano acenou positivamente, embora as investigações sejam de responsabilidade da Polícia Federal e da Aeronáutica.

ACIDENTE

O candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Henrique Accioly Campos, 49, morreu na quarta em acidente aéreo em Santos, litoral paulista, onde cumpriria agenda de campanha. O jato Cessna 560 XL, prefixo PR-AFA, partira do Rio e caiu em área residencial.

Dois pilotos e quatro assessores também morreram, e sete pessoas em solo ficaram feridas. Os restos mortais removidos do local do acidente chegaram na noite de quarta-feira na unidade do IML (Instituto Médico Legal) na rua Teodoro Sampaio, no bairro Pinheiros, em São Paulo. A Aeronáutica investiga a queda.

Governador de Pernambuco por dois mandatos, ministro na gestão Lula, presidente do PSB e ex-deputado federal, Campos estava em terceiro lugar na corrida ao Planalto, com 8% no Datafolha. Conciliador, era considerado um expoente da nova geração da política.

O PSB tem dez dias para anunciar eventual substituição do candidato. Adversários na disputa, PT e PSDB já se preparam para enfrentar Marina Silva, a vice de Campos. Candidata à reeleição, a presidente Dilma Rousseff (PT) decretou luto oficial de três dias e afirmou que o acidente "tirou a vida de um jovem político promissor". Também presidenciável, Aécio Neves (PSDB) disse ter perdido um amigo.

Marina declarou que guardará dele a imagem de "alegria" e "sonhos". Campos morreu num 13 de agosto, mesmo dia da morte do avô, o também ex-governador Miguel Arraes (1916-2005). Campos deixa mulher, Renata Campos, e cinco filhos, o mais novo nascido em janeiro. "Não estava no script", disse Renata.

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