Folha de S. Paulo


Eduardo esteve comprometido com um Brasil mais justo, diz Marina

Visivelmente abatida, a ex-senadora Marina Silva fez um breve pronunciamento na tarde desta quarta-feira sobre a morte de seu companheiro de chapa na disputa pelo Palácio do Planalto, Eduardo Campos (PSB).

Ela ressaltou a convivência com Campos ao longo dos últimos dez meses e disse que o acidente que vitimou o ex-governador de Pernambuco é "sem sombra de dúvida uma tragédia". Para ela, Campos esteve "comprometido" com ideais de um "Brasil mais justo" até os "últimos segundos de vida".

Joel Silva/Folhapress
Marina Silva durante coletiva para falar da morte do candidato a Presidência da republica Eduardo Campos
Marina Silva durante coletiva para falar da morte do candidato a Presidência Eduardo Campos

A ex-senadora disse que quer guardar como lembrança de Campos a última vez em que esteve com ele, na noite de terça-feira (12), após a entrevista do candidato para o Jornal Nacioanl, da TV Globo. "A imagem que eu quero guardar dele foi da nossa despedida de ontem. Cheio de alegria, cheio de sonhos, cheio de compromissos. É com esse espírito que peço a Deus que possa sustentar sua família, consolar sua família e também a todos nós", disse.

Marina afirmou que, ao longo dos dez meses de convivência, aprendeu a "respeitar, admirar e confiar" nas "atitudes" e nos "ideais" de Campos. "Foram dez meses de intensa convivência em que, como eu disse, começamos a fiar juntos, principalmente, a esperança de um mundo melhor, mais justo." "Ele esteve comprometido com esses ideais até os últimos segundos de sua vida".

A ex-senadora exibiu olheiras profundas e um semblante abatido durante seu pronunciamento. Antes dela, o Carlos Siqueira, secretário-nacional do partido de Campos, leu uma nota do PSB. "Morre Eduardo Campos. Fica o seu legado de luta por um Brasil mais democrático, próspero, solidário e socialmente justo", dizia o texto.

LÁGRIMAS

Em sua chegada à Prefeitura de Santos (SP), por volta das 14h desta quarta (13), Marina não conteve as lágrimas ao encontrar a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) no gabinete do prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB).

À espera da chegada do vice-presidente Michel Temer e do ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), enviados pela presidente Dilma Rousseff, Marina Silva permaneceu por três horas reunida com autoridades e correligionários.

No local, estavam o governador Geraldo Alckmin (PSDB), o presidente do PSB em São Paulo, Márcio França, os coordenadores da campanha presidencial do PSB Carlos Siqueira (geral) e Maurício Rands (programa). O ex-governador de São Paulo José Serra chegou pouco antes do discurso da candidata a vice.

Ela tomou uma xícara de chá e tentou falar por telefone com Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, mas não conseguiu. Segundo relatos, lembrou mais de uma vez aos presentes que poderia estar a bordo da aeronave que sofreu o acidente.

O assessor de imprensa de Marina Silva avisou que ela apenas faria o seu pronunciamento e não falaria depois com a imprensa. Ele pediu compreensão dos jornalistas. Depois do breve discurso, Marina Silva retornou para a capital paulista, onde passará a noite e aguardará notícias sobre a identificação dos corpos.

CORRIDA ELEITORAL

O comando nacional do PSB ainda evita tratar sobre as eleições presidenciais, mas lideranças da sigla reconhecem nos bastidores que o nome de Marina Silva é "natural" para a disputa eleitoral. O tema deve ser tratado oficialmente pela direção da legenda apenas depois do enterro do presidenciável, que será realizado em Recife.

Apesar da ansiedade em torno do nome que substituirá a candidatura de Eduardo Campos, uma vez que o prazo da Justiça Eleitoral é de dez dias para alteração da cabeça de chapa, lideranças da legenda "não tiveram coragem" de tratar o assunto com Marina Silva, o que só deve ser feito no final desta semana.

Durante todo o dia, os aliados e assessores que acompanharam Marina Silva evitaram até mesmo conversar entre eles sobre política. "Não há menor possibilidade de alguém falar com ela sobre isso hoje", disse um aliado da ex-ministra do Meio Ambiente.


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