Folha de S. Paulo


Análise: Em choque, políticos especulam a sucessão

Ainda sob o impacto desconcertante do acidente em Santos, aqui e a ali o mundo da política murmura o óbvio: após a tragédia que matou Eduardo Campos, que rumo terá a sucessão presidencial?

Os murmúrios, claro, não se farão públicos por respeito à dor das famílias das vítimas e pela genuína perplexidade que a morte causou. Mas já acontecem, e deverão crescer em intensidade pelo simples fato de que a campanha da TV começa na semana que vem. Hoje, convergem para o que acontecerá com a candidatura do PSB.

Passado o choque inicial, espera-se que Marina Silva tome uma posição como candidata a cabeça de chapa. Para tanto, terá dez dias a contar de hoje, segundo a Lei Eleitoral, e precisa do apoio por escrito das Executivas dos partidos que apoiavam Campos.

Aqui entra o questionamento. O PSB irá apoiar Marina? Campos era a figura central e agregadora da campanha, equilibrando os interesses diversos do seu partido com os integrantes do campo de Marina –com efeito, eles ainda se denominam parte da Rede, a agremiação que a ex-senadora fracassou em montar para disputar a eleição.

As coisas eram tão tensas que o comando da campanha era sempre duplo. Para cada instância decisória do PSB, havia uma da Rede. Mesmo formalmente filiada ao PSB, Marina nunca escondeu que seu plano ainda é viabilizar o seu partido.

Assim, as alas que nunca engoliram Marina, como a do chefão partidário Roberto Amaral, poderão ter dificuldade em assinar um cheque em branco para a vice de Campos virar a titular da chapa. Temerão ser alijados de um eventual governo Marina, esfacelando-se como partido.

Para esses pedaços do PSB, um aceno amigo do PT por uma neutralidade no pleito em troca da volta do partido ao governo em um hipotético segundo mandato de Dilma é uma opção absolutamente lógica. Na visão de petistas, mas não só deles, sem um terceiro candidato viável no páreo não haverá segundo turno –e Dilma deverá ser reeleita.

Por outro lado, há o óbvio: a comoção generalizada com a morte de Campos deve levar a um clima em favor da unção de Marina como sua substituta. Afinal, ela era a vice escolhida: se ele tivesse sofrido o acidente na Presidência, ela assumiria.

E há o fato de que Marina sempre foi uma pré-candidata mais forte que Campos. Surfou melhor nas pesquisas eleitorais do que pessebista, devido ao "recall" de sua excelente votação em 2010 –quando teve 19% dos votos no primeiro turno. Antes de a Rede ser indeferida pela Justiça e de ela unir-se surpreendentemente a Campos no ano passado, ela era a segunda colocada em intenções de voto.

Claro, Marina também poderá recusar a tarefa. Não seria a primeira vez que a ex-senadora causaria uma surpresa eleitoral; a primeira foi sua votação em 2010, a segunda, sua aliança com Campos em 2013. Aí a situação ficará muito difícil para Aécio Neves (PSDB), por mais que ele tenda a herdar parte dos votos de Campos.


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