Folha de S. Paulo


Governo do Maranhão furou fila dos precatórios, diz contadora

O governo do Maranhão recebeu R$ 6 milhões em propina para furar a fila de pagamento de precatórios e antecipar um pagamento de cerca de R$ 120 milhões para a empreiteira UTC/Constran, segundo a contadora Meire Poza, que trabalhou com o doleiro Alberto Youssef.

Segundo ela, um funcionário de Youssef que foi entregar R$ 300 mil na sede do governo do Maranhão foi questionado por um assessor do governo. O assessor "teria dito que o valor era pouco e que teria de consultar a governadora para saber se ela aceitava apenas esse recurso", referindo""se a Roseana Sarney (PMDB).

Os detalhes sobre o pagamento do precatório foram revelados nesta segunda (11) pelo "Jornal Nacional".
Furar fila de precatório caracteriza, em tese, crime de responsabilidade, um dos motivos que podem levar ao impeachment de governador. Roseana já anunciou que abandonará a vida política.

Youssef estava em São Luís (MA) cuidando desse negócio quando foi preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, em 17 de março deste ano. De acordo com a contadora, o doleiro recebeu 15% pela operação, o equivalente a R$ 18 milhões.

A Constran teria contratado o doleiro para receber o precatório porque não conseguia receber do governo pela pavimentação de estrada que executara nos anos 1980. A contadora diz que ficou sabendo de detalhes da história por meio de um diretor da Constran chamado Augusto Pinheiro.

Um desses detalhes é que Youssef teria deixado um pacote com R$ 1,4 milhão com um certo Marcão no dia em que ele foi preso em São Luís. De acordo com a contadora, Marcão teria parentes ou conhecidos no governo do Maranhão.

Meire citou alguns integrantes do governo do Maranhão que estariam envolvidos no esquema: João Guilherme, da Casa Civil, Roberth Bringel, assessor do governo, Maria da Graça Marques Cutrim, do Instituto de Previdência do Estado, e a procuradora Helena Maria Cavalcante Haickel.

OUTRO LADO

A Folha não conseguiu localizar assessores da governadora na noite desta segunda-feira (11), na sede do governo maranhense. A Constran diz em nota que não furou a fila dos precatórios, como alegou a contadora no depoimento à PF.

"Como é de conhecimento público, a empresa celebrou, de forma transparente, um acordo com o governo do Maranhão em 12 de novembro de 2013 para receber por obra realizada em 1988. O acordo foi realizado seguindo todos os trâmites legais e respeitou todos os prazos estabelecidos pela lei." A empreiteira diz repudiar a "tentativa de relacioná-la ao pagamento de propinas".


Endereço da página: