Folha de S. Paulo


Relator da CPI mista da Petrobras diz que vai convocar contadora de doleiro

O deputado Marco Maia (PT-RS), relator da CPI Mista da Petrobras, afirmou neste domingo (10) que vai pedir a convocação da contadora Meire Poza para depor sobre suas denúncias envolvendo o doleiro Alberto Youssef.

No sábado, o PPS, o DEM e o PSDB defenderam a convocação de Meire. Para Maia, a profissional é agora "peça chave" da investigação, assim como o próprio Youssef. Os partidos prometem solicirar a convocação dela nesta segunda-feira (11), tanto junto à CPI mista quanto por meio da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara.

Em entrevista à revista "Veja", Meire, que era contadora de Youssef, preso na operação Lava Jato, revelou detalhes sobre como funcionava o esquema deflagrado pela Polícia Federal. Seus beneficiários, segundo a contadora, seriam empreiteiras, políticos e agentes públicos.

ESQUEMA

Segundo o relato da contadora, que trabalhou com o doleiro durante três anos, o deputado federal André Vargas (sem partido-PR) ajudou Alberto Youssef a lavar R$ 2,4 milhões por meio de uma empresa do Paraná.

A contadora disse que a viagem de jatinho entre Londrina (PR) e João Pessoa (PB), paga pelo doleiro, foi uma retribuição à ajuda de Vargas. A viagem foi revelada pela Folha em 1º de abril.

Youssef foi preso em 17 de março pela Operação Lava Jato, sob acusação de comandar um esquema de lavagem que girou R$ 10 bilhões. A contadora disse à revista que o esquema de Youssef envolvia parlamentares do PT, do PMDB e do PP.

Meire Poza contou que o deputado Luiz Argolo (SDD-BA) era sócio em uma série de negócios com Youssef. A contadora afirmou que o doleiro pagou uma dívida de campanha do deputado Candido Vaccarezza (PT-SP). Como compensação, um assessor do parlamentar conseguiu em 2011 que um fundo de pensão do Tocantins investisse num fundo que Youssef criara, o Viaja Brasil. Prefeitos que investiam no fundo recebiam 10% do valor aplicado como propina. "E era sempre nas prefeituras do PT". Ela afirmou que os R$ 50 mil que o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) recebeu por meio do doleiro foram repassados pelo empresário Pedro Paulo Leoni Ramos.

De acordo com a contadora, o doleiro era tão ligado ao PP que comprou um helicóptero para que os parlamentares daquele partido fizessem campanha. O PP era o partido original de Argôlo, antes de ir para o Solidariedade.

Segundo ela, as empresas que queriam fazer negócios com a Petrobras tinham de pagar "pedágio" para o ex-diretor Paulo Roberto Costa, que está preso, e o doleiro era o responsável por essa operação junto com empreiteiras. Ele disse ter visto Youssef entregar uma mala de dinheiro na OAS. Ainda segundo ela, a Camargo Corrêa tinha um esquema exclusivo de pagamento de comissões com Paulo Roberto Costa.

Neste sábado (9), a Folha revelou que a contadora contou à PF que as empreiteiras sabiam que os serviços de consultoria pelos quais pagavam ao doleiro eram uma fraude.

Segundo o relato dela à "Veja", os recursos que as empreiteiras repassavam ao doleiro acabavam com políticos e partidos: "Havia um fluxo constante de entrada e retirada de malas de dinheiro em pelo menos três grandes empreiteiras", disse ela. O Beto [Youssef] lavava o dinheiro para as empreiteiras e repassava aos políticos."

OUTRO LADO

"Não leio a 'Veja'. Não conheço esta senhora, mas li seu depoimento na PF e ela não me cita", disse Vargas, ressaltando que seu nome não aparece nos depoimentos da contadora.

Vaccarezza afirmou não ter relações com Youssef nem é investigado pela PF. Leoni Ramos negou ter feito pagamento a Collor. A Folha não conseguiu contato com Collor, Argôlo e as empreiteiras.


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