Folha de S. Paulo


Oposição pede para PGR investigar alteração em perfil de jornalistas

A oposição pediu nesta sexta-feira (8) para a PGR (Procuradoria-Geral da República) investigar a alteração feita por computadores do Palácio do Planalto nos perfis dos jornalistas Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg na Wikipédia, espécie de enciclopédia virtual.

Reportagem do jornal "O Globo" afirma que um IP da Presidência da República foi usado na Wikipédia para fazer as alterações. O IP é uma espécie de identidade digital que permite saber de onde partiram as modificações –que, nesse caso, saíram de computadores da Presidência.

Líder do PPS, o deputado Rubens Bueno (PR) argumenta na representação encaminhada ao Ministério Público que servidores do Planalto cometeram crimes de desvio de conduta funcional e falsidade ideológica, entre outros, que precisam ser investigados. Além do PPS, o PSDB também promete ingressar com representação para apurar o fato.

"Essa alteração dos perfis dos jornalistas é mais um exemplo de como o PT usa a máquina pública para atacar o contraditório, a opinião isenta. O mais grave é que isso foi feito dentro do Palácio do Planalto. Por isso, estamos pedindo ao Ministério Público que apure com rigor mais este absurdo, apontando os responsáveis", afirmou Bueno.

Presidente do DEM, o senador José Agripino Maia (RN) disse à Folha que o fato traduz o "temor" do governo em relação às pessoas que traduzem a sua política econômica. "Esses jornalistas são experts em passar uma linguagem compreensível da economia. Isso traduz o temor que o governo tem de que pessoas expliquem ao povo o que está por trás da economia", afirmou.

Agripino disse que a prática é um "bolivarianismo venezuelano" que é inadmissível em um país como o Brasil. "Isso é assemelhado ao que ocorreu com o episódio do banco Santander. É uma escalada de presunção e prepotência como nunca visto."

Segundo o jornal "O Globo", no perfil de Miriam Leitão foi incluída a informação de que suas análises sobre a economia brasileira são "desastrosas" e que ela teria feito a defesa de banqueiros como Daniel Dantas.

Em relação a Sardenberg, o equipamento do Planalto adicionou que ele é irmão de Rubens Sardenberg, presidente da Febraban (Federação Brasileira dos Brancos), uma instituição que teria "interesse na manutenção dos juros altos no Brasil", além de que o jornalista teria cometido "erros notáveis" em suas análises.

De acordo com o jornal, o Planalto afirmou que "o número do protocolo de internet (IP) citado pela reportagem é o endereço-geral do servidor da rede sem fio do Palácio do Planalto. Isso significa que qualquer pessoa que utilizou essa rede via internet móvel terá como endereço de saída este número geral de IP. Por isso, não é possível apontar com segurança a identidade de quem alterou os textos citados pela reportagem a partir deste número de IP em maio de 2013".

TEMER E IDELI

O mesmo endereço de IP registrado em nome da Presidência, que foi usado para editar a página do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha na Wikipédia, atuou para retirar informações possivelmente constrangedoras das páginas do vice-presidente Michel Temer (PMDB) e da secretária de Direitos Humanos Ideli Salvatti.

No primeiro caso, a página de Temer sofreu alterações em relação à biografia de sua mulher, Marcela Temer. Foram retiradas a idade e a informação de que, antes de se casar com o vice-presidente, ela foi candidata a miss em Paulínia (a 117 km de São Paulo).

O computador da Presidência também foi usado para retirar a informação de que Temer é membro da maçonaria. Ambas as mudanças no texto foram feitas em outubro do ano passado, mas somente a primeira não foi revertida.

No caso de Ideli, foi retirada a informação de que ela votou a favor do arquivamento de ações contra o senador José Sarney (PMDB-AL) na Comissão de Ética da Casa, em 2009. Também foi suprimida uma frase que a ministra disse à época: "Vou ser triturada politicamente". Ambas as mudanças, feitas em janeiro deste ano, foram posteriormente revertidas por editores da Wikipédia.

Onze computadores do governo federal foram usados para fazer alterações em páginas da Wikipédia, entre elas uma de dentro da Presidência a favor do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, conforme a Folha revelou no dia 28 de julho.

A conexão à web da Presidência foi usada para retirar trecho sobre suspeitas de corrupção na Funasa (Fundação Nacional da Saúde) quando Padilha era diretor do órgão, e incluir elogio ao programa Mais Médicos. "Com o sucesso do Mais Médicos, Padilha se torna um dos pré-candidatos petistas à disputa pelo governo de São Paulo em 2014", dizia o texto.


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