Folha de S. Paulo


Região de bares em BH tem princípio de tumulto, furtos e 17 detidos

A cidade que se coloriu durante esta terça-feira (8) em Belo Horizonte terminou o dia cinza. O amarelo das camisas ficou pálido e, assim que a partida foi encerrada em campo, com goleada histórica da Alemanha sobre o Brasil de 7 a 1, o centro da cidade estava parado. Silêncio absoluto, nem um carro passava.

No bairro da Savassi, região com grande concentração de bares, houve um princípio de tumulto ao final do primeiro tempo do jogo, quando um grupo de torcedores começou a queimar uma bandeira. Policiais militares tentaram apagar o fogo e pelas costas foram atingidos por uma lata de cerveja. Para dispersar o grupo, a PM usou gás. Três foram detidos.

Para controlar qualquer confusão que possa vir a acontecer por parte de torcedores mais exaltados, a Cavalaria, Tropa de Choque e policiais do Batalhão Copa fazem esse monitoramento. "São 13 mil policiais nas ruas de toda a cidade, preparados para prevenir ocorrências", afirma o assessor de comunicação da PM, tenente-coronel Alberto Luiz.

Às 20h50, a PM divulgou balanço parcial das ocorrências relacionadas à partida na cidade. Segundo esse levantamento, 17 pessoas foram detidas. Foram registrados casos de furto, venda de ingressos, porte de arma, uso de documento falso, porte de réplica de pistola e de explosivos, ato obsceno e agressão.

DEBANDADA

Em vez da praça Diogo Vasconcelos ficar cada vez mais lotada, a ponto das autoridades limitarem a entrada como nas partidas anteriores, o que se via era mais gente saindo do que chegando. Enquanto muitos deixavam o local, a função ingrata de embalar a derrota histórica no palco Savassi Cultural era do cantor Lô Borges, fã declarado de futebol.

Sentados à beira de um meio fio, os amigos Diogo Santiago, 24, vendedor, e Alexa Soares, 17, estudante, ainda não acreditavam no que viram pelo telão armado na Savassi. "Viemos esperando uma vitória. Não dava para imaginar que seria assim", diz Diogo. "Se perdesse de 2 a 1, dava para entender, mas 7 a 1?", indaga Alexa. Para Diogo, a festa perdeu a graça. "Vim preparado para virar a madrugada aqui, na comemoração, mas agora não tem mais graça", afirma.

O vendedor ambulante de bebidas Morlan Gonçalves, 28, ficou duplamente triste: pelo fracasso em campo e pelo fracasso nas vendas. Como muita gente decidiu deixar a festa mais cedo, o faturamento com cerveja, refrigerante e água foi o pior neste Mundial. "Agora é torcer para pelo menos os alemães aparecerem para comemorar", brinca ele, que cogita até a diminuir o preço das bebidas para não ficar com encalhe.

O casal de namorados Flávia Nogueira, professora, e Carlos Alexandre do Amaral, bancário, marcou de se encontrar na Savassi para curtir a farra. Com camisas e bandeiras, eles saíram de suas casas em lados opostos e extremos da cidade –ela mora em Venda Nova e ele, no Barreiro– para se encontrar na região, que fica no meio do caminho para ambos.

"Paguei uma grana preta de táxi para vir assistir o jogo aqui com ela e comemorar no lugar mais animado e foi só decepção", diz Carlos Alexandre. "Está dando vergonha usar essa camisa agora", diz Flávia, sobre a peça oficial que ganhou do namorado.

Se por um lado os torcedores mais ligados em futebol estavam inconsoláveis e revoltados, os que estavam na Savassi pela farra deram continuidade à festa. O estudante André Lobato, por exemplo, não pretendia sair dali tão cedo. "Agora é beber para esquecer", diverte-se. "No fim das contas, é só futebol", acrescenta.


Endereço da página:

Links no texto: