Folha de S. Paulo


Regra é troféu da Copa do Mundo ser entregue por chefes de Estado

Na maior parte das Copas, foi o chefe de Estado do país anfitrião quem entregou o troféu mais conhecido do esporte à seleção campeã.

Mas há exceções, e uma delas é o último Mundial no Brasil. Em 1950, a entrega foi feita pelo homem que batizava a taça, o francês Jules Rimet, que comandava a Fifa, e não pelo então presidente do Brasil, Eurico Gaspar Dutra.

Aquela premiação, por sinal, foi bastante, atípica –a própria Fifa fala em "encerramento insólito". Não houve cerimônia de entrega nem discurso oficial após o Maracanazo. As imagens mostram que, no meio de um pequeno tumulto, Rimet passou a taça às mãos do capitão do Uruguai, Obdulio Varela.

A Folha checou vídeos, imagens e narrativas da premiação. Apenas em 1934 não foi possível identificar quem repassou o troféu –vários relatos apontam que o capitão da Itália, Gianpiero Combi, o recebeu do ditador de seu país, Benito Mussolini, mas não foi encontrada nenhuma imagem disso. Consultada, a Fifa disse que não dispõe de uma lista de quem protagonizou a cerimônia.

Segundo a entidade, "a responsabilidade [pela entrega] é do presidente da Fifa, e há uma tradição de que o presidente da Fifa e o chefe de Estado entreguem o troféu para o time vencedor".

Foi assim no último Mundial, quando o presidente da Fifa, Joseph Blatter, e o da África do Sul, Jacob Zuma, passaram o troféu às mãos do capitão espanhol, o goleiro Iker Casillas.

Quatro anos antes, também foi feita uma dobradinha, mas Blater abriu mão de participar. Numa final totalmente europeia (Itália e França disputaram o título na Alemanha), ele resolveu homenagear o sueco Lennart Johansson, que comandava a Uefa, responsável pelo futebol no continente. Johansson e então o presidente da Alemanha, Horst Köhler, estiveram presentes na cerimônia em que o italiano Fabio Cannavaro ergueu o troféu. Só que as imagens mostram que, no meio do comemoração, quem de fato passa a taça para Cannavaro erguer não é nenhum dos dois, e sim Angelo Peruzzi, goleiro reserva da Itália.

No último título brasileiro, em 2002, houve outra dobradinha, mas sem chefe de Estado –foi a primeira e única Copa realizada em dois países, Japão e Coreia do Sul, o que exigiu um malabarismo diplomático da Fifa. Após a final, Cafu recebeu a taças das mãos de Blatter e de Pelé.

Nesse Mundial asiático, assim como em 2006, a premiação foi feita num palco montado no gramado. Em 2010, voltou a ocorrer na tribuna, como havia acontecido em 1998, quando, em seu último Mundial como presidente da Fifa, João Havelange repassou o troféu para uma festa totalmente francesa: o presidente Jacques Chirac entregou-o ao capitão Didier Deschamps.

Nos EUA, em 1994, coube ao vice-presidente americano, Al Gore, passar a Taça Fifa ao capitão brasileiro, Dunga -que dali mesmo disparou palavrões contra os críticos do time. O titular da Casa Branca, Bill Clinton, havia comparecido à cerimônia de abertura, em Chicago.

Daí para trás, há uma longa sequência de Copas em que o troféu foi entregue pelo próprio chefe de Estado:
– em 1990, foi do presidente italiano, Francesco Cossiga, para o capitão alemão, Lothar Matthäus.
– em 1986, o presidente do México, Miguel de la Madrid, passou a taça para Maradona.
– em 1982, o rei Juan Carlos, da Espanha, fez a entrega ao italiano Dino Zoff.
– em 1978, o ditador argentino Jorge Videla premiou seu compatriota Daniel Passarella.
– em 1974, Walter Scheel, que havia assumido a presidência da Alemanha seis dias antes da final da Copa, entregou o troféu a Franz Beckenbauer.
– em 1970, o presidente mexicano, Gustavo Díaz Ordaz, protagonizou a cena clássica com o capitão Carlos Alberto Torres, o último a erguer a taça Jules Rimet (o Brasil a conquistou em definitivo com o tri).
– em 1966, uma festa britânica: a rainha Elizabeth 2ª repassou-a ao capitão Bobby Moore.

A sequência é quebrada em 1962, no Chile. Foi o presidente da Fifa, o inglês Stanley Rous, que passou a taça ao capitão brasileiro, Mauro. Já em seu antecessor, Bellini, ganhou-a em 1958 das mãos do rei Gustavo 6º, da Suécia.

Em 1954, em sua despedida da Fifa, Jules Rimet entregou o troféu ao capitão alemão, Fritz Walter, assim como fizera no Brasil quatro anos antes.

Antes da Segunda Guerra, em 1938, coube ao então presidente francês, Albert Lebrun, passar ao italiano Giuseppe Meazza a taça. Ela era então conhecida apenas como "Copa do Mundo" –só foi batizada como Jules Rimet em 1946.

No primeiro Mundial, foi também Jules Rimet quem fez a entrega. Só que quem a recebeu não foi o capitão uruguaio, José Nasazzi, e sim o presidente da federação de futebol do país, Raúl Jude.


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