Folha de S. Paulo


'Quem cresceu mais do que o Brasil ? Pouquíssimos', diz Lula a repórteres

Em entrevista a nove correspondentes estrangeiros, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu nesta quinta-feira (3) que o crescimento da economia no governo Dilma Rousseff não é o ideal, mas não vê necessidade de mudança nos rumos da política econômica.

Lula minimizou o desempenho da economia brasileira alegando que o cenário internacional ainda enfrenta os efeitos da crise de 2009. Ele justificou que o Brasil passa pela mesma desaceleração que atinge a Europa e os Estados Unidos, mas tem a seu favor a criação empregos em ritmo acelerado.

"Obviamente o nosso PIB não é o PIB que a gente gostaria", disse Lula segundo a agência internacional Reuters. "Quando as pessoas acham que o Brasil não cresceu muito nestes últimos quatro anos, a pergunta que faço é: 'quem cresceu mais do que o Brasil'?", indagou.

A fala do ex-presidente segue o tom adotado desde a semana passada quando o petista abandonou o tom crítico expressado em eventos recentes e passou a fazer uma defesa da gestão de Dilma para o mercado.

Empresários reagiram mal a um discurso recente de Lula, em evento em Porto Alegre, no qual ele criticou publicamente o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, defendendo que o governo deveria liberar mais crédito e gastar mais.

Parte do empresariado pensa o contrário: para eles, um dos problemas da gestão Dilma foi exatamente não segurar os gastos, o que pressionou a inflação.

Sob Dilma, o governo tem tido dificuldade para cumprir a meta de poupança para pagar os juros da dívida pública devido ao descompasso entre a arrecadação, que cresce em ritmo lento, e os gastos, em expansão.

O PIB brasileiro tem crescido 2% em média desde 2011, quando Dilma assumiu a Presidência. A inflação tem ficado acima dos 6%. Os candidatos da oposição ao Planalto, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), têm aproveitado as dificuldades no setor para tentar desgastar o governo e se aproximar do mercado.

"Tem gente que acha que nós precisamos, para derrubar mais a inflação, ter um pouco de desemprego. Nós não pensamos assim", disparou Lula.

Questionado sobre a desenvoltura de outros países na América Latina, como Peru e Chile, Lula rebateu: "Eles são pouquíssimos".

Reforçando o papel de fiador de Dilma, Lula disse que, se for reeleita, sua sucessora e afilhada política vai desenvolver novas concessões de infraestrutura para acelerar o crescimento da economia e defendeu a Petrobras, investigada por duas CPIs no Congresso, sustentando que o plano de investimentos da estatal é "uma coisa excepcional".

ACENO

Em um aceno ao mercado, Lula disse que é possível recuperar o bom momento da economia em conjunto com o setor. "Acho que a gente tem condições de recuperar capacidade do crescimento do Brasil, inclusive em parceria com o setor privado. As reformas que a gente tem que fazer são reformas mais pontuais."

O ex-presidente voltou a destacar a importância de ampliar a participação da juventude na política após os protestos de junho. "A desgraça de quem não gosta de política, é que ele é governado por quem gosta", citou.

De acordo com a agência Efe, Lula disse ser fã do atacante uruguaio Luis Suárez, que acabou expulso da Copa após ter mordido o italiano Giorgio Chiellini durante o jogo entre Uruguai e Itália pela Copa do Mundo.

O petista, porém, destacou que ele merecia ser punido pela postura. "Se Suárez mordesse o italiano em um restaurante, não ia receber nove jogos de suspensão, que talvez sejam muitos. Mas foi em um campo de jogo. Não sei se estava pensando em uma picanha uruguaia, mas não tem explicação. A Copa é ensino de prática esportiva também", disse Lula.

O ex-presidente disse entender a reação uruguaia à sanção da Fifa e do presidente José Mujica que chamou de "velhos filhos da p..." os dirigentes da entidade por conta da punição.

"Reconheço a defesa eloquente que o presidente José 'Pepe' Mujica fez de Luis Suárez", comentou.

"Sou fã de Suárez porque acompanho muito o Campeonato Inglês e no futebol estamos acostumados com entradas duras, cotoveladas", completou.
com agências


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