Folha de S. Paulo


MPL faz ato para discutir repressão em protestos; PM reforça segurança

O MPL (Movimento Passe Livre) realizou na tarde desta quarta-feira (2) um ato na praça da Sé, na região central de São Paulo.

Cerca de 150 pessoas estavam no local, segundo estimativa da Polícia Militar, e fizeram um debate público sobre a repressão aos movimentos sociais. Os organizadores estimam que o número de participantes tenha chegado a 300.

A Tropa de Choque, a cavalaria e a Tropa do Braço (que atua sem armas) acompanharam o ato à distância. Segundo o MPL, a PM falou que eles não poderiam se reunir na frente do Tribunal de Justiça, onde o movimento pretendia fazer o debate, pois é uma área de segurança. O grupo então decidiu seguir até a praça da Sé, a cerca de 50 metros, com a concordância da polícia.

Durante todo o ato, foram montadas barreiras de policiais ao redor de onde os manifestantes se reuniam. Após o debate, eles foram proibidos de sair em direção à praça da Sé por se tratar de "uma área de segurança."

Logo no início do ato, um representante do movimento afirmou que o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, foi chamado para participar do debate, mas não compareceu. A assessoria da secretaria, no entanto, afirmou que Grella "sequer foi convidado".

Além do MPL, também participaram do debate membros de movimentos por moradia, o padre Júlio Lancelotti, um funcionário da viação Gato Preto demitido durante a greve de motoristas e cobradores de ônibus na capital, uma moradora da favela do Moinho, na região central, e o presidente do Sintusp (sindicato dos funcionários da USP).

"Esta praça cheia significa que algo está errado. Ela ficou assim no culto após a morte de Wladimir Herzog e hoje está covardemente cercada por covardes. Mas não desistam, não desanime. Não tem arrego e a gente tem que se manter firme na luta contra a repressão", disse o padre Júlio Lancelotti se referindo ao policiamento reforçado.

Durante o debate, membros de movimentos sociais e pessoas que assistiam discutiram sobre a atuação da Polícia Militar em favelas e manifestações. "Há uma clara tentativa do governo tentar reprimir todos os protestos de uma forma cada dia mais agressiva. Precisamos nos unir para combater as ilegalidades e denunciar excessos dos policiais", afirmou um membro do Passe Livre.

No final do ato, Mariana Toledo, membro do MPL, disse que o movimento vai divulgar um manifesto feito por juristas. "A intenção é mostrar o outro lado das prisões arbitrárias que ocorreram nos últimos protestos. Queremos criar um debate para que ouçam a nossa versão da história para que os movimentos sociais não sejam calados", disse.

O grupo também afirmou que vai entrar com um pedido de habeas corpus para trancar o inquérito 01/2013 do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) que investiga manifestantes.

Também esteve no ato o músico Joel Costa de Oliveira, 32, cujo nome artístico é James Jones. Ele foi detido na noite de terça (1º) durante um outro ato na praça Roosevelt, no centro da capital paulista. Ele foi encaminhado ao 78º DP (Jardins) e liberado após assinar um termo circunstanciado por desacato.

O ato de terça reuniu em torno de 300 pessoas e terminou em confusão e cinco pessoas detidas, entre elas dois advogados. Houve uso de gás lacrimogêneo e balas de borracha por parte da polícia. Ao menos três das cinco pessoas detidas afirmaram terem sido agredidas por policiais.

A PM afirmou em nota que a confusão começou quando um grupo impediu que uma mochila fosse revistada. A corporação afirmou ainda que o "ato de algum policial que possa ser considerado abusivo, solicitamos que formalizem sua denúncia na Corregedoria da Polícia Militar (rua Alfredo Maia, 58- bairro Luz)".


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