Folha de S. Paulo


PM usa balas de borracha contra manifestantes durante protesto em SP

Policiais militares lançaram bombas de gás lacrimogêneo e dispararam balas de borracha contra manifestantes que participavam de um protesto na praça Roosevelt, no centro de São Paulo, na noite desta terça-feira (1º). Pelo menos seis pessoas foram detidas.

O ato reuniu cerca de 300 pessoas, segundo a PM. Os manifestantes foram levados ao 78º DP (Jardins). Cinco deles, incluindo dois advogados e dois manifestantes do MPL (Movimento Passe Livre), foram liberados após assinar termo circunstanciado por desacato. Uma ativista prestou depoimento como testemunha.

Centenas de policiais militares cercaram a praça antes mesmo do começo do ato que pediu a libertação de dois manifestantes presos durante protesto na avenida Paulista no último dia 23. Os PMs revistaram os participantes da manifestação e anotaram seus respectivos nomes.

Por volta das 19h20, dois advogados ativistas –que fazem parte de um grupo que dá assistência jurídica a manifestantes– foram detidos. Eles foram colocados num carro da PM e levados para o 78ºDP. Segundo testemunhas, os advogados Daniel Biral e Silvia Dascal foram "arrastados para dentro de um camburão".

Segundo o advogado ativista André Zanardo, a detenção ocorreu no momento em que Silvia questionou por que alguns policiais estavam atuando sem identificação. Jornalistas foram impedidos de fazer imagens do momento da detenção.

Às 20h20, um grupo de ativistas cercou PMs que revistavam uma pessoa. Em seguida, os policiais começaram a fazer os disparos e lançar as bombas contra os manifestantes. A Folha constatou que mais quatro pessoas foram detidas. Alguns PMs lançaram spray de pimenta contra jornalistas que cobriam o ato.

Por volta da 1h25, os irmãos Isaac Jacob e Samuel Jacob, ambos do MPL, foram os últimos liberados. Os irmãos negam a acusação de desacato e afirmam que a PM foi arbitrária.

A sala de imprensa da PM e a SSP (Secretaria de Segurança Pública) confirmaram apenas a detenção dos dois advogados. Já sobre a ação da polícia, a Polícia Militar afirmou que não tinha detalhes, mas que encaminhará a demanda ao comando e que responderá assim que tiver os dados a respeito.

DEBATE

O ato teve uma espécie de assembleia organizada pelo grupo Território Livre. Os organizadores montaram uma mesa com microfones e caixas de som, que são usados para discursos de manifestantes. Duas faixas foram estendidas na praça com as inscrições "Libertem nossos presos políticos" e "Pelas liberdades democráticas".

O ato teve a participação do padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo. Segundo os manifestantes, trata-se de um ato de repúdio às prisões do professor Rafael Marques Lusvarghi, 29, e do estudante Fábio Hideki Harano, 26.

Segundo a Polícia Civil, Lusvarghi e Harano são "black blocs" –ativistas que pregam a depredação do patrimônio. Eles respondem por associação criminosa, incitação à violência, resistência à prisão, desacato à autoridade e porte de artefato explosivo. Ambos negam as acusações.

Segundo o padre, as prisões são políticas. "[Policiais] estão querendo mostrar serviço. As acusações da polícia são delirantes, não há provas consistentes", disse. Rafael Padial, um dos líderes do Território Livre, disse que não haverá passeata. "É um debate público sobre as prisões arbitrárias", afirmou.

No dia 23, quando Lusvarghi e Harano foram presos, um observador legal também foi detido, mas liberado em seguida. A PM afirmou que a detenção aconteceu por porte de drogas. Os Observadores Legais são um grupo ligado a entidades de direitos humanos e fiscalizam possíveis situações de conflito.


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