Folha de S. Paulo


Polícia Civil prende mais 2 e encerra investigação do caso Malhães

Policiais da DHBF (Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense), em Belford Roxo, prenderam às 6h desta segunda-feira (30) mais dois suspeitos de envolvimento no caso Malhães e concluíram o inquérito, no qual afirmam que a morte do tenente-coronel não foi premeditada.

Coronel reformado do Exército, Paulo Malhães morreu no dia 25 de abril em seu sítio, no interior de Nova Iguaçu. De acordo com a polícia, sua residência foi invadida por Rodrigo Teles e Anderson Pires Teles, irmãos do caseiro Rogério Teles. Os três já estão presos.

Titular da DHBF, o delegado Pedro Medina disse que o objetivo era revender o armamento. "Eram 13 armas ao todo, sendo uma ponto 40, que derruba até helicóptero. Todas foram recuperadas e reconhecidas pela viúva Cristina Batista Malhães."

Osni Alves/Folhapress
Delegado Pedro Medina mostra a foto dos cunhados dos irmãos Teles, presos nesta segunda-feira
Delegado Pedro Medina mostra a foto dos cunhados dos irmãos Teles, presos nesta segunda-feira

Medina falou que o caso foi latrocínio (roubo seguido de morte). "Eles não receberam dinheiro, como mostrou a quebra de sigilo bancário. Portanto, queima de arquivo está descartada", disse, em referência a possibilidade da morte do militar ter ligação com sua atuação como torturador durante a ditadura militar (1964-1985).

Presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous declarou que "se é o que mostra o inquérito [morte não premeditada e latrocínio], não há o que questionar." Sendo assim, acrescentou, foi uma infeliz coincidência a morte do coronel um mês depois de prestar depoimento à comissão.

Segundo Medina, além da investigação apontar para essa direção, os irmãos Pires confessaram que o interesse deles estava nas armas, fato que se confirmou com a prisão de Maicon José Candido e Alex Sandro de Lima, detidos nesta segunda. Eles são casados com as irmãs dos Pires, portanto cunhados, e vão responder por roubo qualificado.

A atribuição de cada um no caso, de acordo com Medina, foi a seguinte: "Rogério repassou as informações e sabia do roubo com um mês de antecedência, e Rodrigo e Anderson foram os executores." Os cunhados tiveram a missão de tirar as armas e os irmãos Teles do sítio. "Era com eles que o encapuzado [Anderson] se comunicava por telefone de dentro da casa. Por não saberem dirigir, eles [Rodrigo e Anderson] até bateram o carro [um Kadett] ainda na propriedade.

As denúncias já foram aceitas pelo MPF (Ministério Público Federal) e todos os envolvidos estão com prisão decretada, informou Medina.

De acordo com a Defensoria Pública, Candido e Lima poderão contar com um defensor caso não constituam advogados. "É provável que haja colidência de defesa, quando a acusação entre réus exige substituição de advogados. Assim sendo, outro defensor da 2ª Vara Criminal de Nova Iguaçu poderá assumir o caso", informou por meio de sua assessoria.

LADRÕES FORAM SURPREENDIDOS

O delegado Medina disse que Rodrigo e Anderson foram surpreendidos com o retorno de Malhães e sua esposa de volta ao sítio enquanto eles ainda estavam lá dentro, em 25 de abril. "Eles queriam apenas subtrair as armas, mas tiveram que forjar o roubo", disse.

Ele acrescentou que o caseiro Rogério não comunicou ao coronel o que estava acontecendo no sítio, fato que o incrimina ainda mais. "Malhães tinha uma pistola no porta-luvas de seu carro. Ele tinha ido a uma veterinária vacinar um de seus cachorros", falou.

Já o laudo do IML (Instituto Médico Legal) quanto à morte do militar informa que ele teve um infarto. Os delegados da DHBF não questionam o resultado, mas informam que o legista confirmou à polícia que uma possível asfixia poderia desencadear o infarto.

De acordo com o delegado assistente Willian Jr, Rodrigo confirmou que agrediu o militar. A forma como o corpo foi encontrado –de bruços com o rosto sobre um travesseiro e uma poça de sangue ao lado da cabeça– aponta para uma morte não natural.

"Dos dois, apenas Rodrigo tinha conhecimento da vida pregressa de Malhães e disse à viúva que aquilo era uma vingança devido a uma agressão passada, o que gerou especulação na imprensa. Depois, ele nos confessou que disse aquilo para despistar investigações futuras", disse Willian Jr.

Ainda segundo o delegado assistente, não era para nada daquilo ter acontecido. Eles estavam tão confiantes da facilidade do roubo que vestiam bermuda e chinelos. À Folha, Willian Jr disse que apenas Anderson tentou se precaver, vestindo uma touca ninja e, posteriormente, sendo reconhecido pela viúva pelas tatuagens.


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