Folha de S. Paulo


Sem votar, PP repassa ao comando da sigla decisão sobre aliança com Dilma

Numa vitória da presidente Dilma Rousseff, o PP (Partido Progressista) decidiu nesta quarta-feira (25) transferir à Executiva Nacional da sigla a decisão sobre a aliança com o PT nas eleições de outubro.

A decisão ocorreu em menos de um minuto, sem votação, conduzida pelo presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PP-PI) –o que abriu uma crise interna no PP.

Acusado de "golpe" por participantes da convenção nacional do partido, Nogueira viabilizou a aprovação-relâmpago da resolução que determina à executiva "escolher candidatos à Presidência ou vice-presidência da República para as eleições que se realização no ano de 2014".

Não foram colhidos votos dos integrantes da sigla, o que irritou a ala contrária à aliança com a presidente Dilma Rousseff. Nogueira sequer colocou em votação outra proposta, apresentada durante a convenção, que defendia a neutralidade do partido na disputa pela Presidência da República.

A postura do presidente do PP surpreendeu inclusive integrantes do partido favoráveis à aliança com o governo, que deixaram o auditório do Senado, onde a convenção foi realizada perplexos, com a decisão da cúpula da sigla.

Nogueira teve que deixar o auditório escoltado por seguranças. Ele quase foi agredido fisicamente por integrantes do PP contrários ao apoio a Dilma, entre eles o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). O senador seguiu para o seu gabinete sem se manifestar sobre a decisão da convenção.

Ao deixar o auditório, integrantes do PP jogaram bolinhas de papel em Nogueira, que saiu da sala sob gritos de "vendido", "covarde" e "vergonha". Durante a convenção, a maioria dos discursos dos filiados ao PP foi favorável à neutralidade do partido na corrida presidencial.

Vice-presidente do PP, a ex-deputada Ângela Amim (SC) disse que vai trabalhar para que a convenção seja decretada nula. Amim disse que vai à Justiça Eleitoral pedir oficialmente que a decisão do PP seja anulada, com o apoio da senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) e outros "dissidentes" da aliança com o governo.

"De forma pouco democrática, se colocou a votação de apenas uma proposta. Entendemos que essa convenção está sem validade porque não houve manifestação majoritária. Foi uma decisão de cima para baixo", protestou Ana Amélia.

Ao transferir a decisão sobre a coligação nacional para a Executiva do PP, Nogueira na prática abre caminho para o apoio à reeleição de Dilma. A maioria dos integrantes da executiva defende a permanência da aliança com o PT, enquanto os "dissidentes" querem a neutralidade da sigla –para que possam apoiar a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência.

Na resolução aprovada, o partido libera os Estados para firmarem livremente coligações, sem seguir a decisão que for tomada pela Executiva Nacional.

NEUTRALIDADE

O governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho (PP), apresentou durante a convenção nacional da sigla moção para que o PP se declare neutro na disputa à Presidência. Fiel aliado de Aécio, a moção de Pinto Coelho tem o apoio de diretórios do PP em sete Estados: Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Amazonas, Ceará e Goiás.

O movimento é liderado no partido pelo presidente de honra da sigla, senador Francisco Dornelles (PP-RS), que defende apoio à candidatura de Aécio, embora o PP integre o governo Dilma. Anastasia deixou o governo para disputar uma cadeira ao Senado, mas articula o apoio do PP à candidatura de Aécio.

Na moção, o grupo favorável à neutralidade afirma que essa decisão vai garantir "unidade" à sigla na disputa de outubro. "Não devemos buscar a União, mas a unidade partidária, deixando que cada realidade siga o seu caminho", disse o governador.

O ministro Gilberto Occhi (Cidades), que é do PP, presente à convenção, defendeu a manutenção da aliança com o PT. "Houve um almoço com a presidente em que o PP confirmou o seu apoio. Divergências acontecem em todos os partidos, é fruto da democracia com o país", afirmou.


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