Folha de S. Paulo


PM diz que acordo com MPL fez tropas acompanharem ato de longe

A Polícia Militar afirmou, em coletiva realizada na noite desta quinta-feira (19), que um acordo feito entre a corporação e o MPL (Movimento Passe Livre) fez com que os policiais acompanhassem à distância o protesto desta tarde entre a região central e a zona oeste de São Paulo.

A manifestação desta quinta terminou com a depredação de, ao menos, duas concessionárias e cinco agências bancárias, além de um carro da TV Gazeta. A reportagem não viu policiais militares acompanhando o ato até o grupo chegar na marginal Pinheiros, onde ocorreram os ataques mais violentos a estabelecimentos.

O coronel da PM, Leonardo Torres Ribeiro, afirmou que tinha um efetivo de 500 homens na região, mas manteve a distância para respeitar o acordo com o MPL. Segundo ele, o movimento protocolou um documento pedindo o distanciamento da PM e se responsabilizou pelo ato, alegando que a PM prejudicou seu último protesto na av. Paulista, que acabou em 15 minutos.

Ribeiro afirmou que estava respeitando a manifestação e destacou que o primeiro momento de depredações, na avenida Rebouças, foi controlado pelos próprios manifestantes. "A depredação independe da presença da Polícia Militar. Ontem, teve uma manifestação de 6.000 pessoas e não houve depredação", afirmou.

Ainda de acordo com o coronel, a PM manteve contato com membros do movimento na maior parte do protesto, mas acabou perdendo a comunicação quando o grupo ainda seguia em passeata. Apenas na marginal Pinheiros, no final do ato, policiais militares passaram a agir contra as depredações, usando bombas de gás contra o grupo.

O coronel afirmou que a decisão de respeitar o pedido do MPL não passou pelo secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, e foi tomada apenas pela Polícia Militar. Ribeiro disse que nos próximos eventos do MPL ele ainda vai avaliar as circunstâncias para definir como a polícia vai agir.

"Atribuímos sim ao MPL essa degradação. Eles que motivaram, eles que promoveram, eles que formalizaram esse pleito do afastamento de qualquer tropa, ou qualquer efetivo da Polícia Militar. Arcando com as consequências, com os resultados do movimento promovido por eles", afirmou o coronel.

Procurado pela reportagem, o membro do MPL Lucas Monteiro, 29, confirmou que foi protocolado um documento pedindo o distanciamento da PM, mas disse que a confusão ocorrida no final do protesto não pode ser apontado como responsabilidade do movimento, pois não há como controlar quem participa da manifestação.

"O objetivo do ato era ser pacífico, não promover destruição. A depredação não aconteceu durante o protesto, a gente já tinha saído de lá quando ela começou, então não cabe ao MPL explicar o motivo. A manifestação não é fechada, o ato é aberto e o MPL não faz o controle de quem entra", afirmou ele.

Mais cedo, ele já tinha afirmado que "não foi o MPL que começou [a destruição] e não conseguimos sequer terminar o nosso ato, pois quando chegamos próximos ao largo da Batata fomos atingidos por bombas da polícia", disse Monteiro.

PROTESTO

O ato começou por volta das 15h, na praça do Ciclista, na avenida Paulista, e reuniu cerca de 1.300 pessoas, segundo estimativa da PM. Entre os manifestantes estavam cerca de 50 mascarados

Os manifestantes seguiram em passeata pela avenida Rebouças, onde um grupo de mascarados depredou ao menos quatro agências bancárias, além de lixeiras e placas de trânsito. Também foi deixado um rastro de pichações por muros e paredes. Não houve interferência da PM no local.

Os manifestantes seguiram até a marginal Pinheiros, onde houve um ato simbólico com a queima de catracas de ônibus feitas de papelão. O grupo deixou a via por volta das 19h em direção ao largo da Batata, onde o MPL encerraria o protesto, quando mascarados voltaram a promover depredação.

Apenas após as ações dos mascarados na região da marginal Pinheiros, a Tropa de Choque foi ao local e usou bombas de gás contra manifestantes, que dispersaram em pequenos grupos. Os "black blocs" usaram lixo para interditar ruas da região de Pinheiros (zona oeste). Houve ainda lixeiras incendiadas, orelhões depredados e vasos de plantas jogados na rua.

Com as ruas bloqueadas pela polícia, os ônibus não conseguiram chegar até o terminal Pinheiros entre as 17h30 e as 19h50. Segundo a SPTrans, foram fechadas a rua Sumidouro –onde estava a Tropa de Choque, segundo o coronel– e a rua Paes Leme, e os coletivos tiveram que sair a partir delas nesse período.

O ato organizado pelo MPL celebrava o aniversário da revogação do aumento da passagem, ocorrido após as manifestações de junho de 2013. Os manifestantes também defendem o fim da tarifa no transporte público e a readmissão dos 42 metroviários demitidos em meio à greve da categoria.


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