Folha de S. Paulo


'Não vou me deixar perturbar por ofensas verbais', diz Dilma sobre vaias

A presidente Dilma Rousseff respondeu nesta sexta-feira (13) às vaias que ouviu nesta quinta na abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão. Ela evocou lembranças da ditadura e do período em que foi torturada pelo regime militar para retrucar ofensas que partiram das arquibancadas do estádio durante o jogo do Brasil.

"Não vou deixar me perturbar por agressões verbais. Não vou me deixar perturbar. Eu não vou me deixar atemorizar por xingamentos que não podem ser sequer escutados pelas crianças e pelas famílias. Aliás, na minha vida pessoal enfrentei situações do mais alto grau de dificuldade. Situações que chegaram ao limite físico. Eu suportei não foram agressões verbais, mas agressões físicas", disse Dilma.

O discurso da presidente foi feito em meio a gritos de uma plateia composta de operários e trabalhadores do sistema de trânsito do DF, na inauguração de um trecho do BRT que atende a cidades do Distrito Federal. Eles entoaram: "A taça do mundo é nossa, com a Dilma não há quem possa" e, depois, "1,2,3 é Dilma outra vez".

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"Suportei agressões físicas, quero dizer pra vocês, quase insuportáveis. E nada me tirou do meu rumo. Nada me tirou dos meus compromissos nem do caminho que tracei pra mim mesma", continuou a presidente.

Nesta quinta, logo após a cerimônia de abertura da Copa, Dilma foi xingada por cerca de um minuto, depois que o locutor pediu palmas para os operários que trabalharam nas obras dos 12 estádios do Mundial.

Encerrados os aplausos aos trabalhadores, os torcedores xingaram a presidente. "Ei, Dilma, vai tomar no c...", gritaram, em coro. "Ei, Fifa, vai tomar no c...", gritaram outros, voltando-se para a entidade internacional responsável pela organização da Copa.

A vaia foi forte na área VIP do estádio, e se espalhou por outros setores. Os protestos recomeçaram logo após a execução do Hino Nacional, quando parte da torcida hostilizou a presidente com o mesmo coro.

"O povo brasileiro não age assim. O povo brasileiro não pensa assim e, sobretudo, o povo brasileiro não sente da forma como esses xingamentos expressam. O povo brasileiro é um povo civilizado e extremamente generoso e educado. Podem contar que isso não me enfraquece", diz Dilma.

Segundo o Datafolha, a popularidade de Dilma está em queda desde o início do ano e hoje se aproxima do ponto mais baixo que ela alcançou, no auge das manifestações de junho do ano passado. Seu governo é considerado bom ou ótimo por 33% dos brasileiros, segundo o instituto.

A popularidade da presidente é ainda menor entre pessoas de renda mais alta, como as que provavelmente formavam a maioria do público no estádio –os ingressos mais caros para a abertura foram vendidos por R$ 990.

INAUGURAÇÃO

Ela participou nesta manhã da inauguração de um dos trechos do BRT, em Brasília. O sistema BRT do Distrito Federal foi anunciado para a Copa do Mundo, mas, dois dias antes do primeiro jogo do torneio em Brasília, ainda está em fase de teste. Outros dois trechos ainda não estão prontos: um está em obras, outro ainda não começou a ser construído.

Mesmo com o Mundial em curso, Dilma continuará seu périplo pelo país inaugurando obras inicialmente previstas para o evento esportivo. O argumento do Planalto é que, ao manter uma agenda intensiva de inaugurações de obras durante a Copa, a presidente sustenta o discurso frequente de que as melhorias não são para o torneio, mas para a população.

Nesta sexta, a presidente percorreu trecho de 10 km entre a estação Granja do Ipê e o terminal Santa Maria dentro de um dos ônibus articulados que operam na nova obra do DF.

Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma viaja no Bus Rapid Transit (BRT) do Distrito Federal, conhecido como Expresso DF
Dilma viaja no Bus Rapid Transit (BRT) do Distrito Federal, conhecido como Expresso DF

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