Folha de S. Paulo


Negociação não avança, e greve dos metroviários entra no 3º dia em SP

A greve dos funcionários do Metrô de São Paulo entra neste sábado em seu terceiro dia. Por volta das 13h, três das quatro linhas operadas pelo Metrô funcionavam parcialmente.

A linha 1-azul funciona entre as estações Ana Rosa e Luz. A linha 2-verde opera entre Ana Rosa e Clínicas. A linha 3-vermelha está aberta entre as estações Bresser-Mooca e Marechal Deodoro.

Apenas as linhas 4-amarela –que opera sob concessão– e 5-lilás funcionam sem restrições.

Segundo o Metrô, 28 das 61 estações operadas pelo governo estadual estão abertas nesta manhã, além das seis estações da linha 4-amarela.

Estações Ana Rosa, Bresser e Santa Cecilia amanhecem fechadas

Os metroviários de São Paulo decidiram na noite de ontem (6) manter a paralisação iniciada à 0h de quinta (5). A categoria se reuniu com representantes do Metrô, no TRT (Tribunal Regional do Trabalho), mas não houve avanço nas negociações. Com isso, a Justiça deve julgar a legalidade da greve no domingo (8).

Na sexta-feira, as três principais linhas de metrô funcionaram parcialmente e o trânsito voltou a registrar índices recordes pela manhã. Também houve piquete por parte dos grevistas, que acabaram sendo retirados da estação Ana Rosa por policiais militares. Foi usada bomba de gás e balas de borracha. Ao todo, 4,6 milhões de pessoas foram afetadas, segundo o Metrô.

Com a continuação da paralisação neste sábado, essa já é a greve mais longa da categoria ao menos nos últimos 15 anos. A segunda mais longa no período aconteceu em agosto de 2007, quando os metroviários pararam por dois dias.

Na reunião de ontem, os metroviários voltaram a propor a volta ao trabalho com a liberação das catracas, o que é rejeitado pelo Metrô. "Mantenho a proposta de catraca livre, amanhã nós vamos trabalhar se o governador liberar a catraca", afirmou o presidente do sindicato dos metroviários, Altino de Melo Prazeres Junior.

A categoria também marcou para hoje uma nova assembleia para discutir o andamento da paralisação. "Mas só vai ter mudança se o governador negociar. Mas ele não está indicando isso. (...) "Vamos segurar essa peteca [a greve] no mínimo até domingo", disse o presidente do sindicato.

Inicialmente, o sindicato dos metroviários pedia 35,47% de aumento. O valor foi então reduzido para 16,5% (mesmo valor pedido pelo sindicato dos engenheiros do Metrô) e então, na última audiência, para 12,2%. O Metrô ofereceu 5,2%; 7,98% e, finalmente, 8,7%.

Na reunião de sexta, o desembargador Rafael Pugliese chegou a dar um "sermão" às duas partes e disse que elas deveriam considerar o índice de 9% sugerido pela Justiça.

Mesmo assim, as duas partes permaneceram irredutíveis. O Metrô disse que chegou ao limite financeiro e não tem condições financeiras de elevar o reajuste para os índices propostos. O presidente do Metrô, Luiz Antonio Carvalho Pacheco, disse que consultou a diretoria e o secretário, e que não seria possível.

"Se o Metrô avançar além disse (8,7%) vai comprometer sua independência financeira em relação ao governo do Estado, e isso não podemos permitir", diz Manrich. Ele afirmou ainda que até o governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi consultado, mas há possibilidade de aumentar o percentual proposto.

Já o presidente do sindicato disse que a categoria não aceita menos de dois dígitos e que apostava em uma negociação, mas que o Metrô não se mostra disposto a negociar. "Em vez de tentar diminuir a tensão, o governo joga gasolina para tentar apagar o fogo", diz.

No término da audiência, Pugliese disse que "lamenta muito que não tenham chegado a um consenso, mas reitera que as partes reflitam e considerem uma possibilidade de acordo". Já Altino disse que além da greve, os piquetes também devem continuar.

Agora, a Justiça deverá julgar no domingo (8), às 10h, os quatro processos envolvendo as partes: dois dissídios coletivos de greve (um ajuizado pelo MPT-2 e outro pelo Metrô), um dissídio econômico (Metrô) e uma cautelar inominada (Metrô).

Segundo Pugliese, independente do resultado do julgamento, a legislação determina o fim da greve com a conclusão do processo. Caso contrário, os grevistas poderão ser punidos.

"Julgada a greve, seja ela abusiva ou não abusiva, ela está encerrada. Depois do julgamento do Judiciário, não é possível ficar na greve, tem que retornar ao trabalho. Manter a mobilização depois da decisão é um exercício irregular de direito, é um abuso de direito. As punições são todas as possíveis: civis, criminais e trabalhistas, cada qual com a sua repercussão", disse o desembargador Rafael Pugliese.

"São mais de 1.500 páginas [no processo], vamos ter que nos desdobrar de madrugada e no sábado para ler e preparar um estudo para verificar o que é possível fazer para esse julgamento, que é complexo. A principio está marcado para às 10h e vamos tentar cumprir", acrescentou ele.

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RAIO-X DOS METROVIÁRIOS¹

9.475 funcionários, sendo 2/3 responsáveis diretos pela operação:
3.136 operadores
1.206 oficiais de manutenção
1.147 seguranças
1.016 técnicos
Piso: R$ 1.323,55
Orçamento do sindicato: R$ 5,5 milhões/ano
Data-base: 1º de maio

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NEGOCIAÇÃO

Reivindicação dos metroviários: 12,2%, reivindicação anterior era de 16,5%

Proposta do governo do Estado: 8,7%, proposta anterior era de 7,8%

Último reajuste concedido: 8%, ante INPC de 7,2%, no ano passado

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HISTÓRICO DE GREVES NO METRÔ²
23.mai.2012
2 e 3.ago.2007
14.jun.2007
15.ago.2006
17 e 18.jun.2003
25 e 26.jun.2001
2.jun.2000
9.dez.1999
24.nov.1999

¹Em dez.2013
²Paralisações que acarretaram na suspensão do rodízio de veículos
Fonte: Metrô, Sindicato dos Metroviários, CET


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