Folha de S. Paulo


Transporte público é o setor com mais promessas realizadas

A maior parte das promessas feitas e cumpridas por governantes após as manifestações de junho diz respeito ao transporte público.

Além da redução da tarifa, que atingiu 15 capitais na época, muitas cidades introduziram melhorias como passe para estudantes, reformas de terminais e criação de novas linhas de ônibus.

Mesmo medidas mais trabalhosas, como a publicação de dados e a auditoria dos sistemas de transporte, foram realizadas em algumas cidades, como Curitiba e Manaus.

Em Salvador, a prefeitura encaminhou o processo de licitação das linhas de ônibus e reativou o Conselho Municipal de Transportes.

Em menor número, governantes também cumpriram promessas de ampliar a transparência.

A Câmara Municipal do Recife, por exemplo, nomeou um corregedor e um ouvidor, criou um portal da transparência e regulamentou a lei de acesso à informação.

O fim do voto secreto foi aprovado em algumas Assembleias e Câmaras. Outras realizaram concurso para diminuir o cargo de comissionados e reduziram o recesso parlamentar.

"A agenda positiva é boa, mas não significa que o resultado será bom", diz o cientista político Emerson Cervi, professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná), sobre o grande número de promessas não cumpridas.

Cervi identifica uma mudança na velocidade de resposta dos governos a partir das manifestações, que passou a ser mais rápida, mas não necessariamente eficaz.

"Eles têm dado alguma resposta, seja ela qual for. Mas, na maioria das vezes, é açodada e não atende totalmente às reivindicações."

Para o sociólogo Rudá Ricci, os tipos de promessas cumpridas e não cumpridas deixam transparecer que os políticos brasileiros não têm um espírito democrático.

"A grande maioria tem um perfil tecnocrático. Eles agem como empresários e têm uma grande dificuldade de pensar na sua ação como reflexo da demanda da sociedade", diz.

Por causa disso, ações de cunho econômico, como redução de tarifa e obras, estão entre as mais cumpridas. Já as medidas que alterariam a transparência e a tomada de decisões demoram mais para sair do papel.

"Não é uma coincidência. É uma leitura política", afirma Ricci.

Editoria de arte/Folhapress

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