Folha de S. Paulo


Com menor procura, BNDES deixa de emprestar R$ 1 bi a estádios da Copa

Com R$ 4,8 bilhões disponíveis para empréstimo para a construção de estádios da Copa, o BNDES viu sobrar em seu caixa R$ 1 bilhão devido à procura abaixo da esperada, da parte de Estados e empreendedores privados responsáveis pelas obras.

O valor não utilizado se aproxima do gasto para a reforma do Maracanã e do Estádio Nacional de Brasília.

E foi justamente o Distrito Federal que fez sobrar a maior fatia dos recursos reservados aos estádios do Mundial, já que sua arena foi a única a ser feita sem financiamento do BNDES.

Outros projetos também não usaram o valor total do crédito disponível para cada obra, cujo teto era R$ 400 milhões. É o caso dos estádios da Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul, por exemplo.

Com um projeto mais simples, a Arena da Baixada, em Curitiba, recebeu o menor valor: R$ 131 milhões.

Segundo especialistas e executivos ouvidos pela reportagem, os dados mostram que o BNDES não "calibrou" bem o orçamento, ao definir um teto único.

Alguns estádios não precisavam dos R$ 400 milhões, ou os empreendedores buscaram fontes alternativas de financiamento.

Pelo balanço final do programa de estímulo à construção das arenas, obtido pela Folha, a maior parte dos financiamentos foi concedida aos Estados ou com garantida deles.

Ao todo, o BNDES emprestou R$ 3,8 bilhões, 20,8% menos do que o orçamento originalmente previsto.

Rio, São Paulo, Amazonas, Minas Gerais e Pernambuco receberam o valor máximo do empréstimo para as obras.

No caso de Rio Grande do Norte e Mato Grosso (obra mais atrasada dentre todas), o valor bateu muito perto do limite máximo estabelecido pelo banco.

Internamente, causou estranheza o fato de Brasília, uma das principais sedes da Copa, não usar os recursos disponíveis do BNDES, que fechou os contratos com juros bastante favoráveis e abaixo das taxas de mercado, além de longos prazos de pagamento.

ITAQUERÃO

A dez dias da Copa, restam ainda, no BNDES, R$ 20 milhões a serem liberados à obra do Itaquerão.

Os recursos só chegam ao construtor após a chamada medição da obra, quando o banco avalia quanto foi gasto no projeto e o que foi, de fato, realizado –em arquibancadas, cadeiras, vestiários, acessos etc.– dentro do cronograma previsto.

Boa parte do atraso nas obras do estádio de São Paulo se deveu à demora em fechar o contrato final de financiamento, cujos recursos são do BNDES com o repasse e aval da Caixa, que assumiu o risco de inadimplência.

O projeto é de uma sociedade liderada pela Odebrecht, empreiteira também responsável pela construção do estádio.

De modo geral, o BNDES teve mais dificuldades nos empréstimos concedidos ao setor privado, como no caso dos estádios Beira-Rio (RS), Arena da Baixada (PR) e o Itaquerão. Isso porque as garantias apresentadas não foram suficientes ou não se enquadravam no padrão do banco.

A solução encontrada foi repassar o dinheiro por meio de outros bancos ou agentes estaduais de fomento –também públicos, como a Caixa.

Nessas operações, o risco de um eventual calote fica com o chamado banco repassador.


Endereço da página:

Links no texto: