Folha de S. Paulo


Leilão de florestas do Paraná fracassa por falta de interessados

Fracassou o leilão de 12 mil hectares de florestas pertencentes ao governo do Paraná, que seria realizado nesta segunda-feira (26). A licitação foi declarada deserta, já que não apareceram interessados.

O governo ainda não sabe se fará novo leilão ou se vai adotar outra solução para vender as florestas.

A gestão de Beto Richa (PSDB), que passa por uma crise financeira, pretende se desfazer das áreas, formadas por florestas plantadas e remanescentes de mata atlântica, para investir em outras frentes.

Hoje, o Instituto de Florestas do Paraná, autarquia que administra as florestas e que deveria ter lucro com a venda de madeira, é deficitário. O governo diz que a opção pelo leilão é "estratégica" e que prefere fomentar a atividade privada em reflorestamento a gastar dinheiro público com isso.

Nos últimos três anos, o Estado gastou R$ 8 milhões para manter o instituto. Seria necessário desembolsar outros R$ 18 milhões até que as florestas voltassem a dar lucro.

O governo do Paraná tem sofrido com a falta de dinheiro: desde o ano passado, vem atrasando o pagamento a fornecedores e suspendeu ou adiou obras e metas de governo. Richa se queixa do atraso na liberação de empréstimos que iriam financiar obras e serviços do Estado.

REAÇÕES

A venda irritou entidades ambientalistas do Paraná, que queriam que as áreas fossem transformadas em unidades de conservação ou mantidas até que voltassem a dar lucro.

Há a preocupação de que os remanescentes de Mata Atlântica, que ocupam cerca de metade dos hectares à venda, sejam destruídos. O governo diz que essas áreas estão em reservas legais ou áreas de proteção permanente, e não podem ser desmatadas, por lei.

O senador Roberto Requião (PMDB-PR), que antecedeu Richa no governo do Estado, entrou na Justiça contra a realização do leilão, mas teve seu pedido de suspensão negado pela juíza Fabiane Schapinsky, da 2ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba.

Requião sustentou que os imóveis iriam a leilão "a preço vil", abaixo do valor de mercado, e que isso traria danos ao patrimônio público.

Schapinsky entendeu que não há provas sobre eventuais irregularidades do leilão, tanto em relação ao preço das áreas quanto a possíveis danos ambientais, mas determinou que seja feita uma perícia técnica para verificar o valor dos imóveis e ativos florestais existentes.

O governo ainda não foi notificado da decisão. O secretário da Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara, sustenta que os preços foram levantados por técnicos e corroborados pela Procuradoria-Geral do Estado.

Segundo Ortigara, o governo mantém sua intenção de se desfazer das áreas. "O propósito continua o mesmo. Não queremos mais produzir madeira", afirmou.

Aniele Nascimento - 1997/Folhapress
Floresta protegida a cerca de 150 km de Curitiba, que utiliza o corte planejado de árvores
Floresta protegida a cerca de 150 km de Curitiba, que utiliza o corte planejado de árvores

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