Folha de S. Paulo


Paralisação de policiais civis afeta parte do país; em SP adesão foi baixa

Uma paralisação dos policiais civis afeta nove Estados nesta quarta-feira (21), incluindo São Paulo, onde a adesão é baixa. Em outras quatro unidades federativas, a categoria organiza protestos ao longo do dia.

A Cobrapol (Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis) convocou os policiais civis a suspenderem as atividades por 24 horas para cobrar dos governos mais investimentos na segurança pública. Eles reivindicam a modernização do modelo de polícia, aumento do efetivo e dos treinamentos.

O Sindicato dos Escrivães de Polícia do Estado de São Paulo informou que o ato afetou apenas cidades do interior, como Assis, Sorocaba, Bauru e Lins.

Segundo Heber Souza, secretário-geral da entidade, o fracasso se deve ao fato de os delegados não terem aderido ao movimento. "Isso acaba comprometendo a adesão de outras categorias por uma questão de hierarquia", disse.

Nos lugares onde houve paralisação em SP, só estão sendo feitos boletins de ocorrência de crimes graves, como latrocínios (roubo seguido de morte), homicídios e roubos.

Em São Paulo, escrivães e investigadores pedem um salário equivalente ao nível superior exigido para a carreira –R$ 5.000, valor inicial pago aos peritos. O salário inicial deles hoje é de R$ 2.200, diz o sindicato.

EM OUTROS ESTADOS

Em nove Estados e no Distrito Federal, os policiais civis aderiram à paralisação parcial. Na Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe, Santa Catarina e Rondônia, as delegacias funcionam nesta quarta somente para atender casos emergenciais.

Em Alagoas, Amazonas, Mato Grosso do Sul e Paraíba, a categoria protesta de outras formas, por meio de passeatas, panfletagens e conversas com a população.

Em Sergipe, os servidores do IML (Instituto Médico Legal) cruzaram os braços e cerca de cem policiais civis se reuniram de manhã nas escadarias da Secretaria de Segurança Pública, em Aracaju. Eles estão em estado de greve e pedem o pagamento de reajustes atrasados, promoção automática dos agentes, incorporação de gratificação, reintegração de agentes, entre outras reivindicações.

Na Bahia, os policiais civis aderiram à paralisação e atendem apenas flagrantes, registros de termos circunstanciados e levantamentos cadavéricos nas delegacias. Em Minas Gerais, queimaram um caixão e interromperam o trânsito na região central. Nas delegacias, atendem apenas os casos emergenciais.

Em Rondônia e no Pará, houve manifestação e o atendimento está restrito a casos emergenciais.

Apesar da mobilização dos policiais, a paralisação não é consenso entre os sindicatos estaduais. No Tocantins, por exemplo, o Sinpol (Sindicato dos Policiais Civis) informa que não participa do movimento nacional por causa de avanços que a categoria conquistou junto ao governo estadual, como o realinhamento salarial.

O mesmo ocorre em Pernambuco, onde o sindicato diz não haver nenhuma decisão em assembleia de parar as atividades durante um dia.

No Amazonas, policiais civis de folga fizeram uma passeata no período da manhã na região central. As delegacias funcionam normalmente, assim como em Alagoas. No centro da capital, Maceió, há panfletagem marcada para as 16h.

Em Mato Grosso do Sul, os policias civis informam a população que procura as delegacias sobre problemas enfrentados e reivindicações da categoria.

TRANQUILIDADE

Em Belo Horizonte, o movimento era pequeno no 16º DP, na Pampulha, nesta tarde. Emergências e flagrantes eram registrados, segundo os policiais, mas ocorrências de furto e perda de documentos, por exemplo, só serão feitas na quinta. À noite, contudo, o atendimento das ocorrências no Mineirão, que sediará o jogo Cruzeiro x Sport, serão recebidas normalmente.

No Departamento de Homicídios de Belo Horizonte, no bairro Lagoinha, o funcionamento era normal nesta tarde.

Na Bahia, os policiais civis atuaram nesta quarta com 30% do efetivo para atendimento a prisões em flagrante, levantamento cadavérico, crimes contra a criança e a vida.

Com a população alertada sobre a paralisação, o dia foi marcado por uma atípica tranquilidade nas principais unidades da Polícia Civil.

Na delegacia dos Barris, uma das mais movimentadas de Salvador, apenas uma pessoa compareceu à unidade para registrar ocorrência num intervalo de 30 minutos.

Vítima de roubo, o homem foi alertado sobre a paralisação, mas conseguiu ser atendido pelos policiais –não sem antes ouvir as críticas dos agentes ao governo baiano e as explicações sobre os motivos do protesto da categoria.

Além das demandas de reposição salarial, a falta de estrutura das delegacias também é alvo de críticas dos policiais baianos.

Colaboraram PAULO PEIXOTO, de Belo Horizonte, e JOÃO PEDRO PITOMBO, de Salvador


Endereço da página: