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Em sabatina, Tarso diz que subestimou crise na máquina do RS

Tuca Vieira - 23.ago.05/Folhapress
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), participa de sabatina
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), participa de sabatina

O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), pré-candidato à reeleição, disse nesta segunda-feira (19) que o maior erro de seu mandato foi ter subestimado os problemas da máquina pública que, segundo ele, foram herdados da gestão anterior.

A declaração foi dada durante sabatina promovida pela Folha, pelo portal UOL –ambos do Grupo Folha – e SBT. "Subestimei a crise em que estava a máquina pública. Estava muito mais sucateada do que pensávamos. Cometi um erro de avaliação que custou uma demora maior na realização de obras importantes", afirmou o petista.

Ele foi entrevistado pelos jornalistas Marcelo Coelho, apresentador do SBT Rio Grande, e Patrícia Britto, repórter da Folha. A sabatina também contou com perguntas de repórteres do SBT, telespectadores e internautas.

"Este governo está equacionado. O que nós vamos fazer no próximo [governo], para fazer essa transição até 2017? Abrir um novo espaço fiscal, nós já aprovamos o projeto de reestruturação da dívida na Comissão Mista, agora vai para o Senado, vai ser aprovado esse ano. E vamos captar recursos. Já nos abre crédito novamente de R$ 4 bilhões para continuar investindo em infraestrutura"

O governador afirmou que o problema da dívida do Rio Grande do Sul, que hoje representa 209% da receita, será equacionado quando for aprovado, no Congresso Nacional, o projeto que reduz o endividamento dos Estados.

A aprovação da proposta, que passou na Câmara e agora precisa ser avaliada no Senado, havia sido uma das condições colocadas por Tarso ao PT para concorrer à reeleição. Segundo o governador, o Estado utilizou recursos próprios para melhorar a remuneração do funcionalismo e conta com a ajuda do governo federal para investir em infraestrutura.

"Os nossos adversários adotaram uma outra visão: o Estado tem de pagar a dívida e ficar quieto. Chamavam isso de deficit zero, e o Estado paralisou. Hoje nós temos o maior crescimento industrial do país, e nós temos também o maior crescimento do PIB do país aqui no Rio Grande do Sul."

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IMPRENSA TUCANA

O petista declarou que existe uma campanha contra partidos e políticos que está sendo feita pela oposição ao governo Dilma com o apoio da imprensa. Segundo o governador, "as grandes cadeias de comunicação são democratas [militantes do DEM] ou tucanas e fazem campanha massiva" contra siglas alinhadas à esquerda.

"Em todas as categorias existem as pessoas com desvio de conduta. Ocorre que a campanha que se faz toma todos políticos como corruptos e todos os partidos como venais. Isso pode trazer um dano irreversível à democracia. Se essa tese vencer e se extinguir a politica, o primeiro passo é acabar com a liberdade de imprensa", afirmou.

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EDUCAÇÃO

Tarso rebateu ainda as críticas de que o Estado não cumpre o Piso Nacional do Magistério, que ele mesmo assinou quando foi ministro da Educação no governo Lula, de 2004 a 2005. "Ninguém percebe menos que o piso. Colocamos um completivo salarial para ninguém receber menos que o piso e demos o maior aumento da história, com 50% de ganho real em quatro anos", disse o governador.

O governo do Rio Grande do Sul questiona no STF (Supremo Tribunal Federal) a aplicação da lei do piso porque, segundo Tarso, o Congresso Nacional mudou o fator de correção do salário.

"A lei do piso que mandei como ministro previa correção pelo INPC [pelo índice da inflação], mas o Congresso mudou para ser corrigido pelo Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica). Foi uma demagogia corporativa que eles fizeram, num impulso eleitoreiro", disse o governador. Ele afirmou que, se o Supremo mantiver a correção pelo Fundeb, o Estado não conseguirá manter o atual quadro de professores.

VERBA PARA OBRAS DA COPA

Tarso defendeu também as isenções fiscais de R$ 25 milhões que o governo do RS concedeu para arcar com a instalação das estruturas provisórias no entrono do estádio do Beira Rio, que abrigará jogos da Copa do Mundo.

Segundo o petista, o Estado estava ameaçado de perder as partidas do Mundial se não tomasse essa medida, e deixaria de arrecadar de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões que serão gerados com o evento.

"Vamos fazer renúncia fiscal de um dinheiro que ainda não entrou, para não perder a Copa e poder ganhar com ela. O Estado não está bancando as estruturas, está fazendo um bom negócio", disse.

PRESÍDIOS

O governador condicionou o cumprimento da promessa de desativar o Presídio Central de Porto Alegre até o final do ano à conclusão de obras para a construção de novas unidades prisionais, mas disse que pretende começar a esvaziá-lo até agosto.

O presídio da capital abriga 4.500 pessoas, o dobro de sua capacidade e uma inspeção feita por uma comissão da OEA (Organização dos Estados Americanos) apontou, além da superlotação, problemas como falta de condições de higiene, de atendimento médico e de medidas preventivas contra incêndios.

"Se conseguirmos fazer todos os novos presídios, esvaziaremos o Presídio Central, mas as obras não andam como nós prevíamos. Temos ações do Ministério Público mandando construir os presídios e ações mandando parar as obras, questionando procedimentos", disse. Ele afirmou que houve ainda problemas contratuais herdados da gestão anterior e outros registrados em seu próprio mandato.

Ex-ministro da Justiça, Tarso chamou o sistema prisional brasileiro de "fábrica de delinquentes" e atribuiu parte do aumento da violência à indústria do entretenimento.

"Há toda uma estética televisiva e cinematográfica da morte, do estímulo da violência, do elogio da força e da superioridade da brutalidade. Isso é terrível para a juventude. Hoje uma pessoa mata para roubar um tênis. Na minha época, os atos de delinquência juvenil eram roubar fruta da casa do vizinho ou camisetas para o time de futebol", declarou.

Ele responsabilizou ainda a "arrogância" das potências internacionais e a realização de guerras que contribuiriam para o aumento da violência entre os jovens.

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PRECATÓRIOS

Tarso disse não poder se comprometer a pagar integralmente os precatórios, dívidas que o Estado contrai com os cidadãos após derrotas em processos judiciais. Afirmou que os pagamentos desses títulos em seu governo superam em 30% os que foram feitos pelas gestões anteriores, mas que será impossível zerar esse passivo. "Vamos continuar pagando, mas sanear os precatórios é impossível."

ALIANÇAS

Questionado se a diminuição de sua base de apoio na Assembleia Legislativa pode prejudicar a campanha à reeleição, ele afirmou que terá uma coligação de partidos maior do que em 2010, quando foi eleito.

Na ocasião, ele concorreu com apoio do PC do B e do PSB. A legenda socialista, embora ainda ocupe o cargo de vice-governador, com Beto Grill, irá apoiar um dos adversários de Tarso, José Ivo Sartori (PMDB), para construir um palanque no Estado para o presidenciável Eduardo Campos, do PSB.

Neste ano, caberá ao PTB indicar o candidato a vice de Tarso. Ele afirmou que os mais cotados para a vaga são o deputado estadual Luís Augusto Lara e a ex-prefeita de Santa Cruz do Sul Kelly Moraes. PC do B, PRB, PR e PPL completam a chapa até o momento. "Entramos com situação de vantagem", disse.

SABATINAS

O ex-prefeito de Caxias do Sul (RS) José Ivo Sartori (PMDB) será sabatina na terça-feira (20). Também estão confirmadas as sabatinas com o deputado federal Vieira da Cunha (PDT), na sexta (23), e com a senadora Ana Amélia Lemos (PP), na próxima segunda (26) –todos deverão disputar o governo do Estado.


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