Folha de S. Paulo


Ministro diz que 'esquerda' é usada pela 'direita' em protestos anti-Copa

O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) disse nesta sexta-feira (16), no Recife, que os protestos contra a Copa do Mundo são fruto de "passionalização" da "direita" que usa a "esquerda".

"O que aconteceu a partir de junho para cá, houve uma espécie de passionalização em torno da Copa que é difícil de entender", disse o ministro a uma plateia de integrantes de movimentos sociais e militantes petistas que participaram do seminário "Diálogos Governo-Sociedade Civil" no Recife.

Um pequeno grupo de manifestantes anti-Copa invadiu o auditório com faixa e cartaz contra a Copa. O ministro agradeceu aos manifestantes pela "demonstração de democracia", e o debate foi retomado em seguida.

"Se você observar bem, hoje, quem se coloca contra a Copa é, de um lado, uma militância generosa aqui representada, que eu respeito, e a direita, que não quer que esse projeto nosso dê certo", disse.

"Porque não convém que um governo popular seja bem sucedido", completou.

Para o ministro, "a esquerda acaba sendo usada pela direita para fazer uma porção de ações que a direita não tem coragem de fazer.

Carvalho disse ainda que a "direita" usa os meios de comunicação para divulgar "um monte de mentira".

O ministro defendeu a realização da Copa pois o "custo-benefício" valia a pena e que o governo "brigou muito com a Fifa".

"Tanto que eles [a Fifa] estão dizendo que é um inferno o Brasil. Por quê? Porque nós não permitimos que eles fizessem tudo o que eles queriam fazer", disse o ministro.

Carvalho ainda rebateu críticas de que o governo estaria realizando políticas de "higienização" por causa da Copa.

"Quem promove higienização é governo que não tem vergonha na cara", disse. "Tem prefeitura que faz higienização porque quer fazer. Não tem nada a ver com a Copa", afirmou sem citar qualquer município.

OBRAS INACABADAS

Carvalho minimizou o atraso das obras.

"Para nós, o que interessa é que as obras fiquem prontas para o povo. Não importa se em maio ou junho. Importa que, neste ano, nós entreguemos as obras que darão conforto ao povo e comece a mudar essa tragédia da mobilidade urbana que nós temos no Brasil", afirmou.

E, em mais um mea-culpa, o ministro admitiu que o governo não investiu em mobilidade.

"É verdade. Nós demoramos a investir na mobilidade urbana. Tivemos um governo que fez muita inclusão, mas apostou muito mais no transporte individual que no coletivo. Essa é uma autocrítica que nós fazemos e estamos agora correndo atrás do prejuízo."

Reportagem da Folha no início desta semana revelou que, a 30 dias do início da Copa, o país havia concluído menos da metade daquilo que se comprometeu a fazer para o Mundial.

De 167 intervenções anunciadas, apenas 68 estavam prontas, ou 41%. Outras 88 (53%) ainda estavam incompletas ou ficarão para depois da Copa. Além disso, 11 obras foram abandonadas e nem sequer sairão do papel.

O ministro disse ainda que "daqui para frente, qualquer governante do país vai ter que se acostumar com isso [protestos]" e que as manifestações "são uma vitória".

"Manifestação é democracia de grau superior."

Daniel Carvalho/Folhapress
O ministro Gilberto Carvalho enfrenta protesto contra a Copa durante evento no Recife
O ministro Gilberto Carvalho enfrenta protesto contra a Copa durante evento no Recife

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