Folha de S. Paulo


Protesto tem loja quebrada e barricada de fogo em SP; oito são detidos

O novo protesto anti-Copa, que aconteceu na noite desta quinta-feira, na região central de São Paulo, teve uma concessionária e agências bancárias depredadas, barricadas, bombas de efeito moral e ao menos oito pessoas detidas e cinco feridas.

A Polícia Militar chegou a apontar 20 pessoas detidas, mas afirmou posteriormente que elas foram averiguadas ainda no local, e oito foram detidas –sete adultos e um adolescente– e encaminhadas ao 78º DP (Jardins). Três delas assinaram um termo circunstanciado (crime de menor gravidade) e todas foram liberadas.

Veja como foram os protestos em SP e Rio

O ato começou de forma pacífica na praça do Ciclista, reunindo em torno de 1.200 pessoas. O grupo fechou a avenida Paulista e depois seguiu em passeata pela rua da Consolação. Durante a caminhada no sentido centro, porém, teve início o confronto, após um grupo de PMs com escudos passar pela calçada, ao lado dos manifestantes.

Um grupo se irritou com a presença da polícia e começou a xingar a PM. Também foram jogadas pedras e latas de lixo contra os policiais, que revidaram disparando bombas de gás. Com o tumulto, maior parte dos manifestantes dispersou, mas um grupo ainda colocou lixeiras, vasos de flores de cerâmica e galhos de árvores na rua da Consolação e ateou fogo.

Durante a confusão, uma concessionária da Hyundai, que é patrocinadora da Copa, foi depredada. Vidros da loja foram quebrados, assim como alguns carros do local. Há outras concessionária na via, mas não há registro de outros casos de vandalismo. Uma agência do banco Santander e outra da Caixa Econômica Federal também tiveram portas e vidraças quebradas.

Um ônibus também chegou a ser cercado por manifestantes. O motorista afirmou à Folha que desceu do coletivo, com os passageiros, por conta de uma ameaça de incêndio contra o veículo. Uma cabine da Polícia Militar foi pichada e tombada na av. Paulista, próximo ao cruzamento com a Consolação.

Segundo a Polícia Militar, o grupo detido estava com coquetel molotov e martelos na rua Augusta. Não foi informado se há menores de idade entre os manifestantes.

De acordo com Sidnei Roberto Nobre Júnior, 37, a confusão começou quando os policiais tentaram forçar a passagem pelos manifestantes. "Chegaram a pisotear uma menina. Eu vi. Foi aí que os manifestantes se revoltaram e começaram a jogar pedras. Pretendo ir na Corregedoria amanhã fazer uma denúncia", afirmou.

O defensor público Carlos Weis disse que acompanhava o protesto representando a entidade quando a PM disparou bombas de gás na direção de um grupo pequeno de manifestantes. "A gente estava na esquina da Consolação com a Paulista quando eles chegaram com tudo. Foi uma cena meio absurda porque tinha algumas lixeiras pegando fogo e a manifestação já havia se dispersado", disse.

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PROTESTO

O ato começou por volta das 17h30 de forma pacífica. Diferente de outros atos conta o Mundial, mulheres militantes do Comitê Popular da Copa seguiam à frente, e não um cordão formado por "black blocs".

As mulheres na frente são acompanhadas de uma segunda linha de pessoas que carrega uma coroa de flores em memória a operários mortos nas obras dos estádios. Atrás havia ainda membros de movimentos contrários a Copa, militantes do PSOL, alguns jovens integrantes do MPL (movimento do Passe Livre), entre outros.

Para as funcionárias públicas Neusa Maria Dursi, 66, e Neusa Maciel, 63, que saíram juntas do trabalho para ir à manifestação, os recursos gastos na Copa deveriam ter sido investidos em saúde e moradia. "Nós vivemos um período péssimo de falta de segurança e transporte e o governo federal deveria ter dado prioridade a isso", disse Neusa Maria.

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OUTROS ATOS

Esse não foi o único protesto registrado hoje na capital paulista. No período da manhã, ocorreram vários atos em diferentes pontos, com diversas reivindicações. Segundo a PM, mais de 4.000 pessoas participaram das manifestações, sendo a maior na região do Itaquerão, na zona leste de São Paulo. Onde sem-teto protestaram por moradia.

Já à tarde, cerca de 8.000 professores da rede municipal, segundo estimativa da PM, fizeram uma passeata da zona sul até o centro de São Paulo. A categoria está em greve desde 23 de abril. O grupo protestou no início da tarde na frente da Secretaria Municipal de Educação e, sem acordo, iniciou passeata em direção a prefeitura, na região central.

A professora de educação infantil Preciosa Maria Costa da Silva, 58, circulava pela manifestação com uma fantasia. Ela fez uma cabeça de papel machê, que mistura a figura de um palhaço e de Pinóquio, apenas para o ato. Sua principal reivindicação é por uma equipe que possa substituir os professores que têm jornada de seis horas ininterruptas.

"Já cheguei a usar fraldão para fazer xixi porque não podia ir ao banheiro e deixar mais de 20 crianças sozinhas na sala", diz ela, que dá aulas no CEU Perus, na zona norte. "Uma vez desmaiei na sala por ficar sem comer, e as crianças que me acordaram". Sem trabalhar desde o dia 23, ela afirma que continuara em greve até que seus pedidos sejam atendidos.

Os profissionais de educação pedem incorporação imediata do abono de 15,38% anunciado pelo governo. Além disso, a categoria pede que a prefeitura responda às demais reivindicações que incluem melhores condições de trabalho, fim das terceirizações, não implementação do Sistema de Gestão Pedagógica, entre outros.

Segundo o Sinpeem, maior sindicato da educação municipal, a prefeitura aceita discutir a incorporação apenas a partir de 2015, o que a categoria rejeita. Na semana passada, os professores chegaram a propor à administração municipal a incorporação escalonada começando agora e terminando em 2015, mas a proposta foi negada.

A prefeitura diz não ter recursos para a incorporação neste ano. O projeto de bônus de 15,38% ao piso, anunciado na semana passada pela prefeitura, prevê a incorporar do percentual aos salários a partir de 2015, de forma escalonada e sem definir a forma como ocorrerá.


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