Folha de S. Paulo


Com discurso do medo, PT estreia nova propaganda na televisão

O PT decidiu aprofundar o discurso do medo para tentar alavancar a pré-candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição. A estratégia irá ao ar na noite desta terça-feira (13) num comercial de um minuto de duração exibido nas TVs abertas.

As imagens mostram brasileiros empregados, com acesso a remédios, estudo e lazer, em contraposição a pessoas desempregadas, passando fome e pedindo dinheiro em semáforos. Seriam os "fantasmas do passado", o título do comercial petista.

Veja vídeo

Assista ao vídeo em tablets e celulares

Produzido e dirigido pelo marqueteito João Santana, responsável pelas eleições de Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e de Dilma (2010), o comercial tem uma imagem com textura de película de cinema e produção esmerada –até uma chuva cenográfica é usada para mostrar uma pessoa desempregada e em busca de ocupação. Ao fundo, a trilha sonora tem tom fúnebre.

O locutor alerta: "Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo o que conseguimos" Ao final, diz: "Nosso emprego de hoje não pode voltar a ser o desemprego de ontem. Não podemos dar ouvidos a falsas promessas. O Brasil não quer voltar atrás".

É uma alusão a propostas feitas por candidatos da oposição ao Planalto, como Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

Aécio tem falado em algumas de suas exposições que é necessário tomar "decisões impopulares" na economia. Campos promete buscar uma inflação anual de 3% a partir de 2019 –o que Dilma já classificou como política recessiva.

A estratégia usada agora pelo PT guarda semelhança com a utilizada em 1998 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que tentava se reeleger e enfrentava dificuldades com sua taxa de popularidade e o estado geral da economia.

Na TV, FHC falava de um "mundo turbulento" por causa da crise internacional daquela época. O Brasil não podia parar, dizia, referindo-se ao então adversário direto, Luiz Inácio Lula da Silva. O comercial de 1998 sugeria que só o tucano seria preparado para continuar a combater a inflação, recém-debelada. A abordagem deu certo. O PSDB venceu a disputa.

Em 2002, a mesma jogada falhou. Naquele ano, o PSDB tentava eleger José Serra, apresentado como o mais capacitado para manter a estabilidade econômica dos anos FHC. Num comercial, usou a atriz Regina Duarte dizendo explicitamente que sentia medo ao pensar numa mudança de forças no poder –saindo os tucanos e entrando um petista.

Lula era o candidato de oposição pela quarta vez consecutiva. O publicitário do petista à época, Duda Mendonça, criou o slogan "a esperança vai vencer o medo". O PT ganhou.

Nas eleições seguintes, foi a vez de o PT adotar a mesma estratégia dos tucanos, mas com gradações diferentes. Em 2006, já com João Santana de marqueteiro, Lula insinuou em seus comerciais que o PSDB queria voltar ao poder para privatizar muitas empresas, inclusive a Petrobras.

Em 2010, a propaganda petista que elegeu Dilma sugeriu que tucanos fariam novas privatizações e que poderiam reduzir ou acabar com programas sociais como o Bolsa Família.

O pré-candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos, criticou a propaganda afirmando que o PT começa a dar sinais de "desespero" e que essa tática pode acabar tirando Dilma do segundo turno.

"Vejo um certo tipo de desespero. Acho que aquilo vai ser um grande tiro no pé. Com esse tipo de campanha, os que acham que vão colocar medo, vão encorajar o povo a tirar a presidente Dilma inclusive do segundo turno", disse Campos.

Colaborou FILIPE COUTINHO, de Brasília


Endereço da página:

Links no texto: