Folha de S. Paulo


Ex-diretor de estatal paulista é investigado

Há mais de um ano a Corregedoria-Geral da Administração de São Paulo investiga a evolução patrimonial de Gilmar da Silva Gimenes, ex-diretor administrativo e financeiro da Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado).

Ele deixou o cargo em março deste ano para ser candidato a deputado estadual pelo PSDB e é amigo há mais de 20 anos do atual secretário de Planejamento do Estado, Julio Semeghini (PSDB-SP), que o levou para o governo.

Gimenes trabalhou nas quatro campanhas de Semeghini a deputado federal. Diz tê-lo feito sempre de graça. Ele foi ainda assessor na Câmara do atual secretário. Nomeado para a Prodesp no início do governo, passou a ser alvo de investigação no fim de 2012 após declarar ter ganho sozinho um prêmio na loteria Timemania.

Segundo Gimenes, o bilhete premiado foi comprado em setembro de 2012 em sua própria lotérica —é um dos vários negócios nos quais ele aparece como dono. De acordo com a Caixa Econômica Federal, o prêmio pago no sorteio do bilhete foi de R$ 26,5 milhões. Menos de dez dias após o valor ter sido pago, Gimenes teve problemas com a Polícia Federal.

Em 4 de outubro de 2012, a três dias da eleição, a Justiça recebeu denúncia anônima afirmando que havia distribuição de dinheiro a eleitores na casa dos pais de Gimenes, na cidade de Fernandópolis (a 553 km a noroeste de São Paulo), que também é berço político de Semeghini.

A PF foi acionada e encontrou R$ 40 mil em dinheiro, dentro de um armário. O valor foi apreendido e, um inquérito, aberto. O nome de Gimenes não foi divulgado na ocasião, já que o caso correu em sigilo.

Aos investigadores ele relatou ter ganhado na loteria e afirmou que o dinheiro estava na casa de seus pais porque compraria gado e faria uma reforma no local. "Um murinho maior", como relatou depois à Folha.

Disse ainda ter como comprovar a origem do dinheiro —afirmou ter sacado no caixa de sua lotérica e apresentou vales preenchidos a mão. A Polícia Federal também questionou familiares de Gimenes sobre a origem do dinheiro, mas eles não souberam explicar.

A PF encerrou o inquérito dizendo não ter elementos para comprovar compra de votos. Na peça, os investigadores ressaltam a possibilidade de os valores terem ligação com crime de lavagem de dinheiro, mas não chegam a ampliar a apuração. Meses depois, o caso foi arquivado.

Dias após a apreensão, Gimenes decidiu comunicar à corregedoria que fora premiado na loteria. Foi Semeghini, um dos principais auxiliares do governador Geraldo Alckmin (PSDB), quem levou a documentação à corregedoria.

A Prodesp é uma empresa pública que fica sob o guarda-chuva da Secretaria de Gestão e é responsável pela operacionalização de diversos programas, como o Poupatempo, vitrine do governo.
Procurada, a corregedoria se limitou a informar que a investigação está em curso.

PROPRIEDADES

Gimenes é proprietário de longa lista de bens. Só em São José do Rio Preto (a 438 km a noroeste da capital paulista), declara ter cerca de 20 imóveis, entre apartamentos e salas comerciais. Aparece ainda como dono de propriedade comprada por R$ 3,1 milhões.

Ele também é dono de três franquias de empresa de equipamentos de segurança. Após 2012, adquiriu outros bens, como um terreno por R$ 3,5 milhões. Em São Paulo, além da lotérica, tem dois apartamentos, um deles comprado em 2013 por R$ 4,8 milhões.

OUTRO LADO

O ex-diretor da Prodesp Gilmar da Silva Gimenes disse que não há irregularidades em sua evolução patrimonial e que comprovou a origem dos recursos a todos os órgãos que lhe solicitaram.

Ele disse ainda que os casos não possuem qualquer relação e ressaltou que a investigação sobre suposta compra de votos foi arquivada e seus R$ 40 mil, devolvidos pela PF após ordem judicial. Gimenes diz que não tinha candidato naquela eleição e ressalta que o secretário de Planejamento de São Paulo, Julio Semeghini, de quem confirma ser amigo, sequer estava concorrendo.

O ex-diretor afirma ainda que comunicou à corregedoria sobre o prêmio porque teria que fazê-lo, de qualquer modo, no início de 2013, e para evitar especulações. Ele atribuiu as denúncias a pessoas "invejosas" e disse ter sido abençoado por Deus.

À Folha Semeghini disse que Gimenes o auxiliou em campanhas. Afirmou não ter tido informações detalhadas sobre a investigação da PF em 2012 e que sequer estava em Fernandópolis quando houve o "problema". O secretário disse que seu ex-funcionário o procurou e pediu que fizesse "uma ponte" com a corregedoria.


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