Folha de S. Paulo


Confissão sobre morte de Malhães foi forjada, diz família de caseiro

A família do caseiro Rogério Pires, acusado de participação no assalto à casa do coronel Paulo Malhães que resultou em sua morte, afirma que o depoimento foi forjado.

Segundo uma das irmãs de Pires, que pediu anonimato, ele disse que estava sendo coagido a assumir a culpa. "Ele me ligou e disse: Eu não fiz nada, mas não adianta falar que eu não fiz, porque eles querem que eu diga o que eles querem'", disse a irmã.

Malhães, um coronel reformado que havia admitido à Comissão da Verdade a participação na tortura e no assassinato de presos políticos durante a ditadura militar (1964-1985), foi encontrado morto em seu sítio em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no dia 25 de abril.

A pedido da Comissão da Verdade do Rio, a Defensoria Pública assumiu ontem a defesa do caseiro Rogério Pires. Delegado assistente na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, Willian Júnior disse que Pires acredita ser inocente porque não matou Malhães nem colocou as mãos em uma das oito armas de calibres diversos que o militar guardava em casa.

Porém, segundo o delegado, há quatro fatores cruciais que incriminariam Pires. "Ele era o único que conhecia a rotina de Malhães; sabia das armas; foi convidado por um de seus irmãos a participar do roubo; e, no dia do crime, um irmão ligou para Rogério avisando que o bando estava seguindo para o sítio", disse.

A família alega que os irmãos acusados –um detido e dois foragidos– não têm antecedentes criminais. "O Rogério tinha trabalho fixo e o Rodrigo [Pires] e o Anderson [Pires] eram pedreiros", disse a mãe, Maria de Fátima. Ela se diz assustada: "Há muito P2 [policiais da área de inteligência] andando por aqui de moto e carro. Nos sentimos vigiadas o tempo todo".

Segundo uma irmã do caseiro, a família foi aconselhada por um policial a "abandonar tudo e ir embora da localidade". Willian Júnior disse que a intenção do policial que falou em milícia era prevenir a família. "Nenhum bandido quer ver a polícia no seu quintal. Se lá for área de milícia ou do tráfico, as coisas podem se tornar difíceis".

A 2ª Vara Criminal de Nova Iguaçu ordenou a quebra de sigilo telefônico dos suspeitos de matar o coronel. Segundo a viúva do militar, Cristina Batista Malhães, os invasores usaram o telefone da residência para falar com pessoas que não estavam na casa.

Colaborou Bernardo Mello Franco, do Rio


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