O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) chamou de "vagabundo" e mandou à "puta que te pariu" um blogueiro filiado ao PT que o questionou sobre seu suposto envolvimento nos casos de formação de cartel e corrupção no Metrô de São Paulo. O episódio ocorreu na terça-feira (6).
Após o episódio, Rodrigo Grassi, conhecido na internet como Rodrigo Pilha, acabou detido pela Polícia Legislativa do Senado, mas já foi solto.
O blogueiro aproximou-se de Aloysio, dizendo querer saber sobre a importância da instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito). O senador perguntou para onde seria a entrevista. "Blogosfera. Botando Pilha.com", respondeu Grassi. Ainda calmo, o senador disse que as CPIs são importantes para "investigar problemas no âmbito no governo".
Grassi rebateu a afirmação e perguntou por que, então, em São Paulo, o PSDB barrava investigações sobre as denúncias de formação de cartel e pagamento de propina na expansão do metrô.
"Existem investigações em São Paulo que são muito profundas em relação a essa história do Metrô", disse o senador, afirmando que o caso é apurado pela Procuradoria do Estado, a Corregedoria, o Ministério Público e a Justiça.
"Independente disso, e o suposto envolvimento do senhor?", continuou Grassi. "Vá para a puta que te pariu", respondeu Aloysio, indo para cima do blogueiro.
Everton Rheinheimer, ex-diretor da Siemens e principal delator do caso do cartel de trens, disse à Polícia Federal que Aloysio era um dos políticos que tinham "conexão" com as empresas dos consultores Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira, que para a PF intermediaram o pagamento de propinas. Há um procedimento sobre o caso no STF (Supremo Tribunal Federal), mas Aloysio Nunes não está entre os investigados. À Folha, Aloysio sempre negou envolvimento no caso.
Grassi gravou a entrevista e divulgou em sua página no Youtube. "Essa é a liberdade de imprensa do PSDB", escreveu na descrição do filme.
No vídeo, ele aparece correndo do senador, que dispara em sua direção com diversos xingamentos. "Já vou botar na internet", disse. À Folha, Aloysio disse que o petista foi preso após a discussão, por ter jogado uma garrafa plástica de água nele, quando já estava saindo estava saindo do Senado. A reportagem ainda não obteve resposta do Senado sobre o motivo alegado pela polícia para a prisão do blogueiro.
"Eu não tenho sangue de barata. O vídeo que está na internet foi editado. Ele me insultou. Me acusar de ligação com falcatrua para mim é tão grave quanto se ele tivesse me chamado de filho da puta", disse o tucano.
O senador admite ter ido "pegar ele". Disse que queria levar Grassi à segurança do Senado, o que teria acontecido só após ele lhe jogar a garrafa plástica. Nas redes sociais, militantes do PT cobram abertura de processo contra ele no Conselho de Ética por quebra de decoro. "Foi uma ação em defesa do meu decoro, da minha respeitabilidade", afirmou Aloysio.
Aloysio é cotado para ser vice na chapa do candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG). A Folha tentou contato com Grassi, mas até o momento não obteve resposta. Em sua página em uma rede social, o blogueiro disse ter sido preso "ao fazer perguntas 'inconvenientes' ao Senador Aloysio Nunes! Em nenhum momento o agredi! (...) Na 3ª pergunta ele perdeu a linha, me xingou e partiu para a agressão!"
"Me perseguiram e me arrancaram de dentro do ônibus com o intuito de me proibir de publicar o vídeo! Foi complicado mas consegui publicar", escreveu.
| Reprodução/YouTube/rodrigopilha | ||
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| O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) em vídeo feito por blogueiro |
HISTÓRICO
Grassi já foi se envolveu em outro episódio polêmico com uma autoridade. Ele foi um dos três militantes petistas que hostilizaram o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, na saída de um restaurante, em Brasília, no mês passado.
Na ocasião, Grassi chamou Barbosa de "tucano" e "autoritário", e gritou em defesa do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP), condenado e preso por envolvimento no mensalão.
Após a provocação a Barbosa, Grassi publicou um vídeo em sua página do Youtube. Sem camisa e de óculos escuros, chama Barbosa de "coxinha" e diz que o também ministro do STF Gilmar Mendes "não é boa coisa".
Grassi, que era assessor da deputada Erika Kokay (PT-DF), perdeu o cargo após o episódio. Segundo reportagem de "O Globo" publicada ontem sobre sua prisão, ele chegou a telefonar para a parlamentar da Delegacia do Senado, mas não teria tido resposta.