Folha de S. Paulo


'Não está tudo bem' com a inflação no país, diz Dilma a jornalistas

Em jantar de mais de quatro horas com jornalistas na noite de terça-feira (6) no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma Rousseff reiterou que a inflação está sob controle, mas reconheceu que "não está tudo bem" em relação aos preços.

Em uma defesa enfática de sua política econômica, a pré-candidata do PT à reeleição chamou de "ridícula" à crítica mais pessimista sugerindo que o país entrará em uma crise a partir do ano que vem e, ao contrário do que afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, garantiu que não haverá aumento de impostos.

"É absurda essa história de o Brasil explodir em 2015. É ridículo. Pelo contrário, o Brasil vai bombar", afirmou. "Lembra da 'tempestade perfeita'? Eu passei por tempestade perfeita em setembro, outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro", ironizou, referindo-se à tese de conjugação de erros na gestão da economia doméstica com a influência negativa de fatores externos.

"Agora vocês não vão me aprontar dizendo que o Brasil vai explodir em 2015...Vocês acreditam em contos de fadas", reagiu.

Na conversa, com dez jornalistas mulheres de alguns dos principais veículos de mídia impressa e TV do país, a presidente negou que a inflação explique o mau humor da população, que em pesquisas de intenção de voto vem demonstrando preocupação com o cenário econômico.

"Tem uma coisa que explica o mau humor, que é a comparação entre taxa de crescimento de bens e taxa de crescimento de serviços", disse Dilma, acrescentando nunca ter visto, à exceção de 2010, eleições nacionais sem "uma baita" dose de mau humor.

Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma recebe jornalistas mulheres de alguns dos principais veículos de mídia impressa e TV do país para jantar no Palácio da Alvorada
Dilma recebe jornalistas mulheres durante jantar no Palácio da Alvorada, em Brasília

Argumentou que a população sempre demanda por melhores serviços, mas que estes dependem de investimentos de longo prazo, que não teriam sido feitos em nível suficiente no passado, segundo ela. Dilma citou como exemplo os aeroportos.

INFLAÇÃO

Ao repetir que a inflação, no Brasil, está sob controle, ela afirmou ser "contra inflação em qualquer grau", e que o preço dos combustíveis, item que impacta diretamente nos índices de preços, não pode depender do humor dos mercados internacionais. "Não existe nenhuma lei divina que diga que o preço do petróleo vai flutuar de acordo com os humores do mercado internacional."

CAMPOS E AÉCIO

A petista alfinetou, ainda que sem citar nomes, seus principais adversários na corrida presidencial. Sobre Aécio Neves (PSDB), que nos últimos tempos vem defendendo a necessidade de um maior rigor fiscal e chegou a reconhecer que, se eleito, tomaria decisões impopulares, ela afirmou: "Tem gente dizendo que tem medidas impopulares. Tem que ter cuidado para que medida impopular não se transforme em medida antipopular".

Já sobre Eduardo Campos (PSB), que recentemente defendeu uma meta de inflação menor que a atual, de 4,5%, ela disse: "Aí vem uma pessoa e diz que a meta de inflação é 3%. Faz uma meta de inflação de 3%... Sabe o que significa? Desemprego lá pelos 8,2%. Eu quero ver como mantém investimento social e investimento público em logística [com meta de 3%]. Não segura fazer isso".

CPI

Apesar de o governo ser acusado pela oposição de manobrar para evitar a instalação de CPI para investigar a Petrobras, Dilma negou temer a investigação no Congresso.

"Não tenho temor nenhum de CPI. Não devo nada, o governo é de absoluta transparência". Ela afirmou, porém, não ter dúvida de que há componente político na comissão, focado em atingi-la.

A Petrobras está no centro de uma polêmica desde que a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, passou a ser questionada e investigada.

A presidente disse ainda não se arrepender de ter afirmado que não teria aprovado a compra de Pasadena se soubesse da cláusula contratual hoje considerada lesiva à estatal e que foi omitida do parecer técnico entregue ao Conselho da Petrobras na época da decisão da compra.

"Não me arrependo, não falei nada que eles já não soubessem", disse, acrescentando: "Portanto, é uma tolice meridiana dizer que todos os contratos tem isso [a cláusula polêmica], disse ela.

Para Dilma, a omissão destas cláusulas no resumo que baseou a compra da refinaria pode ter sido "um equívoco", mas não ato de má-fé. "Até onde eu sei, não teve má-fé [por parte da diretoria]. Pode ter equívoco, mas não teve má-fé".

"VOLTA, LULA"

Sobre o movimento pelo "volta, Lula", conclamando que o ex-presidente a substitua nas urnas, a petista afirmou que nunca teve este tipo de conversa com ele e que sua relação com Lula é "mais forte do que se imagina". "Tenho certeza que o Lula me apoia neste exato instante", afirmou.

Sobre o mercado financeiro ter celebrado sua queda nas pesquisas de intenção de voto, ela foi seca: "sinto muito." Em seguida, afirmou que seu pronunciamento nacional feito por ocasião do Dia do Trabalho, em 1° de Maio, não foi agressivo, como apontaram os partidos que lhe fazem oposição. "A oposição pode falar o que quiser de mim e eu não posso falar nada?"

IMPRENSA

A presidente Dilma demonstrou incômodo com o tratamento dado pela imprensa em relação ao governo federal em comparação com o tratamento dado para a oposição. "Vocês são bastante oposicionistas hoje." "É só ver fatos recentes", afirmou, sem dizer quais. "Não estou falando de investigações que só atingem o governo federal".

Ela não quis dizer se estava se referindo aos escândalos Alstom e Siemens envolvendo os governos do PSDB em São Paulo. "Aqui, a gente precisa ter um couro de jacaré ou de tartaruga [para aguentar]."

IMPOSTO

Dilma foi na contramão do que afirmou o ministro Guido Mantega: "Não vai ter aumento de imposto", disse. "Passamos três anos e meio da nossa vida sem aumentar imposto." Em entrevista ao jornal "O Globo", o titular da Fazenda admitiu a possibilidade de elevar impostos sobre bens de consumo para compensar a alta de despesas com o recente reajuste nos benefícios do Bolsa Família. "Acho que ele falou em tese", disse a presidente.

ÁGUA E ENERGIA

A presidente fez questão de afirmar que o problema do fornecimento de água em São Paulo está ocorrendo porque o governo do Estado não investiu. "Em São Paulo, água ou energia só segura se investir." Depois, disse que "qualquer tentativa de repartir com o governo federal a responsabilidade [pela falta de água] em São Paulo é má fé."

REGULAÇÃO DA MÍDIA

Cobrada por setores do PT para encaminhar o projeto que regula a mídia profissional, Dilma posicionou-se contra a regulação de conteúdo, mas mostrou-se favorável à ideia de "regulação econômica". Ela, porém, não esclareceu se estava disposta a fazer mudanças na legislação nesse sentido. Disse apenas que tem regulação econômica na Inglaterra e em Portugal, sinalizando que esses podem ser exemplos para o Brasil.

"Sou contra qualquer controle de conteúdo da imprensa e da internet." E acrescentou, respondendo a uma pergunta de uma das jornalistas: "Nos Estados Unidos têm regulação econômica, minha filha."

COPA

Declarando verdadeira simpatia por "Felipão", técnico da seleção brasileira, a petista deu apenas um palpite, ao ser questionada sobre "quem não poderia faltar" no time: "Neymar". E aproveitou o assunto Copa para elogiar o lateral Daniel Alves, que comeu uma banana jogada por um torcedor do Villareal durante uma partida. "Acho que ele respondeu bem."

Dilma tenta convencer a Fifa a apresentar, durante a abertura da Copa e, se possível, no início das partidas, uma mensagem contra o racismo.


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