Folha de S. Paulo


Mulher do caseiro suspeito de matar Malhães está há sete dias sem vê-lo

A mulher do caseiro Rogério Pires, 27, supostamente envolvido na morte do tenente-coronel Paulo Malhães, que morreu durante assalto em sua residência dia 25 de abril, não consegue localizar o marido e nem obter informações por parte da Polícia Civil do Rio.

A Folha localizou Marcilene dos Santos, 21, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, nesta terça-feira (6) e obteve com exclusividade o relato dela e de Helenice dos Santos, 55, sogra de Pires. Elas se dizem desamparadas por parte do poder público e não acreditam que Pires tenha participado do crime. Marcilene confirmou ainda que o marido é totalmente analfabeto.

"Fiquei sabendo da prisão pela TV e a última vez em que falei com Rogério foi quando a Polícia esteve em nossa casa para levá-lo a depor. Até então ele era apenas testemunha e à noite disseram que havia participado do crime. Desde então não nos falamos mais", disse.

Marcilene procurou o marido na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense e no presídio de Bangu. "A Polícia não informa onde ele está", disse. Pires está preso em uma cela da Divisão Antissequestro da Polícia Civil, no Leblon, zona sul do Rio, onde foi visitado nesta terça-feira (6) por três parlamentares que integram a Comissão de Direitos Humanos do Senado.

O delegado Pedro Medina, titular da DHBF, disse que Pires foi autorizado a telefonar para a família depois de ser preso no dia 29, antes mesmo da transferência para a DAS, no dia seguinte. "Tanto ele falou com a família que os dois irmãos dele que são suspeitos desapareceram, sumiram do mapa", disse o policial.

FILHOS

Marcilene dizia ao casal de filhos de 2 e 3 anos que o pai havia viajado, mas a menina assistiu a uma reportagem de TV sobre o caso no domingo (4) e passou a dizer esporadicamente que "o pai está preso".

Ela alega que a família não tem condições de contratar um advogado e que o salário do marido está fazendo falta à família. Pires ganhava R$ 200 por semana de Malhães.

"Ele trabalhava de segunda a sexta-feira em horário comercial e dava completa assistência à casa e aos filhos. Nada faltava. Aos sábados e domingos ele até brincava com as crianças e não costumava sair do bairro", disse.

Marcilene acrescentou que mesmo aos finais de semana Pires costumava ir ao sítio do militar apenas para tratar dos animais. Ela ressaltou ainda que ele tinha um bom relacionamento com as irmãs e esporadicamente ligava para saber como passavam.

A família de Pires mora em Paciência, em Campo Grande, zona oeste do Rio. Os irmãos dele são suspeitos de participação no roubo que resultou na morte de Malhães. Rodrigo Pires e Anderson Pires Teles estão com a prisão decretada e são considerados foragidos.

Marcilene diz não acreditar na versão da Polícia a respeito dos irmãos do marido, mas afirma não ter contato com eles. "Ele [Pires] tinha um celular onde constavam os números dos irmãos e irmãs, mas perdeu o aparelho. Eu não tenho o telefone de nenhum deles", disse.

Além disso, ela declarou que não havia motivos para o roubo, porque Malhães gostava muito do caseiro e da família dele. "Ele chamava nossa filha de neta", disse.

Pires e Marcilene moravam com o pai e a mãe dela. A casa está sendo mantida por meio dos R$ 235 que ela recebe do Bolsa Família e dos R$ 400 que o pai recebe de pensão.

MORTE

No dia 25 de abril, Malhães foi encontrado morto com sinais de asfixia, num dos cômodos de seu sítio, em Nova Iguaçu (RJ). Na ação dos criminosos, a mulher do militar e o próprio caseiro foram amarrados em quartos distintos, após a invasão da casa.

O coronel reformado havia prestado, um mês antes, depoimento à Comissão da Verdade no qual reconhecia ter participado de torturas, mortes e ocultação de corpos de vítimas da ditadura militar (1964-1985). Membros de comissões da Verdade nacional e do Rio suspeitam de "queima de arquivo".


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