Folha de S. Paulo


Senador critica atuação da polícia do Rio no caso Paulo Malhães

O pré-candidato do PSOL à Presidência, Randolfe Rodrigues, criticou nesta segunda-feira (5) a atuação da Polícia Civil do Rio na investigações sobre a morte do coronel reformado Paulo Malhães.

O senador disse não acreditar na tese de crime comum, sustentada pelos delegados que atuam no caso. Malhães morreu um mês depois de admitir que torturou e matou presos políticos na ditadura militar.

"O caminho tomado pela polícia me preocupa muito. Desde o começo, estão tentando descartar qualquer hipótese que não seja a de latrocínio simples", afirmou Randolfe.

Ele questionou a versão de que o caseiro Rogério Pires Teles premeditou o crime. Teles foi preso após confessar a participação no caso, segundo a polícia. "Não posso aceitar isso. Está me parecendo uma versão moderna da história de que o culpado é o mordomo", ironizou o parlamentar.

Além de Randolfe, os senadores João Capiberibe (PSB-AP) e Ana Rita (PT-ES) estarão no Rio nesta terça-feira (6) para ouvir o caseiro e o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso.

"Não é um caso comum. Vários indícios nos levam a ter mais dúvidas do que certezas", disse Capiberibe. "O coronel fez revelações inéditas à Comissão da Verdade. É possível que seu assassinato seja uma tentativa de intimidação para evitar que outros militares falem", acrescentou.

MORTE

No dia 25 de abril, Malhães foi encontrado morto com sinais de asfixia, num dos cômodos de seu sítio, em Nova Iguaçu (RJ). Na ação dos criminosos, a mulher do militar e o próprio caseiro foram amarrados em quartos distintos, após a invasão da casa.

O coronel reformado havia prestado, um mês antes, depoimento à Comissão da Verdade no qual reconhecia ter participado de torturas, mortes e ocultação de corpos de vítimas da ditadura militar (1964-1985). Membros de comissões da Verdade nacional e do Rio suspeitaram de "queima de arquivo".

De acordo com a investigação policial, trata-se de um caso de latrocínio (roubo seguido de morte) com a participação do funcionário do próprio militar reformado –o caseiro teria caído em contradição em seus depoimentos à polícia e foi detido ontem, após a Justiça expedir um mandado de prisão contra Pires no plantão judiciário.

Segundo o delegado Maia, os criminosos estariam atrás das armas que Malhães colecionava; ele afirmou já ter solicitado ao Exército a listagem das armas que o coronel reformado possuía.

A polícia disse ainda que o caseiro negou ter ficado com os assaltantes na presença do Malhães e afirmou não saber se a morte do militar reformado teria sido acidental ou proposital. Segundo o delegado, Pires teria demonstrado tristeza com a possibilidade de Malhães ter sido assassinado e afirmou que o coronel lhe ajudava quando tinha necessidades financeiras.


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