Folha de S. Paulo


Chefes militares sabiam do atentado do Riocentro, diz Comissão da Verdade

A Comissão Nacional da Verdade afirmou nesta terça-feira (29) ter reunido indícios de que altos oficiais do Exército sabiam previamente do atentado do Riocentro, em 1981, no fim da ditadura militar (1964-1985). A ação tinha como objetivo frear o processo de redemocratização do país.

"As explosões do Riocentro foram fruto de um minucioso e planejado trabalho de equipe, que contou com a participação de militares, especialmente ligados ao I Exército e ao SNI (Serviço Nacional de Informações)", afirmou a CNV em relatório sobre o caso.

O documento, divulgado no Rio, classifica o episódio como um ato de "terrorismo de Estado contra a população". O coordenador da comissão, Pedro Dallari, ressaltou que ao menos outras 50 bombas explodiram no mesmo contexto, entre 1980 e 1981.

"Ficou claro que se tratava de uma política de Estado, e não de uma ação isolada de alguns lunáticos ou psicopatas", disse. "O atentado do Riocentro fez parte de uma política de Estado patrocinada com agentes públicos, com recursos públicos, contra a população."

Convocado a depor, o coronel Wilson Machado, que estava no Puma onde uma bombas explodiu no estacionamento do Riocentro, não foi encontrado pela Polícia Federal em sua casa, na zona oeste do Rio. A comissão informou que ele será obrigado a falar em breve.

O grupo também quer ouvir o general Newton Cruz, então chefe da agência central do SNI, que alegou razões de saúde para não depor. Em entrevista à Folha em março, ele disse ter sabido do atentado com cerca de duas horas de antecedência e sustentou a versão de que os militares não tinham a intenção de matar ninguém.

TESTEMUNHA

O corretor de imóveis Mauro Cesar Pimentel, 52, prestou depoimento como testemunha. Ele estava assistindo a um show no Riocentro e afirma ter socorrido o coronel Machado após a explosão acidental a bomba que matou o sargento Guilherme do Rosário.

Pimentel disse ter sido ameaçado após falar do caso pela primeira vez, em 2011. Ele afirmou que voltou a sentir medo após a morte do coronel reformado Paulo Malhães, na ultima quina-feira. "Recebi um email dizendo 'Ficou calado por 30 anos, agora vai ficar pelo resto da vida'. Se eles iam matar 27 mil pessoas no Riocrntro, por que não podem matar mais um?", disse.

O corretor afirmou ter sido chamado ao Palácio Guanabara por um assessor do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, mas disse que não pretende pedir proteção policial.


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