Folha de S. Paulo


Avaliação de Lula sobre mensalão é 'troço de doido', diz ministro do STF

Reprodução/RTP
Imagem de entrevista do Lula
Ex-presidente Lula durante entrevista para televisão portuguesa

A avaliação feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que o julgamento do mensalão teve "80% de decisão política" é um "troço de doido", segundo o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Marco Aurélio Mello.

"Não sei como ele tarifou, como fez essa medição. Qual aparelho permite isso? É um troço de doido", disse.

As críticas de Lula ao julgamento do mensalão foram feitas pelo petista a uma rede de TV portuguesa. Além de dizer que somente 20% do processo foi baseado em decisões jurídicas, o ex-presidente alegou que o mensalão não existiu e disse achar que um dia "essa história vai ser recontada".

Para Marco Aurélio, o ex-presidente está exercendo o seu "sagrado direito de espernear". Ele espera, porém, que a tese defendida por Lula não ganhe ressonância na sociedade.

"Só espero que esse distanciamento da realidade não se torne admissível pela sociedade. Na dosimetria [tamanho das penas] pode até se discutir alguma coisa, agora a culpabilidade não. A culpa foi demonstrada pelo Estado acusador", disse.

Roberto Jayme-12.set.2013/UOL
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Marco Aurélio Mello
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Marco Aurélio Mello

O ministro ainda rechaçou outro ponto criticado por Lula. Segundo o ex-presidente, o julgamento do mensalão foi "um massacre que visava destruir o PT"."Somos apartidários, não somos a favor ou contra qualquer partido", destacou Mello.

Além disso, o ministro ainda lembrou que, no final da primeira fase do mensalão a composição do STF era majoritariamente formada por ministros indicados por Lula. Por isso, em sua avaliação, as críticas do ex-presidente não fecham.

"Ele repete algo que não fecha. No final do julgamento eram só três ministros não indicados por ele. A nomeação [de ministros] é técnico-política e se demonstrou institucional. Como eu sempre digo, não se agradece com a toga".

A Folha também ouviu outros três ministros que, reservadamente, concordaram com Mello no que diz respeito ao "direito de espernear". Eles lembraram que a suprema corte americana também recebe críticas de políticos e avaliaram que esta não é primeira nem deverá ser a última vez que Lula irá reclamar do julgamento do mensalão.

Além disso, há avaliações entre os ministros que o ex-presidente pode estar buscando um discurso político para defender seu partido do mensalão devido às eleições que se aproximam.

REPERCUSSÃO

Nome do PSDB para o Planalto, o senador Aécio Neves (MG) também criticou nesta segunda declaração dada por Lula a uma rede de TV portuguesa sobre o julgamento do mensalão. O tucano disse que, ao criticar o STF, o ex-presidente Lula "não faz bem à democracia" nem "honra a história de um homem que foi presidente da República".

"Essa declaração não engrandece o currículo do ex-presidente. Pela importância do cargo que ocupou, ele deveria ser ele o primeiro a zelar pelo respeito às nossas instituições. Foi uma declaração infeliz", concluiu Aécio.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o direito de criticar a condenação de petistas no processo do mensalão. Mas ressaltou que a "ação penal está encerrada".

"A ação penal 470, que tramitou perante a corte mais alta do país, está encerrada, com o julgamento claro, objetivo, transparente, respeitado o contraditório e o amplo direito de defesa", disse Janot, em visita a uma escola pública no Rio, como parte do programa de visitas do Ministério Público a unidades de ensino do país.


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